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Thursday, July 04, 2013

Um estrangeiro em Copacabana

Virei um transeunte estrangeiro.

As ruas não me dizem mais a razão do meu amor. 

Não, existe amor, mas ele é longe, longe, como se eu tivesse morrido e fosse a testemunha de meu próprio cadáver caminhando nas calçadas de pedra.

Espio grandes edifícios que não são Copacabana à pele. Como pode?

Não tem mais a mendiga Lina, nem Fred, nem Gordon, nem Clóvis Bornay sorrindo no Coruja Bar.

Não tem ice cream soda nos Supermercados Leão, nem mesmo Supermercados Leão. 

E Patrícia, com jabuticabas no olhar? E Anna Paula? Tininha?

Meus olhos molhados e saudosos miram as coberturas, as portarias, os pequenos grandes personagens. Ninguém me conhece. Sou um estrangeiro.

O Cine Condor morreu, o Metro também, nenhum misto-quente na Akay. Jogo de botão no Dom Pixote e na papelaria Dália? Nem pensar.

Billboard e discos dos Rolling Stones na vitrine? Modern Sound? Crepúsculo de Cubatão? There´s no more lips like sugar!

Mr. Éter deitado à porta da Farmácia Piauí? A velha loja de frutas?

Estou triste e perdido. Morri.

O que vejo são lembranças de algo que jamais voltará.

Pelo menos ainda não mexeram na esfiha do Baalbeck, nem no Cirandinha e ainda restam os escombros da Suprema no Leme.

Quando vejo o Parque Peter Pan penso no que penso sempre: minha amada mãe. Hoje, seis anos e seis meses de morte, minha prisão perpétua.

Não mexeram no velho Sniff da Siqueira Campos, embora eu não reconheça mais ninguém.

Na verdade, não morri. Apenas fiquei sozinho diante de outro dia cuja ampulheta já virou. E pensei que éramos tão jovens, jovens e tudo seria sempre carteado na sala da casa do Buja. 

Mas Katia vai salvar a minha vida. Vida?

Ah, Copacabana, eu ainda serei a tua última grande canção.


@pauloandel

1 comment:

Luiz Vieira said...

Caro Paulin, sinto a mesma coisa não só quanto a Copa, mas em tudo o que me cerca, o bairro é outro, o mundo é outro, eu sou outro, sou um fantasma perambulando sem destino esperando o fim da minha penitência.