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Saturday, January 06, 2007

A última curva da ladeira

Estão vocês, donos da galeria, baluartes do salão, risonhos e vazios.

Com seus tragos de álcool, suas conversas opacas, tudo brilho insano de mente vulgar.

Vocês riem insolitamente, e nem percebem-me morto.

Muito ocupados com seus shopping centers, crises de autoridade e check-in de aeroporto.

Tensos com o carnaval, o trio elétrico e alheios aos famintos, aos desesperados nos hospitais, nas filas de desemprego.

Vocês usam Ray-Ban para esconder toda cegueira.

Não enxergam meio palmo diante do nariz, tampouco escutam muito bem.

Estão todos ocupados, há uma crise na bolsa de valores.

Lá fora, longe do salão e da insensatez que inebria a todos vocês, o mundo morre feito eu.

Eu estou morto, mas vocês não venceram nada.

Eu estou num solitário fundo de caixão no alto de uma colina.

Meu amor dorme.

Minha mãe dorme.

Gentes incendeiam vida à toa.

Queria ter meu sangue cuspido no rosto de todos vocês.

E terei.

(Homenagem à mais digna de todas as pessoas que conheci nessa terra, perto de algumas outras também, Maria de Lourdes Andel, amor e razão da minha vida que se encerrou.)

Paulo Roberto Andel, 06/01/2007

1 comment:

Anonymous said...

Com seus tragos de álcool, suas conversas opacas, tudo brilho insano de mente vulgar.

Vocês riem insolitamente, e nem percebem-me morto.


Por estas e outras razões, caro amigo, que deixo as pessoas agirem ao seu tempo em uma situação como esta. Por ter passado isto, e ter preferido recolher-me, não procuro não querendo com isso mostrar-me acima ou que a pessoa não tenha importância, mas que ela pode, merece e deve ter esse tempo só, pois ninguém pode ajudar, na completa acepção da palavra.
Então espero por um sinal, algo que a pessoa faça para então encontrar-mo-nos e, aí sim, conversarmos, se for de desejo. E se não for, tudo bem.
Grande abraço e tenha certeza que estou, e estarei sempre você sabe onde.