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Monday, February 26, 2018

uma janela do mundo

o negrume de um
quarto
escuro
e procuro no teto
o mapa mundi
do fim do
mundo

o mês que se despede
a opressão que insiste
em coibir a vida:
a liberdade
é uma farsa
de calças arriadas

debaixo do teto
de um quarto escuro
funciona um bunker
de proteção contra
o fim do mundo

as mensagens estão
mudas
a palestra parece
vazia
ninguém troca
amores
escondido no escuro
do quarto vazio
numa noite do mundo

quem vai nos salvar
de vez?

os corações perfeitos
parecem arredios
demais

@pauloandel


Sunday, February 25, 2018

amor mora

onde mora o meu amor
além dos silêncios
e desencontros 
ou em palavras que
nunca são ditas? 

perdido entre hiatos
náufrago da distância
retrato de natureza 
morta

ah, o meu amor
escondido em prateleiras
e postagens
insignificantes
ou em versos de 
passos tortos
claudicantes de 
um bêbado admirável 

ele estende as mãos 
de paixão
e pede esmolas 
debaixo duma marquise
numa grande avenida 
central

o meu amor anda sozinho
por ruas perigosas
e não dá bom dia 
a estranhos

não dorme mas sonha
e espera o impossível 
na próxima esquina

ele mora longe, longe 
sem palavras

o meu amor está falido
em portas arriadas
cadeados fechados
e placas de aluga-se

há poesia em vão
escorrendo entre corações
de peitos vazios
e memórias desperdiçadas

o meu amor tão sozinho
esperando o VLT
às oito horas na Rio Branco
enquanto famílias
felizes trazem os filhos
de mãos dadas

ou alguém olhando 
o antigo relógio da Mesbla
subindo a escada do metrô
na Cinelândia

o meu amor é um domingo
à noite
silencioso e fugidio
sem bares lotados 
e risos
sem um grito de campeão

o último pouso 
no Santos Dumont
enquanto a linda
comissária parece
tão indiferente ao fim
do expediente

o meu amor é um país 
destruído
é um féretro vazio
é um livro que não
foi lido

e mora tarde, tarde 

ele dá as costas 
e dá de ombros
para caminhar sozinho
na madrugada
na avenida chile
procurando a morte
num assalto covarde
 - ou celebrando a vida
sob escombros
no coração da grande 
cidade 

@pauloandel 

Wednesday, February 21, 2018

a tristeza soberana da guanabara

inevitável é pensar:
soberana, a tristeza

em meio à tempestade

os desprezados e humilhados
ratos humanos em busca
de toca
os corações solitários
oprimidos
em terra de cobiça
e modernas senzalas

a cidade e suas águas
melancólicas
pela própria natureza:
os famintos, desabrigados
o desprezo tão humano
e alheio ao razoável

a opressão em doses cruas
o desamor a indiferença
o sofrimento em peles queimadas
e drogas letalíssimas
à venda numa TV
que nem Paul Simon acode

o amor que delinque
o tesão que não se
cumpre
os sonhos sob
escombros
a cidade afogada em
lágrimas

não há vagas
não há sonhos
não há abraços

e as mãos mendigas
afagam a morte
sob marquises infiéis

e as mãos mendigas
procuram um aperto
um abraço de palmas
mas só encontram
pequenas moedas, se muito

hoje é um novo dia
para os mais ingênuos
os indiferentes
os homens de negócios
chamando as pessoas
por números e valores
e contas desprezíveis

depois do sinal os
recados
são a consagração
da inutilidade
diante de todos os
mortos
os corações dilacerados
em vão:
somos um lindo planeta!
nosso único pecado
reside na colossal
hipocrisia
ninguém há de resgatar
a lama suja da nossa
insana hipocrisia

o sinal caiu



Thursday, February 15, 2018

Download grátis do livro "A essência do FDP contemporâneo brasileiro - uma conversa de botequim"









A Globo é a mesma de sempre

É natural que a Globo passe a mirar seus fuzis para a Tuiuti.

Acostumada a colonizar opiniões, oprimir e apartar brasileiros por meio de castas, ela não toleraria impunemente a verdadeira humilhação que passou na Sapucaí, ao ter pago para transmitir a demolição de suas mentiras em rede internacional. E, como sempre faz, agora busca meios para destruir moralmente sua nova inimiga número um.

A "novidade" é, em nome de sua ética elástica, apontar o terrível acidente que vitimou uma pessoa ano passado na avenida como a "mancha" para o desfile-denúncia que ganhou o mundo no Carnaval 2018. Tudo dentro das perspectivas de cinismo de quem vê o povo brasileiro apenas como mercado consumidor, dócil e submisso.

Quantos crimes contra o povo brasileiro têm sido estimulados, apoiados ou promovidos pela Globo no último meio século?

A mesma Globo que fez tudo para sabotar o Carnaval de 1984. Ou a que apoiou todos os golpes contra a democracia no Brasil, para décadas depois 'pedir desculpas' cinicamente. Ou a que editou criminosamente um debate presidencial para impor seu candidato ao país, elegê-lo a marretadas e depois descartá-lo quando ele contrariou algum de seus interesses.

A Globo que hipocritamente denuncia o 'crime' da Tuiuti é a mesma que sempre apoiou, bajulou e promoveu poderosos homens do Carnaval, todos eles com enorme ficha criminal desde sempre. Nunca se preocupou com crime algum. É uma farsa. O que lhe incomoda é ter sido desafiada perante o povo brasileiro, sem capacidade de reação simultânea, exceto a ridícula supressão de comentários na reprise do dia seguinte.

A mesma Globo que, anualmente, com a força de seu dinheiro (obtido dos pobres que ela tanto odeia), humilha as escolas de samba porque "paga a transmissão". O desfile é transmitido cortado para dezenas de milhões de pessoas há anos. As primeiras escolas a desfilar, excluídas. Trabalhadores de um ano inteiro são condenados à invisibilidade para que ela, Globo, possa exercer os seus caprichos de programação. Quem não aceitar, está fora.

A mesma Globo que 'promove o futebol', impondo-o nos horários mais estapafúrdios, mas paga propina para a FIFA visando unicamente benefício próprio. Ética e moral seletivas.

A mesma Globo que quer triturar o brasileiro com essa farsa da reforma da presidência, mas que não esboça a menor preocupação quando um de seus funcionários, alçado à condição de 'presidenciável' (é a cara da emissora), 'fatura' um jatinho no BNDES para gerar zero emprego. Aliás, falando em dinheiro público, em matéria de calotar tributos a empresa de comunicação (editada) é multicampeã de todos os Carnavais. E depois coloca a culpa nas aposentadorias...

A mesma Globo farsante que, durante anos e anos, tentou destruir a imagem de Leonel Brizola, até que um dia foi humilhada em suas próprias câmeras de transmissão por determinação da Justiça, a mesma que hoje ela faz tudo para manipular, tratando os brasileiros como marionetes ou fantoches.

Qualquer semelhança de reação odiosa contra o desfile da Tuiuti em 2018 e o vídeo abaixo não é mera coincidência.

Nos dois casos, a Globo foi desmascarada em rede nacional, diante de suas próprias barbas.

https://youtu.be/ObW0kYAXh-8

Tuesday, February 13, 2018

todos todos os dias

todos os dias, morre um policial a tiros, disparados por armas que os bandidos compram da própria polícia.

todos os dias, os golpistas tentam convencer os golpeados de que a corrupção deles é legítima.

todos os dias, escravos contemporâneos batem palmas para os maus atos dos senhores de engenho da era moderna - e vibram com as chicotadas que sofrerão

todos os dias, a estupidez comum impede o entendimento das manipulações praticadas pela TV, seus jornais e demais veículos de comunicação

todos os dias a massa de manobra não percebe que é manobrada, enquanto os fantoches se divertem com a própria mediocridade

todos os dias, o ódio tem vencido o amor, a fome tem vencido o conforto, a hipocrisia tem vencido a sensatez, a cobiça tem vencido a paz

todos os dias, a humanidade escorre pelos ralos em troca de nada, a maior parte das vidas é sofrimento em troca de nada, a miséria é a lei magna

todos os dias são a casa grande para poucos, a senzala para uma multidão, mas ficamos felizes com nossos smartphones em plena idade média

todos os dias são mãos mendigas estendidas, gravatas e ternos em correria, ladrões em bando dando porrada e matando, o caos latejando

todos os dias são de cidades esfaceladas, vidas perdidas, ordem e progresso das mentiras e crimes, a banalidade da morte, a opressão

todos os dias são pavor, morte, tristeza, pobreza, exclusão, aparte, insensatez, ignorância, tragédia e muita estupidez

é preciso mudar estes dias, a ferro e fogo, a espuma de sangue a brilhar, acabar com uma escravidão que nunca foi extinta, apenas realinhada, adaptada, marretada

@pauloandel

nem um lugar

nem um lugar
um mísero lugar
nenhum lugar
escreve amor

Monday, February 12, 2018

tempestade

há muitos anos tenho
visto as dores
o sofrimento
dos outros o meu

todos parecem tão
felizes enquanto
choro - ninguém repara
ou finge não perceber

tenho sido testemunha
das misérias infinitas
da indiferença e até
do ódio cru e rijo

já vi de perto os dramas
as tragédias as mortes
o desespero e muitas vezes
não encontrei
outras lágrimas além
das minhas

ah, as pessoas estão
ocupadas
elas têm suas vidas
ou estão desinteressadas:
ninguém tem culpa
deste mundo injusto
e cruel exceto
a raça humana

agora vejo a melancolia
a violência o ódio
o assassinato por nada
ou quase nada ou qualquer
coisa - a selvageria venceu:
ela mora nos discursos
dos homens brancos de bem
e também nos porretes dos
bandidos pretos e brancos
ou de qualquer outra pele

agora vejo o passado em
remake: a idade média tem
smartphone o crime tem
piratas e quadrilhas selvagens
enquanto se mija e caga
nas ruas tão carnavalescas

agora o futuro é ontem
a esperança virou desprezo
e só falta acontecer de vez
a nova guerra dos cem anos
as cruzadas os corpos
estraçalhados por cavalos
as cabeças decapitadas
tudo está aí no jornal nacional
e o contragolpe não será
televisionado o contragolpe
não será televisionado
ainda somos os mesmos
e vivemos chicoteados
por manchetes editadas
por farsas golpistas e mãos
estendidas à espera de
uma esmola em salvação

há muitos anos tenho sido
o menino mais triste
do mundo
não importa quem esteja
ao meu lado a cada passo
eu choro pelas dores de tudo
e sou o menino mais triste
do mundo ainda mais agora
que o fim parece tão mais
perto do que o começo

mas as pessoas estão felizes
ou fingem estar felizes
- o errado sou eu certamente
não sei enganar a mim mesmo
e sei que o tempo é cada vez
mais escasso e rápido, rápido

minha dor reside em testemunhar
a grande ilusão do mundo
e toda a minha impotência
não salvarei nem a minha vida
triste e deprimente vida - não:
eu não tenho mais tempo
nem força nem esperanças
em deixar um pedacinho
de terra melhor do que encontrei:
nem terra eu tenho!
o que me restou foi procurar
beleza em meio a uma
tempestade interminável

minha dor respira, inspira, respira
sem ajuda de aparelhos sem atenção
caridade ou amizade sem mais ninguém
a minha dor é o que me basta

@pauloandel


Sunday, February 11, 2018

um abraço de Carnaval

Dois homens conversando nas imediações da Mem de Sá em plena alvorada do domingo de Carnaval. Podiam estar indo ou vindo, mas ali eram apenas dois confidentes, talvez tentando espantar a tristeza com um dos únicos punhados de celebração destas terras, que é quando as pessoas vão às ruas e cantam, dançam, transam, gozam, vibram e procuram algum sentido numa vida que é, entre sofrimentos, o intervalo para um trago ou um gole.

Falavam baixo para uma festa e alto para a madrugada, quase atrapalhando o sono desesperado dos mendigos nas imediações. Falavam de samba e sociedade, de alguma alegria e afeto, de pequenos brindes e deliciosas ilusões.

Quando se abraçaram, eram mais do que amigos ou irmãos. Dois camaradas, dois sobreviventes da guerrilha urbana, dois trabalhadores humildes celebrando os últimos momentos da primeira grande noite de Carnaval.

Um tomou um ônibus qualquer. O outro tomou o caminho de casa a pé. A noite acabou, o silêncio apareceu, o negrume do céu fica cada vez mais azulado, a Praça da Apoteose estava deitada em seu berço esplêndido. Ainda vai ter festa, mas tudo passa tão rápido que é preciso saborear cada momento.

Duma janela nas imediações, um velho homem testemunhara a despedida dos dois camaradas. Pensando em seu passado, quando acreditava ter amigos e estar longe do fim, ele se calou e chorou.

É Carnaval, mas existe um estranho cheiro de ruas tristes no ar.

Wednesday, February 07, 2018

eu não tenho a menor ideia

se existe alguma verdade
ela é: não sei
não sei da minha vida
não tenho planos
não sei se a minha morte
está logo aqui ou longe

não sei quem me amou ou ama
quem gosta de mim
quem me abraçou de verdade
e sente falta

não sei direito a quem ajudei
se influenciei alguém
quem se emocionou com algo que fiz

eu não sei quem pensa em mim com amor
não tenho a menor ideia de quando fui marcante
ou se fiz chorar por algo bonito
será que lembram de mim no sniff?
no que sobrou do loreninha?
ou da parede de uma casa aos escombros
em arraial do cabo?

quem comprou discos de jazz comigo
em ipanema?
quem me ouviu em mesas de bar?
eu não tenho a menor ideia
se sou importante para uma única pessoa que seja
e realmente não penso nisso:
o que fiz e tenho feito é ser sincero
amar e ajudar o próximo
desde os tempos em que fiz uma promessa
quando era um garoto com o mundo pela frente
quando fred era meu amigo inseparável
e jogávamos botão à tarde numa mesa de tacos

eu não tenho a menor ideia
de quem me lê ou escuta
quem sorri com minhas pequenas trapaças
em versos tortuosos e nada óbvios

quem entende por que vivo numa guerra particular
chorando e vendo os destroços da gente
amontoados debaixo das marquises?

eu não sei
sobre os piores futuros que se avizinham
sobre o meu tempo
que é cada vez mais perto do fim
do que do começo
das coisas que passam velozes
feito a paisagem numa bela janela
do vlt
eu não sei dizer
porque gosto tanto de miles davis
e jorge mautner e carlito azevedo
de rubens figueiredo e cacaso
e também jards macalé - tom zé
como se todos estivessem comigo
a conversar sobre o nada - uma ilusão

eu não sei dizer
porque sempre choro no cinema
e sofro tanto com a dor de um mundo
que não tem solução
nem que eu fosse egoísta
e só pensasse em mim mesmo
eu não sei dizer
se whatsapp é amizade mesmo
se normalidade é distância e frieza
não sei dizer o que é normal
no dito mundo dos adultos
o quê?
                  [aqui padeço a cada dia
                   como se cumprisse uma pena

eu não entendo o mundo e seus rancores
suas vaidades ocas
o pedantismo reinante
se vamos todos um dia
ser carne apodrecida ou cinzas
numa caixinha
é tudo tão inútil

eu não tenho a menor ideia
eu não tenho a menor ideia
eu não tenho a menor ideia

mas nem isso me liberta
e sigo vivendo até não sei quando
o que virá

a luz no fim do túnel
o desabamento final
ou qualquer coisa muito diferente
de todas as que pensei
e vivi - até aqui quase nada
fez sentido mas talvez
o grande lance seja mesmo este:
ficamos a procurar pela vida inteira
o que não existe
o que faça sentido porque
na verdade a vida e o sentido
devem caminhar em paralelas perfeitas

                             [elas jamais se cruzam

eu não tenho a menor ideia
eu não tenho a menor ideia


@pauloandel 

Monday, February 05, 2018

o suicídio da cidade

há tristeza 
tão sincera por 
todos os poros
da cidade

mergulhada na 
falsa felicidade
do Facebook
nas verdades ocas
do WhatsApp
nas manchetes mentirosas
dos jornais
e suas imitações baratas

a tristeza é vencedora
nos semblantes arrogantes
na indiferença para com 
as mãos de esmola 
no ir e vir das gentes apressadas
no silêncio dos vagões lotados
e cabeças pensantes 
com fones de ouvido

há tristeza na política 
feita por gente de merda
na hipocrisia de generais
e juízes de merda 
tristeza nas grandes avenidas
nas vielas, nas ruas esquecidas
há tristeza nas mãos armadas
de jovens traficantes 
deixando a vida escorrer
em rastilhos de sangue seco 

a tristeza nas portas das lojas
cerradas
nas vagas já preenchidas
na violência primitiva
no desamor que prevalece
e no amor que só existe
nos desencontros 

há tristeza numa banca de revistas
sem leitores
numa carrocinha de açaí
sem compradores
numa linda praia de Copacabana
deserta e fria 
há tristeza nos arredores
da Cinelândia 
e da avenida Rio Branco

é carnaval, e daí? 
a tristeza é a grande vencedora
a campeã do desfile
escondida entre os sorrisos
a cantoria, o tesão 
a tristeza pelo que poderia ter sido
mas nunca será
a geografia permanecerá intocável
mas é impossível esconder 
a tristeza: somos sem dúvida
uma cidade triste
por todos os poros de concreto
em cada gota de sangue 
nas artérias de asfalto 

tanta beleza infinita 
num mar interminável 
de corações tristes
e outros, infames, egoístas
é carnaval, é carnaval
mas muitos de nós carregamos
no peito um funeral
lágrimas contidas 
e a sensação de que já
fizemos o suficiente
o suficiente
o suicídio da cidade é um poema
alguém não para de chorar! 
celebremos o fim do que sequer
começou 

@pauloamdel 

Sunday, February 04, 2018

somos todos ódio

agora temos ordem
e progresso
somos todos
ódio
cólera
desprezo e empáfia
no outro vemos apenas
um escravo
um bosta
um número
odiamos nossos vagabundos
na calçada
mas aplaudimos nossos pilantras
de gravata
parecemos tão antenados
mas somos cópias do discurso
da televisão
as chacinas já não nos importam
não temos nada a ver com isso
e acreditamos com fé, santa fé
em nossa estupidez carnavalesca
adoramos criticar ditadores
mas somos incapazes de enxergar
a tirania que envolve as nossas favelas
as nossas favelas
as ruas e praças e bairros:
viramos reféns da nossa própria indiferença
o que podemos oferecer é ódio
foda-se o outro o pobre o bosta
somos pessoas de bem
quem nunca saiu na mão com uma mulher?
quem nunca recebeu auxílio moradia?
nós somos contra a corrupção
(dos outros)
nós somos em defesa da família
(a nossa)
e assim vivemos em berço esplêndido
da nossa fina hipocrisia
namorando vitrines de shoppings
gritando uhu atrás dos cordões
xingando o show da travesti
e nos calando diante de traficantes morais
um helicóptero de cocaína não nos importa
queremos ser classe pose e presença
mas na essência
não passamos de filhasdasputas
- eis o nosso doutorado!