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Saturday, February 25, 2012

ANOTHER PARK, ANOTHER SUNDAY


I

unidos desapareceremos

II

eu e meus eus/ meus paradigmas exacerbados e conflituosos/ eu mais eu/ eu e meus múltiplos de coisa alguma/ eu vezes três vezes zero/ conjunto unitário/ mais um monte de ideias a flutuar/ por ruas incertas, bares vazios e nenhuma solidão/ eu e meu down-by-law/ karmas questionáveis e uma pureza impossível de se alcançar/ eu e meus desejos/ perdidos, obstruídos, inacessíveis/ debaixo deste sol que range e comove/ eu e meu carnaval ao fim/ nenhuma porta-bandeira me homenageia/ o céu não tem fronteiras quando um café me espera/ minha morena se aproxima/ mas sou covarde demais para me apaixonar outra vez/ eu e minha incerteza/ eu e a profunda lucidez.

III

lucidez é perceber
que as pequenas 
loucuras
são fascinante 
oxigênio
ao que diz respeito
sobre tempos
modernos

IV

lá fora
o verão incendeia
o que sabemos
ser ano-novo:
onde moram
meus janeiros?

V

aquela carne
admirável
agora dorme
noutra 
pradaria
e sou fera
envelhecida
estupefata
frente ao que 
restou
da minha
coragem.

VI

quero ser trezentos 
e quinhentos e quinhões
até voltar um dia
a respirar
feito dez-contos
de réis

VII

vende-se contos e sonhos:
favor tirar ficha no caixa
e abrir qualquer livro
com prazer divino.
 


pauloroberto andel25022012

O RESTO VALE

vale quanto cabe
e pesa
e custa
vale pelo sangue
seco
desperdiçado
no meio-fio
vale pelo sol
o céu
as cores
e todo negrume também
vale pelo seco
e sujo
e denso
e podre mas vivo
vale o seio
o dorso
as ancas
nenhum pecado
comove
vale o que está
escrito
e lido
e sabido
ou até compreendido
vale pelo rico
e limpo
ou pútrido
ou pelo pobre
lívido
e perdido
na mansidão de amor
vale pelo riste
ou traste
ou flerte
enquanto ainda somos
corpos
sedentos um pelo
outro
vale o samba
o gol
o sonho
de toda apoteose
que se transforma
em crepúsculo

paulorobertoandel25022012

Friday, February 24, 2012

AS RETICÊNCIAS

I

Sim, eu devia ter dito o que pensava. Mas não o fiz. Poderia ter contado sobre as vezes em que sonho com você, os desejos, a vontade quase incontida de te puxar para o primeiro canto deserto e refrigerado para dissecar toda uma lascívia há muito cobiçada. Sim, eu devia ter feito isso mas não fiz. Eis que penso nos meus problemas, nos teus anseios, no estúpido medo de errar quando já se passou mais metade da vida esperada. O problema talvez não seja dizer e ser rejeitado e nem mesmo ser acatado mas não corresponder à altura: meu maior medo é querer acordar com você ao lado no dia seguinte e não querer que você vá embora. E agora você beija em outra porta, ri de outra piada, dorme em outra cama enquanto penso estupidamente que tudo poderia ser muito diferente se eu tivesse com você a mesma atitude que tenho com outras - mas simplesmente não consigo. Não devia tê-la visto em dança - foi a minha kriptonita. Queria banhar-lhe em mel, oferecer dois mil beijos inesquecíveis e provocativos, empenhar todas as carícias plausíveis e que isso não significasse uma prisão, uma masmorra, não sei dizer. Sou um idiota e talvez por isso sinto-me tão confortável.

II

acordei
diante de um mundo morto:
as calçadas rompidas
a carne podre nas ruas
o ódio e a miséria solenes
e tudo não parecia tão diferente
de um sábado à tarde
na pujança comercial
de um shopping center

III

morreu um grande cantor
morreu uma grande voz
não prestaram atenção direito
nas palavras
do cantor
nas frases que umedecia em tons
não foram justos
com o brilhante passado
do grande cantor:
somos porquinhos reticentes!

III

o poeta sumiu, fugiu
parecia inebriado
pelo êxtase da morte.
todos ficamos assustados
quando ofereceu adeus
aos pés de uma grande edifício
via internet.
felizmente era só um arroubo:
o poeta vive
e sofre
e dorme
e nos encanta com seu dom
permanente
num preciso monodrama.

V

aquilo que cogito
é muito distinto
da nobreza, dos topos
de qualquer olimpo.
não pretendo ser
um às das letras
um pintor rebuscado
um estupendo escultor:
o que me basta
é a alcunha
de vagabundo iluminado -
modéstia à parte,
qualquer Jack Kerouac
me enobrece.

VI

amar é mordiscar
os seios da bailarina
numa quinta-feira
aprazível
calorenta
mas inesquecível -
seja bendita
toda lascivia sã
beijar-lhe o ventre
o colo
a nuca
e que tudo soe
feito um poema
de Leonard Cohen.


pra 240212

Friday, February 17, 2012

BODY AND SOUL

Agora somos tão estranhos
Que nem a morte me arrebata
Quero ser eterno ao mergulhar
Nas profundezas do efêmero
Gosto de ser desimportante:
O zero à esquerda me apraz
Nada de relevâncias ocas,
Auto-suficiência vadia,
Petulância voraz:
Minha vocação
é a desimportância
É a simplicidade que beira
O piegas -
Meu endereço favorito

 
pra170212

Thursday, February 16, 2012

LEMBRANÇAS DA ADOLESCÊNCIA


Gritos na multidão


sabe faz, faz tanto tempo faz
já faz um tempo faz, estou querendo mais
preciso ir embora, tomei uma coca-cola
não se preocupe mais
eu não perturbo mais
já disse adeus à mãe
já disse adeus ao pai

estou desempregado, estou desgovernado
a fome me faz mal, estou passando mal
mas vou entrar na luta, eu vou sair na rua
já vejo a poluição
já está ficando perto
esse é o coração da máquina do esperto

e aqui estou então, não estou sozinho não
é mais de um milhão
ninguém mais pensa, irmão
existe confusão

gritos na multidão
é o fim da convenção
gritos da multidão
pobre de ti, irmão


Pobre paulista


todos os não se agitam
toda adolescência acata
e a minha mente gira
e toda ilusão se acaba

dentro de mim sai um monstro
não é o bem, nem o mal
é apenas indiferença
é apenas ódio mortal

não quero ver mais essa gente feia
não quero ver mais os ignorantes
eu quero ver gente da minha terra
eu quero ver gente do meu sangue

pobre são paulo,
pobre paulista, oh, oh
pobre são paulo,
pobre paulista, oh, oh

eu sei que vivo em louca utopia
mas tudo vai cair na realidade
pois sinto que as coisas vão surgindo
é só um tempo pra se rebelar

pobre são paulo,
pobre paulista, oh, oh

parou, pensou e chegou ... à essa conclusão


Tuesday, February 14, 2012

NOSSA ESTUPIDEZ

Saturday, February 11, 2012

GLAUBER!

Thursday, February 09, 2012

Arte? Arte!




o que eu quero
é o contraditório
o avesso
o aparte

irradio meus sóis
e comungo minha
descrença
como se fosse
sorte

alguém me descarta
mas já não
reparo:
estou muito ocupado
em mergulhar
na mais profunda
pequenez
do que represento:
capto-me tal como arte –
vivo para ser sentido
e não tenho a
pretensão
de formar opinião,
no máximo o
alarde. o resto?
que me 
aguarde.

paulorobertoan d el0902 12

(Sobre a construção de François Morellet)

LOVE STORIES

"Amar é abanar o rabo" (Cazuza)




Wednesday, February 08, 2012

BEST REGARDS

Monday, February 06, 2012

TELEVISION RULES!

PRÉ-PÓS-CONCEITOS & TOM ZÉ



Eu sofro preconceito porque sou gordo, velho, feio, pobre. Sofro preconceito porque tenho mais de 40 anos, não sou casado e não tenho filhos. Sofro preconceito porque minha namorada é negra, gordinha e tem 19 anos a menos do que eu. Sofro preconceito porque sou Tricolor, escritor, cronista (no Brasil as funções são incrivelmente diferentes). Sofro preconceito porque fiz uma faculdade que a maior parte das pessoas nem sabe que existe. Sofro preconceito porque não moro mais em Copacabana, nem sou suburbano nem sou tijucano. Basicamente, sofro preconceito porque respiro sem ajuda de aparelhos frente a uma sociedade que debocha do que sua ignorância é incapaz de ler. Ou ver.

 

no alto de pinheiros (tom Zé, 2012)

você pode nascer numa família legal
legal legal
pode nascer até numa família real
real real
mas se você quiser viver no alto, companheiro,
tem que ser aqui em pinheiros
no alto no alto do poleiro
tem que ser aqui em pinheiros
no alto no alto do poleiro
tem que ser aqui em pinheiros
você pode nascer naquele berço de ouro
de ouro de ouro
pode nascer até no baú do tesouro
tesouro tesouro
mas se você quiser viver no alto, companheiro,
tem que ser aqui em pinheiros
no alto no alto do poleiro tem que ser
aqui em pinheiros
no alto no alto do poleiro tem que ser
aqui em pinheiros

Saturday, February 04, 2012

VALE QUANTO PESA?







I

Duas jovens garotas de programa andam abraçadas pela calçada de pedra da rua do Ouvidor. Parecem felizes e ali não sugere sexo. Pode ser hora da folga, do passeio ou qualquer desimportância. Parece arte. Sim, vivemos e respiramos arte. Fudemos e louvamos arte. Cada canto do planalto sujo ejacula arte. Então duas garotas caminham. A da esquerda, mais voluptuosa, exibe numa coxa farta uma longa tatuagem. o desenho da garota da direita começa na nuca e parece ocupar toda a região das costas, ainda cobertas. Eu carrego no bolso um CD de vanguarda de Beck Hansen, que tocou no Brasil mas ninguém entendeu nada. Daqui a pouco o Fluminense há de me regenerar. As duas garotas são mulatas e oferecem formosura. Ando cansado a caminho do Paço, já passei pelo CCHO e quase chorei com a obra eterna de Franz Weissmann, quase toda produzida nesta cidade que nunca lhe aplaudiu como devido. 



II


O Paço é belo e abriga por mais algum tempo obras riquíssimas das artes plásticas contemporâneas no Brasil. Viver é pensar; pensar é fazer arte. Portinari, Djanira, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Leonilson, Gershmann, tantos mais. Sou ignorante demais para saber como aqueles homens e mulheres construíram tanta coisa condenada à eternidade. Admiro e basta: sei da pequeneza de meu lugar.


III

Os seios arredondados e salientes da turista nacional deixam-me embevecido. Ela me pergunta as horas e só penso em Urano ou Netuno. São impressionantes: instigam, convidam, sugerem mais e mais. Sou um pequeno canalha em poucos segundos de infidelidade. Ela sorri: nunca foi tão fácil ler as matizes do que penso e sonho.

O telefone toca e respondo, ninguém replica.

Got a devil's haircut in my mind!


IV

Nenhuma pátria é poder.


Paulo-Roberto Andel 040212





Friday, February 03, 2012

Para ver, ouvir, ler e respirar






Abujamra, sobre texto de Ruy Castro

 
A velha Hollywood nos ensinou que tudo nos EUA era maior, melhor, mais limpo, justo, ético, honesto, adulto, moderno, eficiente e perfeito do que nos outros países. Também pudera - os americanos eram o povo mais bonito, forte, corajoso, engenhoso e talentoso do mundo. Onde mais as pessoas saíam cantando e dançando pelas ruas com naturalidade e ao som de uma enorme orquestra invisível?
 
E quem cavalgava melhor e tinha os cavalos mais velozes? O cowboy americano. Não havia índio ou mexicano que o capturasse, exceto à traição, coisa que, aliás, eles viviam fazendo (e de que o cowboy americano era incapaz). O mesmo se aplicava ao soldado americano em relação aos alemães e japoneses -quem era o mais heroico, o mais desprendido, o mais inteligente? E a Marinha americana? Quem tinha porta-aviões mais imponentes? Quem usava camisas de manga curta mais brancas? E quem mais tinha milhares de marinheiros que sabiam sapatear?

Nos filmes, víamos maravilhas que faziam parte do dia a dia dos americanos e de ninguém mais: cerveja em lata, barbeadores elétricos, cortadores de grama, trevos rodoviários (filmados de avião), edifícios de 90 andares e naves que iam à Lua e voltavam. E quem seria mais poderoso que o governo dos EUA, capaz de movimentar estruturas gigantescas para plantar um exército inteiro em território inimigo a 15 mil km e resgatar um espião a minutos de ser descoberto?

Todas essas eram benesses do poder e da riqueza. De repente, fico sabendo que o dinheiro no caixa do Tesouro americano vai acabar na terça-feira e que a Casa Branca, com uma dívida de US$ 14,3 trilhões, ameaça dar o beiço no mundo.

Inacreditável. Como pode o governo americano quebrar? Se acontecer, quem vai pagar a conta da lavanderia que mantinha as camisas tão brancas?