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Wednesday, January 31, 2018

o poema da grande farsa

   Radiohead, The Bends, 1995

  You can force it, but it will not come
  You can taste it, but it will not form
  You can crush it, but it’s always here
  You can crush it, but it’s always near
  Chasing you home
  Saying
  Everything is broken
  Everyone is broken
  You can force it, but it will stay stung
  You can crush it as dry as a boné
  You can walk it home straight from school
  You can kiss it, you can break all the rules
  All the rules
  But still
  Everything is broken
  Everyone is broken
  Everyone is
  Everyone is broken
  Everyone is
  Everything is broken
  Why can’t you forget?
  Why can’t we forget?
  Why can’t you forget?

  xxxxxxxxxx

  Você pode forçá-lo mas isso não virá
  Você pode prová-lo mas isso não vai se consolidar
  Você pode pressioná-lo mas isso sempre estará aqui
  Você pode pressioná-lo mas isso sempre estará por perto
  Te seguindo até sua casa dizendo
  Tudo está quebrado
  Todo mundo está quebrado
  Você pode forçá-lo mas isso continuará incomodando
  Você pode esmagá-lo tão seco quanto um osso
  Você pode levá-lo à casa direto desde a escola
  Você pode beijá-lo, você pode quebrar todas as regras
  Todas as regras, mas ainda
  Tudo está quebrado
  Todo mundo está quebrado
  Todo mundo está
  Todo mundo está quebrado
  Todo mundo está
  Tudo está quebrado
  Por que você não pode esquecer?
  Por que nós não podemos esquecer?
  Por que você não pode esquecer?

  xxxxxxxxxx

  RAY CHARLES


  duas e meia da manhã
  o sono está morto
  a noite está viva
  ray charles canta na TV
  e parece vivo demais
  cego, enxerga tudo:
  os tons, as matizes
  america the beautiful
  ray charles é cego
  mas enxerga tudo no mundo
  correm os metais de Montreux
  you make me feel so Young
  meu país é um sequestro
  meu povo, perdição
  meu time é a mais alegre
  das tristezas
  meu povo, exílio
  existe ódio nas esquinas
  a plateia bate palmas
  a eterna voz ainda ecoa
  é impossível ser feliz sem música
  meu país acabou
  deixe seu recado no whatsapp
  ray charles me redime
  da dor e tristeza insone

  xxxxxxxxxx

  O POEMA DA GRANDE FARSA

  ATENÇÃO: NÃO RECOMENDADO
  PARA IDIOTAS. PROVOCA EFEITOS
  COLATERAIS. LEIA A BULA.

  todo esse ódio veio de longe e vai dar merda quem ri desse mar de ódio ainda vai lembrar quando   tomar a pedrada nos cornos do ódio um tricolor com ódio do outro e meia dúzia de picaretas   sonhando com a vitória meia dúzia de picaretas sonhando com emprego meia dúzia de picaretas   pensando em si e o resto que se foda o amor tem sempre a porta aberta tem dois fluminenses um é    eterno das lembranças do amor da luta dos abraços até nas horas mais difíceis perdendo ou   ganhando   o outro acabou aquele dos abraços e de uma só torcida acabou parabéns panfleteiros do   ódio parabéns candidatos do ódio parabéns situacionistas do ódio parabéns higienistas da   arquibancada do ódio parabéns irresponsáveis do ódio o Fluminense vai ganhar e perder ruim ou   bom vai sobreviver mas uma coisa acabou morreu já se encontra em adiantado estado de   decomposição o respeito entre os irmãos de arquibancada está tudo morto e podre as vísceras   rachadas as carnes dilaceradas os vermes navegando por entre os restos de músculos o cheiro de   merda lancinante o fedor do ódio o imbecil que sorri do incêndio enquanto a vítima faz seus últimos   acenos da bela janela francesa antes do braço desaparecer no meio da fumaça preta o Fluminense   está vivo vai viver o ódio venceu apenas os idiotas comemoram somente os idiotas semeiam o ódio   todo idiota tem no ódio a sua única fonte de sobrevivência viver o Fluminense sem intermediários   sem filhasdasputas que só pensam em lucro sem filhasdasputas que só pensam em cargos sem   filhasdasputas que só pensem em si só os idiotas se acham superiores com ódio nosso futuro   recomeça o grande cão late na porta do umbral esperando por todas as almas insanas e sementes   ódio mil vezes ódio estúpido eis a grande farsa o ódio é a farsa todos são fluminenses muitos são   cada um por si outros pensam na morte do outro na destruição do outro mas só quem morre é o   Fluminense todos serão infelizes para sempre os sócios estão mortos os torcedores estão mortos as   carnes estão putrefatas O FLUMINENSE vai viver vai sobreviver vai seguir seu caminho o ódio   precisa morrer quem semeia o ódio está morto e não sabe todos devem renunciar todos devem   renunciar a grande farsa todos estão neste mesmo prédio em chamas e uns acham que só os outros   vão morrer o poder está morto a contestação está morta a luta continua amanhã é um novo dia é   preciso protestar contra tudo é preciso tirar o Fluminense da morte mas isso não pode ser a morte de   uma legenda uma torcida um abraço uma arquibancada viva a Young Flu viva a Fôrça Flu viva o   Fluminense dos amores das vitórias improváveis dos timinhos ganhadores morte aos falsos aos   hipócritas às contas mentirosas aos CNPJs morte à sonegação morte aos defensores do ódio ESTÁ   TUDO MORTO ENTERRADO podre burro estúpido ignorante reacionário imbecil há de haver um   jogo há de sempre haver Fluminense resta abortar todos os intermediários interesseiros de merda   resta desprezar todos os bandidos de computador de merda resta refundar um clube uma torcida um   time uma pátria um amor só os idiotas são felizes só os idiotas odeiam só os idiotas não sabem   renunciar FORA TODOS DE DENTRO DE FORA DE CIMA DE BAIXO viva Nelson Rodrigues   morte a todos os seus imitadores de merda morte ao ódio morte ao ódio RENUNCIEM TODOS DE   DENTRO DE FORA DE CIMA DE BAIXO chega de ódio chega de incompetência chega de   internet chega de livros chega de blogs chega de redes imbecis chega de famosos de anônimos de   bizarros vamos celebrar a estupidez humana o Fluminense vive respira luta e é um poema   verdadeiro  não uma farsa de quatro mil quando milhões o esperam chega de empresários de merda   chega de funcionários de merda chega de traição em nome do amor SÓ OS IDIOTAS SÃO   FELIZES venha que o que vem é perfeição Fluminense sem intermediários time stand still time   stand still MANDAR O ÓDIO OS CARGOS A EMPÁFIA A INCOMPETÊNCIA E 2019 À   MERDA o caos é aqui a morte é aqui os inimigos riem de toda a nossa estupidez nós mesmos nos   matamos nós mesmos nos odiamos nós mesmos nos fuzilamos e sequer nos conhecemos o cu do   mundo hora de refundar um clube um time uma torcida sem escola as crianças mortas não existe   salvador da pátria todos são mentirosos ao assumirem esse papel o ódio deve morrer SÓ OS   IDIOTAS SÃO FELIZES OU INSENSÍVEIS não abracei meu pai morto num jogo do Fluminense à   toa só a poesia liberta do ódio e dos ignorantes vamos celebrar nossa destruição só o Fluminense é   importante morra o ódio o hino fala de amor não sejamos estúpidos todos devem renunciar ao ódio   aos cargos às aparências há um prédio em chamas espuma de sangue a brilhar só bandidos podem   comemorar esta dor esta estupidez todos devem renunciar ao que estão fazendo todos devem podem   precisam todas as políticas devem morrer mais do mesmo é a morte na janela incendiada em nome   do ódio somos todos merda terra arrasada a estupidez de quem agride a estupidez de quem não ouve   a estupidez de quem não estende a mão a estupidez de quem ganha dinheiro às custas da desgraça   do Fluminense não vender o amor próprio não vender as próprias palavras não alugar o próprio   caráter oh santa estupidez a estupidez de quem quer conseguir emprego no Fluminense aparecer no   Fluminense botar uma melancia no pescoço enfiar a melancia na cloaca os bilionários podem   chacoalhar suas joias ódio é merda ódio é merda tudo precisa mudar a partir deste momento dentro   fora aqui aí lá aqui aí eu era falso porque tinha ódio e morri então o ódio morreu e morto estou cada   vez mais vivo O FLUMINENSE VIVE viverá um dia tão bonito também pode ser o dia de um   velório triste não precisará da estupidez de quem cantou esta canção oxalá aleluia todos os versos   são         tristes

 (este poema contém trechos de “Perfeição”, Renato Russo, 1994; “O cu do mundo”, Caetano   Veloso, 1989; Jards Macalé, “Só morto”, 1969)

Friday, January 26, 2018

city heartbeat

o coração da cidade
quente, forte, nublado
com seus meninos sem
esperança

os mendigos vivem a morte
em vida


e se tornam invisíveis
a quem os vê como lixo
obra do diabo, chorume
gente que não presta!


os grandes edifícios cheios
de indiferença e rancor
dos pavimentos altos não
se escuta o som do térreo


os transeuntes vêm e vão
muito ocupados com música

as grandes filas têm solidão
pouco se percebe o que está ao redor


o coração da cidade
é um peito vazio, perdido
acabrunhado
e assim vamos todos
juntos escrevendo


o futuro

@pauloandel

Wednesday, January 24, 2018

porque escrevi FDP

a essência
do fdp contemporâneo
brasilêro

"sem textões.
tudo o que eu tinha a dizer sobre o que aí está.
tem estado. vai estar.
jesus não tem dentes no país das panelas.
o estado mínimo é a escrotidão máxima.
o mais incrível de tudo:
apesar de escrever publicamente
há vinte anos, e de ter vendido alguns
poucos milhares de livros sobre football
consegui mil downloads desta obra grátis
em cinco dias não pelo talento que sei ter
não pela ideia de tributar o grande filósofo
Alberto Pimenta, mas
porque escrevi FDP na capa do livro e
ele é muito mais do que isso.
o brasileiro médio da vitrine do shopping
aquele que repete como papagaio
todas as nossas manchetes farsantes
é ou não é um FDP admirável?
o brasileiro médio é o escravo que tem
tesaum pela chicotada do capitão
do mato.
do mato.
mato!
fiz esse livro de graça
para esfregar na cara dos pobres
diabos
é melhor já ir se acostumando
com o quinto dos infernos, a casa do caraio
o ódio, a fome, a merda
os corpos em decomposição da alma
amontoados debaixo das marquises
muito obrigado aos que me inspiraram:
vocês são três letras
do fundo do meu coração.
paredón para quase todos."

Sunday, January 21, 2018

os miseráveis

os miseráveis choram
seus mortos e vivos
estendendo suas mãos
para esmolas de fraternidade
que jamais virão:
os escravos de hoje
são os de ontem, ontem
e muito tempo atrás.
os indiferentes não
têm tempo a perder:
querem apenas viver bem
em nome do tímido deus
não criaram o mundo
e assim explicam as suas
indiferenças
os escravos sentem o açoite
n'alma enquanto vivem
sem uma esmola de paz


Wednesday, January 17, 2018

Wednesday, January 03, 2018

onze anos sem minha mãe

Quem se lembra do que estava fazendo há exatos onze anos neste momento? Eu cochilava às nove da noite e não sabia que minha mãe estava morta no quarto. Meu pai só percebeu à meia noite e então passei a pior noite de toda a minha vida. Era cedo demais: ela mal completara 61 anos. Morreu dormindo, como merecem os melhores.

A dor mudou minha vida. Eu já escrevia desde os anos 1990 mas não levava muito a sério - a ponto de ter desperdiçado a oportunidade de colaborar com uma revista dirigida por dois vencedores do Prêmio Jabuti. Mas em 2007 tudo mudou: para ocupar a minha cabeça cheia de tristeza, passei a escrever, escrever, escrever e, quase num golpe de sorte, publiquei meu primeiro livro. De lá para cá, já ganhei muitos abraços na rua e em jogos do Fluminense, emocionei muitas pessoas que me agradecem reservadamente, virei amigo dos meus ídolos e o próprio Flu me homenageou. Ok, isso também atraiu gente falsa, interesseira e oportunista, mas só recebe bajulação e pedradas quem está na moda. Foi mal...

Conheci grandes pessoas, fiz rir e chorar muito, juntei amigos - o que nem todo mundo suporta -, e tenho sido um ótimo escritor, sem falsa modéstia. Para quem acha futebol um assunto menor, os Cenas do Centro do Rio aí estão.

A minha diferença primordial para muita gente deslumbrada por aí está num ponto: não comecei nisso em busca do mundo dos likes, dos compartimentos e da "fama" (quantas pessoas são realmente famosas num mundo com transbilhões de pessoas?). Nada disso: quando saiu meu primeiro livro, há sete anos, eu nem tinha Facebook - e o fiz por sugestão de amigos e da editora, para divulgar o trabalho.

O que me trouxe até aqui, quinze livros depois, entre solos e coautorias, foi a tentativa - em vão - de ocupar a minha cabeça depois de perder minha mãe. Isso nunca mais vai mudar e vale para meu pai, minha família, as pessoas queridas. Às vezes choro, todo dia tenho uma saudade de Madredeus, eu me pego pensando em algum momento e então escrevo.

Foi por isso que, um dia, muitos de vocês me conheceram. A todos, um grande abraço e muito obrigado.