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Friday, July 23, 2010

VINTE E QUATRO ANOS SEM TÍTULO (ELEITORAL)

I

Qualquer coisa que dure mais de vinte anos e que não seja ditadura, feito essas defendidas por Boçalnaro e seus cupinchas, e que também não seja vida vegetativa, vale a pena. Os vinte e um anos do Botafogo sem título, com minhas respeitosas saudações à massa botafoguense, por exemplo: não fosse a espera, o campeonato de 1989 seria apenas mais um. Mas foi diferente, especial, histórico. Além do mais, piada por piada o Francis Hime fez muito melhor na música – e ele é dos de General Severiano. Dia desses, um conhecido meu, alvinegro em tom de raiva, disse que o Fluminense era lixo; retruquei-lhe, lembrando que o lixo ao menos pode ser reciclado, o que não cabe ao Botafogo. Quem entendeu, riu. E hoje o Fluminense é o líder do Brasileiro.

O que importa dizer é que ontem me dei conta de ter perdido meu título de eleitor há pouco menos de vinte e quatro anos. Na verdade, me dei conta na semana passada, mas só agora é que me veio o tamanho do tempo. Por quê? Simples: não precisava dele para nada. Tem um número, uma assinatura e, até o pleito passado, podia-se votar tranqüilamente com a carteira de identidade. O número do título eu sempre usei apenas para a declaração do imposto de renda; fora isso, nada. Os anos foram passando, continuei votando em Darcy, Brizola, até o ato falho – e reconhecido – de Anthony, o RG resolvia tudo. Então, 2010 chegou com toda a sua modernidade e tecnologia; portanto, o título, que só tem o maldito número e a danada da assinatura, agora passou a ser obrigatório junto de outro documento identificatório com foto. Não discutirei a lógica do procedimento. Fato era precisar comparecer ao Tribunal Regional Eleitoral, o notório TRE, seção Copacabana, numa tarde de quinta-feira, para obter a segunda via, votar em outubro e exorcizar de vez esse fantasma neoliberal chamado peéssidebê.

Uma tarde de quinta-feira em Copacabana. Ah, meus vinte anos.

Quando votei pela primeira vez, o pessoal elegeu Moreira Franco. Como bem se ouvia no jingle, “o nome dele é Moreiraaaaaaaaa...”. Ia acabar com a violência em seis meses, mas não deu muito certo porque Maria Paula - a filha de seu vice, Waldenir Bragança - começou a namorar um dos bandidos mais perigosos do Rio, o traficante “Meio-Quilo” (sugestivo nome), braço-direito da então organização criminosa Comando Vermelho. Destruiu os Cieps. Fez o buracão do metrô na General Osório na marra e, mesmo sendo um querido do presidente Sarney, não conseguiu inaugurar nada. Terminou seu mandato sendo condenado a devolver ao erário estadual uns milhõezinhos, por ter publicado com dinheiro público o livro “Moreira: ele governou para todos”. Hoje, é o vice-presidente de loterias da Caixa.

Uma eleição apertadíssima. Darcy perdeu por milímetros. Tinha o Gabeira no primeiro turno também.

Oitenta e seis, noventa, noventa e quatro, noventa e oito... Recém-dispensado do Exército, eu mal imaginava que o Brasil só ia tomar prumo quando Lula-lá fosse realidade. E ia demorar a valer, como vimos nos capítulos seguintes desta maravilhosa história contemporânea do Brasil.

Oitenta e seis? Zico perdeu o pênalti, as papeletas amarelas ganharam o campeonato, Xuru me fez sair antes do Maracanã. E faculdade em Niterói, na Facen. Carteado na casa do Fred, ouvindo vinis trazidos pelo Caux. E lanches no Gordon com Marco. Só.


II

“Um bom lugar, Copacabanaaaaaaaaa...”

Por um tempo, tomei cisma do metrô. Tenho um bom motivo: anos atrás, o mesmo vagão em que eu viajava foi meio de transporte de uma mala, contendo uma cabeça humana. Sim, amigos, existe violência no Brasil há muito tempo, embora parte da turba hipócrita finja muita preocupação com Chávez e Fidel, sem imaginar que existe uma linha dois no meio do Rio de Janeiro.

Gosto de ver a rua, o mar. Mas o metrô é mais rápido. E mais apinhado também. A estação do Cantagalo, que ia se chamar Pavãozinho, mas a burguesia não deixou, dá uma boa caminhada do trem até a rua. O tribunal é na esquina seguinte, bem pertinho.

Duas seções eleitorais, lado a lado. O pessoal conversa alegremente. É Brasil, é Copa, é eleição. Uma quase jovem simpática vem me atender. Pede a identidade. Drama:

- O senhor tem multa a pagar. Não justificou a ausência em três eleições.

A partir de então, me tornei um apenado pela Justiça Eleitoral. Exatos R$ 3,51 por pleito ausente e não justificado, totalizando R$ 10,53:

- O senhor dá um pulinho no Banco do Brasil e volta aqui com a multa paga.

Por que faltei a três pleitos? Num, tinha disputa entre Conde e Cabral; noutro, Dotô Efeagá já tinha vencido; tem mais um que a história apagou.


III

A loja de cds usados está farta de material; a atendente não é das mais delicadas e nem entende do assunto. O dono da loja é um sujeito que não me conhece, mas já ganhou muito dinheiro às minhas custas. Eu compro cds, eu baixo cdes, eu gosto de música. Sou um extraterrestre.

Rock sem muita inspiração, jazz bastante caro.

Descubro que ali do lado tem uma Banco do Brasil. Boa!

Aos quarenta e cinco do segundo tempo, um disco com nome gigantesco, normalmente abreviado para “When the pawn...”. A charmosa lourinha magricela Fiona Apple, das grandes de sua geração, completamente ignorada em terra brasilis. Dez mangos. Cai! Quem puder, oução enquanto é tempo.

Para minha surpresa, uma agência bancária vazia, um caixa bastante educado e que me dá um desconto de três centavos na multa.

Não sou mais um apenado. Paguei minha dívida com a sociedade. Dez reais e cinqüenta. Sou um eleitor em potencial. Terei um novo título e Serra não vai gostar disso.

Para matar a fome antes do embate eleitoral, Kicê Lanches. Misto, cheeseburger e laranja batida. Por aqui, sairia uns dez contos. Em Copacabana, quinze. Glamour é outro papo. E outro preço.


IV

A moça emite rapidamente o documento. São tempos modernos. O chefe da seção faz alguma piada: viu um gordo de óculos azuis, naturalmente achou engraçado. Agradeço e me despeço.

O charme das ruas de Copacabana é âmbar. Pouco importa se o bairro envelheceu, se a decadência econômica prevaleceu. Nas vias, pessoas alternativas, antenadas; velhos, jovens, bebês, “adultos contemporâneos” (sabe-se lá o que isso significa). Gente diferente e, por isso mesmo, tão homogênea. Copacabana, menino.

A escada rolante do metrô não funciona. Tempos modernos.

À minha frente, na roleta, um jovem de terno, repleto de ternura, parece com dificuldades de ingressar o ticket. Quando passo por ele, percebo que é um viadinho – com tudo de simples que esta expressão não-pejorativa quer dizer. É Copacabana. Força de expressão somente.

Seria melhor ver as ruas, o mar. A pressa na volta para o trabalho exige agilidade.

Copacabana, um bom lugar para se passar, nem que seja por hora e meia veloz.


V

Metrô lotado às três da tarde. Não faço questão do assento.

Honrei minhas dívidas com o Estado Brasileiro.

Vinte e quatro anos sem título eleitoral. Por quê?

O fato é que a escrita acabou.

Oitenta e seis, noventa, noventa e quatro. Meus pais não eram felizes, mas vivos. E eu tentava fazê-los felizes. Eu tinha irmão. Tinha a turma da faculdade. Tinha uma promessa de bom emprego. Tinha um amor-eterno de meia hora de Tatiana. O rádio era Legião Urbana, Paralamas, Black Crowes e programa de jazz do Jô. Eu tinha título. Eu não tinha o maldito certificado de dispensa de incorporação.

Havia vida. Hoje, ainda há.

Apenas diferente.

Coisas morrem, coisas nascem. A vida é num vão.


Paulo-Roberto Andel

Wednesday, July 21, 2010

IMAGENS QUE DIZEM TUDO




















Parabéns ao fundador do futebol brasileiro.

Paulo-Roberto Andel




Wednesday, July 07, 2010

CAJU

















Era um sábado à noite, daqueles que fazem o Rio ficar mais Rio. Ou faziam, talvez. Milhares de jovens pulavam as catracas do tradicional Jockey Club, divisa de Jardim Botânico e Gávea no Rio de Janeiro. A maior banda do rock brasileiro de então, Legião Urbana, tocaria para uma multidão que até hoje, não se sabe precisar em números: pode ter sido quarenta, cinqüenta ou setenta mil pessoas. Na saída, uma confusão generalizada e um engarrafamento que parou a zona sul da cidade. Num dos carros, meu amigo Dino eternizou o momento:

- Cara, Legião Urbana é isso aí! Sexo, drogas e engarrafamento!

Durante o show, em muitos momentos Renato Russo parecia exalar certa solidão em momentos de silêncio contemplativo, diante de um Jockey que mais parecia o Maracanã em dia de decisão. Num outro, repreendeu a molecada que jogava terra à frente do palco. As canções inesquecíveis eram destoadas uma a uma, cantadas como se fosse uma procissão. Entretanto, entre uma e outra canção, um ou outro detalhe, pairava o danado do silêncio. Na verdade, aquela celebração de alegria tinha sido pulverizada logo pela manhã, quando correram rumores de que o esperado show da Legião poderia nem acontecer.

Cazuza tinha morrido.

Será?

”Mas se você achar/ Que eu tou derrotado/ Saiba que ainda estão rolando os dados/ Porque o tempo, o tempo não para”


*******

Sábado de manhã, dia sete de julho, desci de casa para tomar meu guaraná na lanchonete Kiosk da Siqueira Campos. Na banca, obituários viraram manchete. Por conta da doença grave, todos sabiam que a vida de Cazuza estava por um fio. Mas aconteceu que estávamos tão acostumados com aquele poeta sem-regras, que expirava literatura na música e, ao mesmo tempo, bebia e se drogava como nunca que, iludidos, talvez tivéssemos imaginado que ele fosse imortal de carne. Compôs e cantou até poucos dias antes da passagem, mesmo muito debilitado, e ainda pôde ver seu último grande hit tocar nas rádios com a fúria dos que viviam os primeiros meses da Era Collor – a mesma da Era Dunga:

”Vamos acabar com a burguesia/ Vamos dinamitar a burguesia/ Vamos pôr a burguesia na cadeia/ Numa fazenda de trabalhos forçados/ Eu sou burguês, mas eu sou artista/ Estou do lado do povo, do povo”.


*******

Num tempo em que não se entendia a AIDS direito e muitas celebridades morriam de “pneumonia fulminante”, já bastante doente, Cazuza topou fazer a capa da ex-revista Veja e uma entrevista emocionante. Provavelmente, seu gesto ajudou a salvar a vida de milhares de pessoas, mesmo que ele fosse um completo anarquista no bom sentido da palavra. Ninguém me contou. Eu vi. Nas ruas, nas conversas, na faculdade. Vinte anos depois, poucos foram tão corajosos num momento de tamanha fragilidade e risco de vida.

”Eu só peço a Deus/ Um pouco de malandragem/ Pois sou criança e não conheço a verdade/ Eu sou poeta e não aprendi a amar”.


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Renato Russo, durante o grande show do Jockey, parecia olhar para um horizonte muito longe e, talvez perdido. Quem lá esteve, entendeu sua tristeza. Mais do que isso, não sei dizer se ele mesmo já estava doente, sabedor ou não de sua situação. Isso pouco importa diante da perda irreparável dos dois grandes poetas contemporâneos da música brasileira. Logo depois, um desastre cala Chico Science, uma bobagem cala Cássia Eller e o prejuízo vira buraco sem fundo.

Sete de julho foi um dia estranho com uma noite estranha. Celebração e torpor ao mesmo tempo.

Os anos passaram e percebi que, muitas vezes, tentou-se priorizar o lado escrachado de Cazuza, principalmente por conta de sua sexualidade exacerbadíssima. A meu ver, o menos importante diante da grandeza do poeta, de seu talento inquestionável e que, hoje, vinte anos depois, continua vivíssimo.

“Eu andando pela neve/ Em pleno Central Park/ Com as estrelas do cinema/ Faço cenas no metrô/ Com meus tênis All Star/ Deixando as louras loucas/ Com meu latin style/ Não sou mais Paraíba/ Sou South American/ Aqui em Manhatã/ Aqui em Manhatã”


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Os gênios morrem jovens, não me perguntem o porquê.

Merecíamos bem mais de Cazuza, mais do que toda a sua obra fantástica que aí está, que lhe permite ser tratado com o devido título de poeta, contrariando os atrasados que ainda se recusam em ver o brilho das letras na música popular – como se Chico Buarque, Caetano Veloso, Cartola e Noel Rosa não fossem colossos obrigatórios em língua portuguesa. E Cazuza está nesse time, que fique bem claro.

O que o enfant térrible do Baixo Leblon teria escrito sobre a até hoje nublada deposição de Collor? Os mais afoitos vão falar de mensalão, mas ele iria muito mais fundo na ferida: o Caso Sivam; a reeleição durante o próprio mandato; Rubens Ricupero e seu “O que é bom a gente mostra; o que é ruim, esconde...”; Jader, Arruda, Roriz, Pitta, FHC. O poeta não era um raso.

A morte precoce de Cazuza nos tirou páginas brilhantes da crônica de costumes da vida brasileira.

“Vida louca vida/ Vida breve/ Já que eu não posso te levar/ Quero que você me leve/ Vida louca vida/ Vida imensa/ Ninguém vai nos perdoar/ Nosso crime não compensa”


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Ainda temos esperança. Zeca Baleiro tem muito o que dizer e escrever. Makely Ka é espetacular.

No mais, onde estão nossos poetas da música com menos de quarenta anos ou perto disso?

Não sei dizer.

Parece que as pessoas pararam de dar atenção ao que se canta. Vale qualquer coisa. Espero estar enganado. Não quero cair no velho erro de cada geração quando aponta as próximas como “sem brilho”, se comparada com a própria. Mas... cadê os grandes letristas jovens?

Resolvi escrever estas linhas ouvindo “A tempestade”, disco lançado dias antes da passagem de Renato Russo. É minha humilde maneira de homenagear dois sujeitos que foram parte muito importante da minha adolescência e, por isso mesmo, são presenças eternas na minha vida.

“Quando tudo está perdido/ Eu me sinto tão sozinho/ Quando tudo está perdido/ Não quero mais ser quem eu sou/ Mas não me diga isso/ Não me dê atenção/ E obrigado por pensar em mim”


*******

“eu queria que você estivesse aqui/ e me contasse uma longa história/ sem a necessidade de final feliz ou beijo de celebração/ bastaria ser uma história longa e diferente/ que trouxesse uma pequena chama aos corações solitários/ que oferecesse luz aos sentimentos entrevados/ e que fizesse da gente bem mais gente do que hoje somos/ um batalhão de estranhos a esbarrar uns nos outros/ ou matar por divergência de opinião/ enquanto as belas luzes dos grandes edifícios/ pouco alumiam a miopia da mente medíocre/ eu queria que você estivesse aqui/ mesmo que fosse para falar de dor e perda/ dor e morte/ ou pequenas derrotas cotidianas/ por que o melhor não estaria nos fatos/ mas sim na tua admirável narrativa/ eu queria que você estivesse aqui/ porque isso me faria jovem de novo/ com toda a vida pelo caminho e o direito de errar/ de arriscar/ de acreditar que este estranho mundo poderia ser o mesmo com o qual eu sonhei um dia/ talvez você esteja aqui/ talvez eu possa te ouvir/ e pensar/ no que já passou e no que ainda nos resta/ diante tanta indiferença/ e crenças que perseguem/ e ridículos valores que fazem do homem o mais primitivo dos bichos/ quero voltar a reconhecer o meu do eu”

Vinte anos voam.

(Obs: Há instantes, acabou de falecer Ezequiel Neves, o principal parceiro de Cazuza. Ironia do destino...)

Paulo-Roberto Andel, 07/07/2010

Foto: Ana Stewart - Agência Estado

Monday, July 05, 2010

DROUNGA?


I

Sábado à noite, mesa do Boteco da Praia, no bairro entre Botafogo e Catete. A comida é sempre boa, os garçons são sempre apressados em servir novos chopes.

Bruno, que é meu amigo e não é goleiro, longe disso, melhor definiu o que se passou na véspera, a meu ver:

- É bom mesmo que não tenha vencido porque, se conseguissem, iam achar que o certo é isso aí, xingar os outros, ser turrão, convocar mal, mostrar desequilíbrio. Não tinha como isso dar certo.

Não tinha mesmo.



II

Eu era criança quando Coutinho vetou Falcão e levou Chicão para a Copa de 1979. Os dois foram jogadores do meu time de botão. Falcão armava jogadas. Chicão, cabeça de área, jogava de beque improvisado. Talvez qualquer criança de dez anos, como eu era, soubesse que Falcão era melhor que Chicão, mesmo num time de botão.

Telê foi dos maiores de todos os tempos, mas também fez das suas. Quem tinha Adílio e Mário Sérgio voando não poderia ter aberto mão. O time, entretanto, era cheio de craques.

De lá para cá, é natural que todos os times brasileiros nas Copas do Mundo tenham jogadores que não são unanimidade. Como fazer isso com quase duzentos milhões de torcedores? Mas algumas coisas, de tão óbvias, beiram o ridículo. E ultrapassam qualquer barreira de paciência.

Para qualquer zagueiro do mundo, uma coisa é estar marcando o Luis Fabiano e ele ser substituído pelo pentacampeão Ronaldinho Gaúcho, duas vezes melhor do mundo. Outra coisa é se entra o Grafite, com todo respeito ao querido ex-atleta do meu querido São Paulo.

Levar Ganso e Neymar não significa ter personalidade e manter jogadores comprometidos com o “grupo”, mas sim ser suficientemente ignorante em não perceber que, diante de um adversário mais difícil, os dois em campo ao lado de Robinho formariam o entrosado ataque do time-sensação do primeiro semestre no futebol brasileiro, o Santos. Apenas isso.

Alguém na mesa, acho que o Moraes, me lembrou que, pela primeira vez na história, o Brasil entrou em campo e nenhum adversário, nem mesmo a fraquíssima Coréia do Norte, exerceu marcação especial em algum dos nossos jogadores. Isso era um (péssimo) sinal.



III

Qual o principal objetivo de se fazer treinos fechados para a imprensa?

Ensaiar jogadas.

Na Copa de 2010, o Brasil não tinha NENHUMA.



IV

“São jogadores com compromisso com a seleção”.

Michel Bastos é reserva de ponta direita no Lyon. Na seleção, lateral-esquerdo.

O veterano Gilberto é meia do Cruzeiro. Na seleção, lateral-esquerdo.

Kleberson quase foi assassinado pela torcida do Flamengo em seu último jogo no Maracanã, pelo campeonato brasileiro.

Kaká, excepcional jogador, mas claramente contundido e confuso demais com as coisas de Jesus Cristo, não tinha a menor condição de fazer a diferença.

Luis Fabiano não jogou um vigésimo do que quando atuou nas eliminatórias.

Ronaldinho Gaúcho não tinha comprometimento? E quando embarcou na canoa furada que era a seleção olímpica de 2008?

Concordo que Adriano fez demais em termos de tangenciar delitos, mas já que a seleção não é agência de matrimônio para casar a minha filha, não teria sido melhor levar o atacante imperial, deixa-lo treinando um mês e, quando possível, utilizá-lo em circunstâncias do jogo?



V

Sejamos claros: no primeiro tempo da derrota para a Holanda, a seleção brasileira não fez nenhum jogo maravilhoso. Coisa nenhuma! Nos primeiros dez minutos, os holandeses, atônitos, marcavam na defesa com dois zagueiros em linha. Tomaram um gol, poderiam ter tomado três. Passado o susto inicial, aos poucos se recompuseram e aí o Brasil não teve mais espaço. Quando veio o segundo tempo, Bert van Marwijk acertou sua zaga e o Brasil simplesmente acabou em termos de ataque. Como aconteceu muitas vezes em nossa história, quando a coisa estava preta poderia se apelar para a improvisação, o drible, o recurso técnico. Mas nossos melhores jogadores neste aspecto simplesmente não estavam na África. O jogo ficou igual, até que...



VI

... houve um frangaço.

Julio César é bom goleiro. Não é o melhor do mundo, como andaram inventando por aí. É um bom goleiro e só. Tem regularidade. Mas tomou um FRANGAÇO. Não me venham com história de Felipe Melo. Um goleiro de quase dois metros que sobe com as mãos não pode furar um soco na bola. Tendo ou não o tresloucado Felipe na jogada, a bola entraria do mesmo jeito. Foi apenas a cereja no bolo da velha tradição rubro-negra em Copas do Mundo, se é que me entendem. E foi justamente por causa do FRANGAÇO que falhou no segundo gol, ao nem se mexer no escanteio. O time, que já não era grande coisa, desabou com o empate “inesperado”. A vitória holandesa era questão de tempo, e só não se transformou numa goleada ao final porque os laranjas estavam mortos de cansados.

Na zona mista, Julio perdeu uma grande chance de mostrar o boa-praça que é. Bastava ter pedido desculpas aos torcedores por ter sido o principal responsável pelo primeiro gol holandês. Ponto.



VII

A vinte minutos do fim, Dunga, que realmente não entende NADA de futebol, precisando vencer o jogo, tira Luis Fabiano e coloca Nilmar, bom jogador, mas completamente franzino.

Não era hora de pressão na área?

E ele me tira o atacante que tem mais força física?



VIII

Não teve culpa no primeiro gol.

Mas é um completo imbecil.

Felipe Melo. Expulso do Grêmio, expulso do Cruzeiro e - pasmem! - expulso do Flamengo.

Podia servir bem à seleção brasileira com tal histórico?



IX

Poderia aqui listar mais dezenas de atos patéticos. O coerente Dunga zombando de um repórter que questionava o futebol de Robinho quando ele mesmo, Dunga, insistira anos atrás com AFONSO ALVES de camisa nove da seleção. O patetocrata Jorginho dando piti no desembarque na seleção no Rio de Janeiro, ao lado de seu olheiro evangélico. Poderia falar aqui de Julio Baptista, de Josué, da falta de esquema tático, da falta de jogadas ensaiadas, da falta de futebol-arte que ensinamos ao mundo, dos socos psicopatas no banco de reservas, das coletivas fanfarrônicas e debochadas, do neofascismo disfarçado de comprometimento. Do péssimo gosto das camisas de gola rollet. Prefiro continuar meu chope com os amigos.

Qualquer criança de dez anos, como eu fui um dia, sabia que tanto autoritarismo misturado à falta de competência não ia dar certo. Assim como vetar Falcão para levar o saudoso Chicão. Isso não se perdoa nem em time de botão.



X

Dunga? Já foi tarde.


Paulo-Roberto Andel, 03/07/2010