vejo um poeta na rua em silêncio
parece tão reflexivo, contido
sorve um chope com delicadeza
e senta o copo na mesa solitária
ouvi falar de seu talento, ocluso
hermético para grandes platéias
trata-se de um poeta cansado
pela denúncia das grandes olheiras
e também do cigarro mal tragado
parece fitar uma rua abandonada
tudo diferente da minha calçada
vejo o poeta, vejo-me calado afim
e o que sinto agora seria fadiga?
sede? sombra de dúvidas? distância?
descreio de tudo o que cogitei
agora entendi a distância do poeta
rascunhando num guardanapo
rabiscando um devaneio de amor
ainda não temos uma noite de carnaval
e raras são as festas da cidade
contudo, o poeta não pára
o que parece-me distância, na verdade
é sua quase única razão de viver
rabiscar, expulsar amor dum coração para um papel vulgar
Paulo Roberto Andel, 29/12/2006
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