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Tuesday, October 30, 2018

poema para john lydon I



(contém citação de "Bichos Escrotos", 1986)

respeitáveis senhoras e senhores/vocês apoiaram um golpe sujo/rasgaram 50 milhões de votos/destruíram dez milhões de famílias/ajudaram a demitir 30 milhões de pessoas/xingaram/berraram/sambaram com suas patéticas camisas da CBF corrupta/e tão fascista quanto vocês/fingiram que o mineirinho não fez nada/e comemoraram a prisão do pernambucano como se fosse um gol/como se fosse um gozo/cagaram e andaram para o mundo/seguiram firmes no ódio aterrorizante/até elegerem alguém com a cara de vocês/a cara cínica e escrota de vocês/enquanto pobres e gays e crianças foram mortos/para celebrar o mito da podridão com rajadas para o alto/e agora virem com essa conversa fiada/de estarmos no mesmo avião/de estarmos no mesmo barco?/ não não não/ sejam oncinha pintada/zebrinha listada/coelhinho peludo/vão se fuder!/aqui só tem bicho escroto/cuspindo o barco e o avião em cima de vocês/cada caceta uma sentença/o diabo mora em cada um/um dia a conta chega e vamos cobrar de todos vocês/façam do mito um supositório/e usem ao bel prazer/vão se fuder!/junto com suas grandes corporações/e canais de TV/deixa arder que vai ter guerra para todos/não é só pobre que vai morrer/o fascismo late pelos cantos procurando comunismo/não empurrem essa conta para os outros/o garçom atendeu ao pedido de vocês

Saturday, October 20, 2018

amori I

decerto já não me chama
porque há outra estação
mas talvez ainda sonhe
com versos que
posso dizer
e me deseje com ardor
e fé
- favos de lascívia e delicadeza
- belezas da vanguarda e do sexo
nós, tão solitários
dentro de nós
procuramos a imensidão
do amor:
ele está nos sorrisos e lágrimas
nas mãos estendidas
e conversas prazerosas
- os amigos que cativamos
e esperamos o amor por
todas as partes
varrendo desesperanças
e opressões
o amor nas asas dos pequenos
pássaros na praça
e nos brinquedos coloridos
no camelô
o amor num lanche modesto
numa lanchonete modesta
no coração da cidade lunar
as paixões que se namoram
e também se desencontram
- e velórios em dias de puro sol!
precisamos de mais abraços
e saber que o outro sempre sofre
nossa humanidade em risco
no quarto ela pensa
no que eu disse e escrevi
e forja seu grande romance
ah, amor que acorda e cochila
espia a vida na gare
ou numa calçada infiel
os corações são outros
e precisam de cor e afago
não podemos ser
indiferentes
- mãe e filhinho de mãos dadas
- o sol que celebra e mói
- a brincadeira
até que a pátria seja bondade
com suas armas incineradas
a mão do homem não é tristeza
mas saudação e amizade
o amor até que todos os meninos
tenham escolas e calçados
e brinquedos
os trabalhadores com bons dentes
e casas honestas
e comida
os doentes bem tratados
nos hospitais
há amor em todos os actos
precisamos de mais abraços
e camaradagem
e beijos que foram apenas sonho
até aqui
o amor é uma cidade
precisamos de ventres livres
e dignidade
o amor há de nos redimir
nas paixões desveladas
no abraço dos irmãos distantes
pelos pequenos encantos
quando todos forem dignos
absolutamente dignos
sem depender de classes
ou roupas ou carros
- celebremos nossos abraços
enquanto há tempo e os irmãos
estão longe das masmorras
precisamos enxergar o amor:
pátria, novas famílias
e uma velha liberdade que
tanto temos procurado
um dia, ela vai entender
que tudo era amor
e então a pátria será povo
o pobre será beleza
o abraço, a maior de todas
as nossas riquezas
e o outro não será apenas outro
mas nosso amigo, um grande
irmão - meu, teu irmão
nós seremos um abraço
e então a pátria será
verdadeiramente
livre

@pauloandel

poema braziu-ziu-ziu

pátria amada 
gayzista comunista 
neoliberal 
onde negros, homossexuais 
nordestinos e pobres 
vibram e votam em 
quem tem ódio 
de negros
homossexuais
nordestinos e pobres
onde pobres 
e assalariados
acham que são ricos porque 
têm carro e celular 
e por isso apoiam 
quem tem ódio de pobres 
e assalariados 
onde maconheiros votam
em quem quer matar 
maconheiros
onde trabalhador tem
ódio de trabalhador
o paraíso da síndrome
de Estocolmo
o berço esplêndido
dos otários
shangri-la da escrotidão
onde furar fila é maneiro
embolsar troco indevido
é maneiro
e dizer que a novinha
já aguenta é maneiro
paraíso dos filasdasputas
onde a nobre Universidade 
Federal do WhatsApp tem 
mais prestígio do que 
qualquer 
outra instituição de
ensino superior
onde post é mais do que livro 
onde ladrão vira bispo 
onde a TV é maior do que a 
verdade 
onde latinos terceiro mundo
se consideram arianos 
e nem pensam que os arianos
querem lhes fuder de verde
e amarelo, azul e branco:
aplaudem hitler terceiro mundo
onde querer mudança é 
se prestar a servir 
de esparro do fascismo 
a capital da insanidade
onde quem nunca soube 
fritar um ovo ou lavar uma roupa 
acha que pode resolver 
tudo na sociedade 
com uma arma na mão
oh, pátria amada gayzista 
comunista retrô neoliberal 
que repousa nas cabeças vazias
pátria do caralho
com a maior quantidade 
de gente 100% ignorante 
e fã de terra plana
é verdade este bilete rais:
gooooooooooolllllllllllllllll!

@pauloandel

Friday, October 12, 2018

debaixo da cauda urbana I

debaixo da cauda urbana
há o caos: ratos de esgoto
em cadeiras corporativas
sonhando com senzalas
chicotadas e pau de arara
enquanto pobres diabos
esbofeteados pela vida 
trocam seus dias pela fé
no papo torto charlatão
que lhes faz entorpecidos
por procurações de Deus
que nunca existiram aqui. 
debaixo da cauda urbana
há dor, violência e morte
indiferença e estupidez
insensatez tão desumana
há hitler terceiro mundo
e nazistas caboclinhos
- querem ser arianos vis 
mas são apenas latinos.
debaixo da cauda urbana
há mil mãos estendidas
e dois mil rostos virados
torcedores do mercado
e teorias insustentáveis
mas não há só nazistas
também a brava gente 
que não aceita escravidão
nem opressão e rancor
a gente que vai às ruas
sem ódio ou má índole
apenas boa esperança
que passa nas portarias
dos grandes edifícios
no coração das cidades
atrás do espírito da paz. 

@pauloandel