oh, linda e formosa cidade que me despreza, que vomita verdades em meu peito e mostra como sou desprezível e repugnante. está quase amanhecendo e a minoria viveu bem as últimas horas de boêmia. aos poucos, o céu troca seu negrume pelo azulado que vai clareando lentamente. no coração da cidade, os notívagos se divertem com seus últimos goles e tragos, enquanto os miseráveis catam latinhas para a sobrevivência pesada do dia a dia - e são quase todos pretos. nos arredores muitas pessoas infelizes agonizam nas calçadas, mas há quem acredite que isso seja democracia. a um quilômetro do epicentro das danças e cantos, a violência aterroriza homens, mulheres e crianças na favela, depois de espalhando para ruas próximas - esta é uma cidade com segue de sangue. a diversão popular não tem compromisso com a justiça social. daqui a pouco o sábado raia, setembro também raia e ninguém derramará uma única lágrima pelos meus amigos e amores mortos - e daí? ninguém precisa se importar. nunca o fizeram mesmo. tudo bem. com um pouco de sorte os mais abonados voltarão bem para suas confortáveis casas. desesperado, vivo minha serenidade particular. a cidade me detesta e despreza, não sou um CNPJ rentável nem dito normas econômicas. eu sou apenas minha voz, minhas palavras improvisadas, meu sentimento de luta e minha briga por um mundo menos cruel, mas é perda de tempo - as pessoas desprezam tudo que não é capital, poder ou voto. horas atrás, soube de um cachorrinho que estava jurado de morte por traficantes sanguinários. a barbárie superou todas as espectativas. o que resta é desmaiar até a morte. @p.r.andel
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