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Monday, July 14, 2025

Morte e sol

Há muitos anos atrás, quase 40, atendi o telefone em casa num sábado à tarde. Do outro lado, a notícia do suicídio de meu tio. Eu tinha 18 anos, não sabia lidar com aquilo. Meus pais ficaram naturalmente devastados. Um ano antes, meu tio chorou no telefone ao me ouvir pela primeira vez desde bebê - ficamos sem contato entre 1970 e +- 1986. Graças a ele, eu pude fazer um ano de faculdade paga. Era um bom homem, cujo grande crime foi espalhar panfletos contra a ditadura em 1969, o suficiente para ser preso, torturado (perdeu a audição de um ouvido) e avisado de que deveria deixar o país. Já tinha sofrido o diabo antes disso, como órfão de pai e mãe, separado da irmã em colégio interno. Depois da reconexão de anos, tínhamos a esperança de que ele viesse para o Brasil. Deu tudo errado e pior, a morte piorou a doença alcoólica de meu pai, tornando ainda mais difícil um cenário de muita pressão e sofrimento. Então nunca conheci meus primos e tudo se perdeu. Foi uma derrota irreparável, mas a vida é assim mesmo. Vinte e cinco anos e um dia depois daquela tristeza, nasceu o PANORAMA TRICOLOR, que é uma das coisas legais que tenho feito e que, de alguma forma, serve para homenagear meu tio. A vida é assim: dores, derrotas, suspiros, pequenas vitórias. Ultimamente viver tem sido muito difícil, mas seguimos lutando até por falta de alternativa. O que resta é viver, fazer o bem e não esperar absolutamente nada de ninguém, porque este é o país da ingratidão. Cumprir uma missão, seja lá com que objetivo. 

@p.r.andel 

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