Meu bar. Sinto muita falta dele. Quando o frequentei eu era garoto, só bebia refrigerante e vitamina de morango, bastava. A gente vivia lá, era na porta da minha casa. E o que fazíamos? Conversávamos por horas e horas em pé. Quando entrei para a faculdade então, descia do ônibus e já encontrava a turma. Não importava ser pobre nem jovem: todo mundo te escutava. Ríamos de tantas situações inusitadas. Os personagens fixos da região eram impagáveis. Falava-se de tudo, tudo. Não era um tempo fácil pra mim, aliás nunca o tive, então conversar com a turma era um alívio. Às vezes só íamos embora à meia noite, quando o Zezinho começava a lavar o chão. No fim de semana a gente esticava para o Rondinella, na esquina da Siqueira Campos com a praia. Nos ditos dias úteis, eu ia pra casa, entrava bem devagarinho e sentia uma paz enorme quando via a família dormindo bem. Já esperava o dia seguinte, a noite seguinte, rir junto e conversar paca. Foi um pedaço bem legal da minha vida, pena que passou tão rápido. Um dia, parte do pessoal brigou e a turma rachou. Eu fui embora, mas nunca me esqueci daquelas pessoas divertidas e especiais. Minha amiga Ana, também frequentadora, me incentivou a escrever um pocket book sobre o bar, que publiquei em 2019 e relancei em junho passado. O bar já tinha morrido, assim como quase todos os seus personagens dos anos 1980, mas a celebração valeu do mesmo jeito. Foi lá que vi o gol do Cocada, a morte do Chacrinha, as eleições de 1989 e tantas coisas mais. Num sábado como hoje, estaríamos batendo papo e comemorando a vida. Acontece que tudo precisa passar e, por isso, só resta a saudade. Foi outro dia e lá se foram 35 ou 40 anos. Por isso Cazuza foi genial: é que o tempo não para.
@p.r.andel
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