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Monday, October 29, 2012

NYL (New York Lovers)


Thursday, October 25, 2012

Corações da Lapa








mastiguei meu coração
ao molho tártaro sem
mágoas sem mágoas
uma bárbara iguaria
para povoar a fratria
dos pensamentos
brindei meu coração
sem pestanejo fácil
nenhuma frátria
nenhuma fraterna pátria
a fratria num desejo
slow-motion uptown:

cada um na sua tribo
todo mundo por si
cada um por seu cada
um noves fora nada –
e não vai nada, nada
não há fratria nem tribo –
apenas sorrisos vazios
esperando o próximo
chope gelado à mão - 
assim seja qualquer
futuro concreto vão
a mão do amor acalma
a palma da contradição

@pauloandel 25 10 2012

Wednesday, October 24, 2012

Experimentos

@pauloandel

Friday, October 12, 2012

Oras


agora
somos tão mesmos
quanto os mesmos
de outrora
nenhuma palavra
nos espanta
mas a morte
não é riste nem
nos confronta:
ela paira, surge
nos corrói, decola
e abraça o
horizonte.
agora somos
ontem e quase nada
além do que sempre
fomos: os mesmos
tão mesmos que
parecemos réplica
fiel enquanto o tempo
tira nossas fotografias.
agora somos
outros
sozinhos
perdidos no mundo
de deus sem deus
tentando compreender
as dimensões humanas
enquanto dispersamos
vida em admiráveis
botequins e praças
e qualquer lugar que
espante a nossa 
inestimável
solidão.

@pauloandel 12102012

Wednesday, October 10, 2012

Mais contas pelo caminho

Vários dos que vibram com a "vitória da justiça" ontem são os que... furam fila... sonegam imposto de renda... não dão lugar aos idosos... usam drogas ilegais e alimentam a violência... chamam torcedores de futebol de alienados mas não tiram os olhos do novelão... chamam quem não concorda com eles de burros, mas não alimentam seus discursos com nada que não seja achismo ou reprodução de mídias vendidas (não citam um autor digno sequer)... acreditam na Globo, na Veja, no Estadão mas nunca leram Faulkner, Kerouac ou Hemingway... e, no fim das contas, repetem um monte de merdas feito papagaios da anamariabraga simplesmente porque lhes é mais cômodo do que ter a humildade de ler, pesquisar, refletir e aprender. Ou pelo menos lembrar-se do que passou.

Como faz falta não ter por aqui um Bob Dylan, uma Joni Mitchell ou uma Patti Smith para sacanear tudo isso. Ou um Renato Russo, um Cazuza, um Noel.

Viva a condenação por indiciamentos!

Viva a nova jurisprudência que vai aniquilar famílias, pequenas empresas e congêneres!

Viva quem não sabe o que foram o Proer e o SIVAM!

Viva os presídios cheios de pretos pobres enquanto os brancos ricos bancam e manipulam a opinião pública nos meios de comunicação. E riem dos boçais que lhes defendem...

Viva o feriado. Viva a república.

Viva a hipocrisia.
@pauloandel

Tuesday, October 09, 2012

Arte na capa


Face Dances - The Who - 1981




Bring on the night - Sting - 1986




Tecnicolor - Mutantes - 1970/2000





Total - From Joy Division to New Order - 2011

Monday, October 08, 2012

Darcy, Brizola e Niemeyer




“Fracassei em tudo o que tentei na vida.

Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.


Tentei salvar os índios, não consegui.


Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.


Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.


Mas os fracassos são minhas vitórias.


Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."








"Todas as crianças deveriam ter direito à escola, mas para aprender devem estar bem nutridas.

Sem a preparação do ser humano, não há desenvolvimento.

A violência é fruto da falta de educação."







 
"Toda escola superior deveria oferecer aulas de filosofia e história. 

Assim fugiríamos da figura do especialista e ganharíamos profissionais capacitados a conversar sobre a vida."


 @pauloandel






Saturday, October 06, 2012

Acerto de contas

De tudo o que li, vi e ouvi sobre política nacional este ano (e Direito, por que não?), o que achei mais importante foi isso, que acabei de receber via Twitter:

"O menino pobre da Veja mudou o Brasil: agora você pode ser condenado sem provas. Basta o depoimento de um inimigo teu."

Tive que lembrar de meus estudos sobre 63/64: o povo queria as reformas de base de qualquer jeito, a "Redentora" veio para ficar seis meses, durou vinte anos, ajudou a torturar, estuprar e matar pessoas - dentre as vítimas, meu tio Mendel. Todo sujeito que diz que não houve ditadura e tortura no Brasil não passa de um sonoro filhodaputa. Para meu pequeno consolo, uma das companheiras de tortura, prisão, porrada e estupro que vitimaram pessoas como o meu tio hoje é a presidente (ou presidenta) da República.

Depois lembrei da mocidade: a modernidade da era Collor, a edição do debate, o governo que começou de ponta-cabeça e conseguiu irritar toda a classe alta. Não ia durar muito. Fez-se um grande levante pela "ética" e contra a "corrupção", Brizola sugeriu cautela: já tinha sentido na pele o que é quando os grandes interesses são contrariados. Collor caiu. Não votaria nele nem para síndico do andar do prédio onde moro, mas desconfio de tudo aquilo até hoje.

Mais tarde, vamos vibrar... frango a um real, celulares modernos, oba, somos modernos. Quanto isso custou aos cofres públicos? Quanto custou a vida dos pobres que foram ceifados da saúde enquanto os hospitais eram dilapidados para que os planos fossem mais vendidos?

Pouca gente lembra de Ciro Gomes naqueles tempos. Poderia ter sido o rei. Largou o reino falando tudo claramente para quem quisesse ouvir. A turma fingiu que não ouviu. Boa parte daquilo depois virou livro, hoje um dos mais vendidos do país, mas jornais, revistas e televisões tratam a todos como idiotas, como se isso não estivesse acontecendo.

Oito anos de gatunagem foi o suficiente. O Brasil dos últimos meses de 2002 parecia estar em pau-a-pique. Ia ruir. As casas iam ser tomadas. O calote seria generalizado. O mundo ia levar um pé na bunda.

Desta vez, a patifaria não deu certo. E não deu certo novamente em 2006. E não deu certo em 2010. Enquanto os arautos da moralidade mesquinha chegam aos oitenta anos e veem que o sonho de ter o reinado está desfeito.

Quem disse que o Brasil de hoje é maravilhoso, sensacional, Estado na acepção da palavra? Não, ainda falta muita coisa. Não se conserta quase 40 anos de desastres em 10 ou 12. Falta muito, muito mesmo. E o ser humano é mesquinho, infame, vende-se por moedas desde os primórdios.

Mas melhorou um pouco. Muita coisa talvez.

Os mercados são cheios de pretos e brancos empurrando carrinhos com comida. No meu tempo de criança, preto no mercado só empurrava carrinho cheio se fosse para madame.

Eu sou preto. O rapaz do IBGE se assustou com minha declaração.

Os shoppings são cheios de pretos e brancos e paraíbas nas filas, comprando, lanchando, rindo. Antigamente, era assim que se designava o povo: preto, branco, paraíba. Em São Paulo, os baianos.

Tem miséria, tem crack, tem o tráfico escroto que sobrevive pelos mesmo interesses da "ética" e da "moralidade".

Tem corrupção e injustica. Tem racismo, preconceito, xenofobia. Muitas coisas.

Mas também tem muitos trabalhadores, gente de bem, que encara os piores transportes coletivos para batalhar e sobreviver dignamente.

Tem democracia, relativa mas tem. Não fosse assim, "Veja", "O Globo" e o restante da quadrilha já teria sido dizimada.

Mas ainda falta muito.

Precisamos de decência e ética no dia a dia e em todas as questões, não somente em termos pontuais. Lei para todos. Justiça para todos.

A começar pelo STF.

A começar pelas eleições de amanhã.

A começar por uma parte considerável da população brasileira que não lê, não reflete e só repete as mesmas verborragias copiadas de algumas das piores publicações deste país, nenhuma delas a serviço do povo, todas elas a serviço de pequenos feudos.

Quem se lembra das capitanias hereditárias?
 
Dedicado a Paulo Vanzolini

Paulo-Roberto Andel
@pauloandel

Thursday, October 04, 2012

Centro do Rio? (fragmento)






... enquanto os respeitáveis cavalheiros brindam com o chope dourado da felicidade no Paladino, o armazém centenário que fica na esquina de Uruguaiana com Marechal Floriano. Sanduíches apetitosos, finas iguarias, nenhuma modalidade de pagamento que não seja dinheiro cash. Certa vez estive lá com Sheila, ela em grande forma, maravilhosa, deliciosa, os sujeitos faltavam lamber as mesas para secar a baba enquanto fui seu escorte triunfante. Apesar do cash, pode ser considerado um restaurante favorito - ainda que feche cedo - mas o fato é que somos quase todos quarentões e não temos mais paciência para noites alcoólicas intermináveis – ora, vamos beber o que basta. 

Nos arredores, o esplendor continental da avenida Presidente Vargas desemboca na beleza da igreja da Candelária, marcada pela triste lembrança da chacina dos adolescentes moradores de rua há vinte anos ou menos. A igreja ainda é linda, mas não há como não se pensar na dor e morte que aqueles jovens sem futuro experimentaram apenas porque eram pobres e negros, num pais que ainda trata seu racismo de forma despudoradamente hipócrita.  Somos tão respeitáveis e andamos com nossas mochilas e malas cheias de pequenos objetos importantes, tudo enquanto nas principais ruas do coração da cidade a diferença entre a vida e a morte de mendigos pode ser resumida em um pedaço de pão. Muitos não dão dinheiro: - Eu não sustento vagabundo. – Eles vão cheirar e beber tudo! – Não fui eu quem fez o mundo assim. Pessoas são assustadoras quando defendem suas posses.

Mais adiante, monumentos de cultura. CCBB, Casa França-Brasil, Centro Cultural dos Correios, Justiça Eleitoral idem, palácios de cultura e beleza nem sempre dotados do público que merecem. São gratuitos, mas a sofisticação que oferecem naturalmente espanta e constrange os mais populares, faz certo sentido. Eis um grande problema na disseminação das artes plásticas: elas deveriam ganhar as ruas, os pobres, os bons e não estarem limitadas aos pequenos guetos. Alguém dirá que os menos abonados não têm condições de apreciar arte como devido e darei uma sincera gargalhada: trata-se de xenofobia ignorante e mal-ajambrada. Nos centros culturais pode-se ver artes plásticas, teatro, música, encontros, debates, ver jovens garotas com roupas moderninhas e óculos retrô, as roupas disfarçando muito bem as formas saborosas e a pele geralmente alva, geralmente acompanhadas de rapazes com visual quase existencialista – e felizmente ninguém de cachecol ou pulôver nesta primavera equatorial do Rio de Janeiro. Todos falam baixo e parecem tão educados ou respeitáveis, mas penso que a qualquer momento possam ser integrantes de surubas praticadas em casas especializadas, aquelas das casas de swing que transbordam no bairro. Por cinco segundos cravados, torno-me um tarado perverso dentro de meus pensamentos; depois, sou um cidadão pacato e insignificante neste mundaréu de prédios e cores e gentes.

Na rua do Rosário, a livraria-restaurante Al-Farabi é um baluarte da região. Seu gerente é meu amigo Maurício Nascentes, velho amigo dos tempos da livraria Berinjela, subsolo do edifício Marquês do Herval, tempos em que conversámos com o jornalista Álvaro Costa e Silva – o Marechal, o poeta Carlito Azevedo, o advogado Daniel Veiga entre outros intelectuais, misturando prosas com altos teores de reflexão e outras que poderiam tentar traduzir a importância dos programas trash na televisão aberta do Brasil. Maurício tenta treinar boxe nas horas de folga, demonstra certa irritação com a hipocrisia cultural e jornalística que hoje paira pelos caminhos, nada vai ter jeito, a vida é uma merda, mas ainda há tempo para pequenos goles e algumas gargalhadas. Ficamos amigos num campeonato de botão que ele promovia, coisa de 1996, depois jogamos vários e eu não suportava o fato de alguns competidores chegarem às mesas de jogo sem cumprimentar as pessoas – deve ser minha eterna ojeriza ao pensamento republicano norte-americano, onde a figura do winner é essencial. 

Nos tempos de Berinjela, Marechal costumava fazer a dança do Siri-Patola, um tanto complicada e talvez impossível de ser descrita em palavras, cabendo apenas a memória de muitos risos quando de sua execução. Depois, o velho lobo jornalístico ia para o Tangará, boteco encravado no peito da Cinelândia, esquina de Álvaro Alvim e Francisco Serrador, academia da cachaça que perdurou por mais de sessenta anos até abaixar as portas. Carlito Azevedo olhava e ria, enquanto pensava sempre em seu roteiro tradicional pelas ruas da cidade: a Leiteria Mineira, o CCBB, as papelarias onde se pudesse comprar um caderno caprichado e nele desenhar poemas inimagináveis. Velhas rotinas dinâmicas, ora. Geralmente ao lado, a jornalista Kamille Viola sabia dizer tudo sobre o que havia de mais moderno nas noites modernas onde os jovens dançam, bebem e amam a valer, muito mais do que isso na verdade.

Mauricio fica num balcão baixo, quase sem ser visto por transeuntes da rua do Rosário, enquanto o computador reproduz música cubana ou jazz do Village Vanguard nos anos 60. Temos nos visto bem menos do que antes, geralmente quando faço-lhe uma visita. Paramos de jogar botão, está casado, eu quase, os tempos ficam escassos. – Sabe quem esteve aqui? Raul Sussekind, num vistoso terno, almoçando com um amigo. – E como ele está?  - Parece bem, falou do Fluminense, mora na Barra, reclama do trânsito. A cidade sofre com cada vez mais carros pelas ruas e parece claro que a solução está na melhoria do metrô e dos trens, mas quem realmente se importa com isso? Somos uma sociedade tão respeitável!

Atravessando a rua Primeiro de Março, logo você vê um terreno vazio, proveniente de um hotel que desabou anos trás, matando um casal de adúlteros e oferecendo notícias rodrigueanas aos jornais. Logo a seguir, a loja Escuta Som, uma das heroicas sobreviventes no mercado de CDs e LPs. O balcão central tem discos a dez reais, às vezes cinco, sempre algumas boas oportunidades. Quem gosta realmente de música precisa do CD e do LP como objetos físicos que são de um ritual: você deita na cama ou no sofá, ou ainda numa confortável poltrona, talvez sua cadeira predileta, mexe no encarte, lê as informações, letras, vê fotos e demais ilustrações, não é simplesmente um arquivo do tipo 2xde43g5 guardado em algum lugar do cérebro eletrônico.”


(segue)

paulorobertoandel04102012

Wednesday, October 03, 2012

O gênio está de volta!