PENSANDO. Pensando. Eu penso em muitas coisas muitas vezes, nas pessoas, em muitas pessoas. Eu lembro de muitas coisas de vinte, trinta ou quarenta anos como se fossem ontem. As coisas que acabaram e as que continuam, alegres, tristes, coisas que fazem pensar ainda mais e chega a doer a cabeça. Eu penso muito. Quando estou na rua, penso em como sou minúsculo perto dos edifícios, penso na tristeza que sinto pelo sofrimento de pessoas que eu nunca vi, mas sinto. Em quantas vezes dei meu incentivo, apoio e força para quem sequer me tratou como gente, ou que pisou na minha mão quando eu estava agarrado ao precipício? Quantas vezes fui incompreendido, subestimado e sabotado covardemente? Também fui roubado. Uma vez me acusaram injustamente de roubo, mas provei a injustiça. Na rua, eu vejo um lindo dia frio de sol e penso que nos dias bonitos também acontecem enterros e assassinatos e crimes horríveis. Então continuo minúsculo diante dos grandes edifícios, sou um número republicano qualquer, um CPF que anda pelas ruas cheio de dívidas, sem amigos nem apreços, sem uma única pessoa que se comova com isso - o que não deixa de ser libertador. Meus colegas de escola são avós, estão com suas belas famílias em garbosos endereços enquanto eu vivo escondido. Então penso em arte, música, trechos de filmes, trechos de livros, frases, coisas bonitas que algumas garotas disseram para mim e nunca mais vão se lembrar. Penso que ando em qualquer lugar em que ando sou um estrangeiro, mas fui expulso de minha terra natal por ser pobre. Ah, eu lembro de frases e conversas, diálogos inteiros de muito tempo atrás - alguém também se lembra disso? Lembro quando eu namorava os LPs na porta da loja Billboard, e agora eu torço para que eles sejam vendidos em minha lojinha. Pensando. Pensando. Será que ainda vou ter tempo de viver momentos divertidos ou a porta já se fechou? Eu quer escrever muitas coisas mas não vai dar. Queria também falar coisas, mas não tenho quem ouça - e isso é também libertador. Penso em como era contente com os feriados, a praia nublada, a dupla de praia até escurecer e não enxergarmos mais a bola na areia - um casal transando à beira mar, um nacional fumando um becão. Eu penso na minha família e aí sinto uma facada no peito. Os meus amigos de verdade, poucos, estão mortos muito antes do devido - eram jovens. Me restou um ou outro amigo no WhatsApp. Lembro dos colegas no futebol. Os jogos no Maracanã, meu Deus! A casa do Fred - Ah, Ah, tinha uma das garotas cujo nome não lembro, mas que sempre implicava comigo até que um dia ela riu muito, então paramos os dois e nos aproximamos até não trocarmos o beijo que merecíamos, tão jovens - 1989. Lembro das noites nos acampamentos escoteiros, lembro dos dias nas quadras de futsal dos Bombeiros, das conversas no bar Sniff's e sinto dor porque está tudo longe demais e irrecuperável. "Será que é tudo isso em vão?". "Até quando esperar?". Eu penso nos meus pais e no meu irmão, sinto muita falta deles. Penso nos garotinhos tristes que volta e meia vejo chorando numa esquina, aí me lembro que tirando minha velhice e meu corpo cansado, eu também sou um garoto que chora. Eu penso no futuro e tenho medo, penso no passado e agradeço por ainda estar aqui, mesmo que com tanta tristeza e medo - afinal, era isso ou nada. Pensando mesmo para quê? Será que faz algum sentido?
@p.r.andel