Chove. É necessário. É parte da vida, mas da morte também. A chuva é bela, mas também humilha e mata, faz sofrer e desespera. O belo espetáculo da natureza é cheio de contradição. Quando era jovem eu gostava de desafiar a chuva correndo e jogando bola, ou ainda mergulhando irresponsavelmente no Atlântico Sul - depois que soube dos riscos, nunca mais repeti - os jovens têm medo de morrer, de desperdiçar toda uma vida. Então escapei vivo e continuo nesta república federativa cheia de árvores e enterros precoces, cheia de tanto desamor e falta de empatia enquanto fanáticos religiosos fingem o contrário. Choveu muito há pouco, eu estava protegido em minha casa postiça enquanto o mundo sofria na Cruz Vermelha, e então apareceu uma cena de enterro no novela - eu parei e chorei porque revivi as mortes de meus pais - isso sempre me acontece, volto àqueles dias terríveis. De lá para cá, produzi coisas que dizem ser belas, escrevi mais de dez mil páginas, sofri feito um porco, fiz um monte de gente feliz, juntei pessoas diversas e agora estou aqui encolhido, vivendo intensamente a arte de ser infeliz para todo sempre. Amém.
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