Translate

Sunday, June 29, 2025

Nunca mais

É a mais dolorosa expressão da língua portuguesa. Nunca mais. O final para sempre, sem chance de reversão. O último abraço. A morte, serena ou sofrida. O amor de cristal que se espatifa no chão, ou o amor que sequer se consolida. Os amigos que rompem à toa, por bobagem. As mesas de bar que não vão se repetir. Fogo de Conselho, nunca mais. Aquele Maracanã maravilhoso, nunca mais. O sorriso de Vera oferecendo um picolé, não mais. O sorriso de Vera no apartamento do Catumbi, não mais. Chorar de alegria vendo a matrícula da faculdade aprovada no jornal cor de rosa, nunca mais. Os amigos no botequim jogando conversa fora. A ligação telefônica da garota bonita às 15 para as duas da tarde em ponto. O carinho da mãe vendo juntos desenhos animados. A vida sem pressão financeira esmagadora. O sanduíche de Copacabana às duas da manhã. Nunca mais. O Cine Condor, o Art, o Bruni, o Caruso, o Roxy, o Metro. A casa do Fred. A casa do Xuru. A casa do Ricardinho. O Pampeiro. A minha casinha. Nunca mais. O beijo da mãe, a fala do pai, o riso do irmão. A mensagem da bailarina. A doce voz da garota de Ipanema, nunca, nunca mais. As noites de prosa e chutes na bola com voos na areia. Mais futebol na quadra do corpo de bombeiros. Jogo nas Laranjeiras, meu Deus - nunca mais. O hall da faculdade, a camaradagem, o escritório, outros colegas, nunca mais. Quanta gente foi embora tão cedo, tão sem motivos, quanta coisa se rompeu à toa, quanto amor se desperdiçou. É preciso lutar contra o nunca mais. Talvez ainda haja algum tempo, alguma chance, alguma caridade ou esmola de alegria que justifique a vida nesta terra ingrata, ao contrário do ódio, da arrogância, da incompreensão e do egoísmo que nos apartam. Talvez, talvez. Quem há de voltar do nunca mais? 


@p.r.andel

No comments: