Em 2024, o Rio de Janeiro saiu da pasmaceira musical e soltou um verdadeiro rojão sonoro, daqueles típicos de avant-garde que a cidade foi especialista no passado. Tudo aconteceu com o lançamento de “Bosasova Bova”, álbum que marca a volta do Zumbi do Mato à cena musical depois de encerrar as atividades em 2013. Desde o retorno, a banda tem feito shows concorridos no cenário underground carioca e o novo álbum está disponível nas plataformas digitais.
Provavelmente a melhor maneira de descrever o som do Zumbi (mas nem de longe única) vem de seu próprio perfil na Wikipedia. Vejamos:
“Zumbi do Mato é uma banda brasileira de rock experimental/noise rock do Rio de Janeiro famosa por suas canções bem-humoradas e surreais, escritas num estilo de fluxo de consciência e repletas de alusões mordazes à cultura popular – focando particularmente em aspectos como a literatura/filosofia ocidental, a vida cotidiana no Brasil, e figuras públicas da vida real e personagens fictícios de diversas formas de mídia –, technobabble, escatologia, nonsense, e elaborados jogos de palavras e trocadilhos. Tendo amealhado um forte séquito cult ao decorrer dos anos 1990 e 2000 que perdura até os dias atuais, o grupo teve diversas formações durante sua existência”.
Quando o ZDM encerrou as atividades, disse o jornalista Silvio Essinger em artigo de Eduardo Rodrigues para O Globo:
"Naqueles anos 1990, em que tudo o que uma banda do rock underground carioca poderia almejar de mais nobre era ser mais ultrajante que os seus pares, o Zumbi do Mato era uma banda ímpar. Não tinha guitarra, cultuava o lado maldito do rock progressivo (Van der Graaf Generator, King Crimson), interessava-se genuinamente pelo que a cultura tinha de mais trash e conseguia conciliar a escatologia (sempre desconcertante) com referências para lá de eruditas do avant-garde. Histórias bizarras de seus shows abundam - afinal, essa foi a banda que fez sua fama sendo uma não-banda, não-rock, não-MPB, não-vendável, não-qualquer coisa e, ao mesmo tempo, ligada em tudo. O Zumbi tocou no Garage, no Circo Voador, na livraria Berinjela, no Retiro dos Artistas... Merecia a Cidade das Artes, mas não houve tempo. Fica a poesia: Tiroteio do esqueleto sem cabeça / é um clássico da MPB brasileira / é a morfologização patética dos fonemas / é a p* que pariu te mandando ir se f*."
Agora o Zumbi do Mato está de volta. Em “Bosasova Nova”, o grupo mostra no álbum a mesma potência que marcou sua trajetória no underground carioca. Os fãs, que sempre idolatraram a banda mesmo quando sua volta parecia impossível, vibram com os novos shows e, inevitavelmente, com a atmosfera musical desafiadora que marcou o Rio alternativo nos anos 1990 e 2000. Aliás, o Zumbi é 100% desafio em todas as perspectivas de sua obra, absolutamente atual.
Não deixe de conferir canções como “Essa criança (ela vai ao shopping)”, “Miojo puro”, “Dor física” e “Frio do caralho”. A mão genial de Zé Felipe e a performance irreverente de Lois Lancaster trazem para novas (e velhas) gerações uma das sacadas musicais mais ricas, divertidas e criativas que o underground carioca já viu.
Vida eterna ao Zumbi do Mato!