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Thursday, January 14, 2016

sorver você

sorver você, que bom:
não vai ter drama nem caô
apenas luxúria, desejo, poema
secreções de rendição
incontrolável tesão
pequenas grandes putarias

no grande mar dos carinhos

sorver você, tão bom
feito fruta à ceia, fruta à pele
desnudada e liberta, saborosa
com pequenos líquidos à solta
em cada naco ou breve fatia:
vamos celebrar as cores do prazer!

sorver você ao léu
em campos de panos bons
até desfraldar bandeiras brancas
e fazer do êxtase a paz, a paz!

sorver até o gozo ser elegância
entre língua, carne e sonho:
nosso louco amor em cores vivas
e corpos sedentos, imersos
em plena noite adolescente

@pauloandel

Sunday, January 10, 2016

enquanto o sol quase nasce

enquanto o sol quase nasce
e uma réstia de luz escapa à cortina
as imagens subitamente vem e vão
entre o gozo e o escape
um beijo intenso numa estação do metrô
que tal velhos amigos trazendo esfihas a granel?
ou uma linda mulher semi-nua
enquanto o sol quase nasce
tudo muda a mil quilômetros por hora
o tesão vira cemitério; a luxúria, caráter
os amigos sorridentes são só lembrança
e mais um dia nos disse adeus
existe um sol intenso lá fora
e a vida, às vezes tediosa, persiste
numa caravana de sim e não
entre reticências e exclamações
até o inevitável caminho da morte -
a certeza com os caminhos mais duvidosos
os sinos dizem olás e adeus
as cabeças falam e dançam
na anarquia louvável das cidades
enquanto o sol quase nasce
miséria e riqueza se esbarram
numa calçada tão indiferente
- somos animais muito cruéis!

@pauloandel

Monday, January 04, 2016

o idiota americano e outras histórias

não me queira como um idiota
brasileiro, argentino ou americano
do oriente ou do ocidente, tanto faz
não me interessa ser um papagaio
das manchetes pagas em prestações
eu não sou um boneco a serviço da fé em pastas de dólares e jatinhos
não me queira como um idiota, um alienado que nunca soube o passado
eu não sirvo para este rude papel
não me queira feito um completo idiota
sem noções elementares de português e matemática
não subestime a minha inteligência porque não não desprezo tua ignorância
meu carnaval não tem agressões
nem estandarte e ouro, nem nota 10
a mais nova superbanda é desimportante
as crianças não merecem ser sacrificadas
ninguém deveria morrer por acidente
não me tome por idiota
são trezentos, trezentos e cincoenta bilhões sonegados
são cinquenta anos de acordo
as cidades ainda são tão bonitas
para merecer pequenos índios assassinados
famílias eletrocutadas
o descaso, a casa do caralho
eu não sou idiota para beijar a mão
dos capachos corporativos na TV
- a revolução é no teatro!
não me queira como idiota
porque cultivo amores impossíveis
pátrias perdidas, bairros mortos
eu apenas aplaudo o melhor que já passou
e não aceito imitações fajutas
não me tome por idiota: eu sou bem melhor do que o falso cronista da tua revistinha de merda
leio e escrevo com meu próprio pensamento
toda massa de manobra é nojenta!
estou longe de ser um idiota
porque estou do lado da paz de espírito
que você jamais entenderá
com o seu shopping center vulgar
ou a breguice continental de Miami
não me queira como um idiota
- estamos longe de qualquer semelhança
o meu abraço é para os desocupados
os vagabundos com roupas poídas
gente dos trens suburbanos
o meu abraço é a solidão estupenda
mesmo com os melhores amigos
as grandes mulheres, simpatizantes
porque meus versos livres são tortos
e acordam às onze da noite
não me queira como idiota
se você evoluir, podemos conversar
e me rebaixarei com elegância:
antes disso, leia mais poesia
fuja das obviedades chinfrins e vãs
entenda que pode aprender com todos
mas procure ler o que vale a pena:
praticamente todo o desconhecido
não me queira como idiota
eu sou a Prado Júnior, o Grant's
a calçada da City Lights Books
a baleira da Santana
e o balcão da Al Farabi
tudo está irremediavelmente perdido
quando você me vê como idiota
porque eu não sou um espelho
mas apenas um homem que te estende a mão
um cavalheiro de verdade - e isso pode te estuprar na empáfia

@pauloandel