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Wednesday, February 27, 2013
Racionais MC's - Marighella
"enquanto isso
na enfermaria
todos os doentes
estão cantando
sucessos populares"
(R. Russo)
@pauloandel
Monday, February 25, 2013
Thursday, February 21, 2013
Sobre o assassinato do menino boliviano
A
morte do menino
Impressionante
que a passionalidade possa levar a uma tragédia como a do garoto assassinado
ontem na partida San Jose x Corinthians.
Futebol
deveria ser festa, confraternização e disputa.
O
adversário não é inimigo.
Já
temos problemas demais no mundo para que o futebol seja palco de morte.
Estupros de vulneráveis em territórios controlados pelo crime. Guerras sujas e
cínicas. Trabalho escravo. Outras explorações da população infantil.
Há
quem vá dizer que esse é um problema do mundo inteiro. Concordar é possível.
Porém,
o fato de acontecer em vários lugares não significa vista grossa ou tolerância
a qualquer crime que seja.
Passam
os anos e o futebol, essa maravilhosa diversão que, um dia, foi a razão de ser
do Brasil, regularmente preenche as páginas policiais dos jornais.
Mata-se
e morre-se por um ódio estúpido, uma ignorância sem sentido, verdadeira
expressão da irracionalidade.
A
vida humana não tem preço nem reparação. A vida de um jovem, com todo o futuro pela
frente.
Ontem,
o meu Fluminense levou uma sonora - e merecida – sapatada do Grêmio. Mas mesmo
que sucedesse o contrário, eu não teria a menor condição de comemorar nada. A
morte do menino, num momento que deveria ser de diversão e alegria, é um luto
que jamais cerrará portas.
Frequento
arquibancadas desde os nove anos de idade. Fui criado vendo todos os jogos do
meu time e, em muitas ocasiões, simplesmente indo ao Maracanã ver jogos de
outros times pela alegria em acompanhar uma partida de futebol. Hoje, isso é
impossível.
Até
quando assistiremos a estas manifestações tão irracionais?
A
vida humana é o bem mais precioso. Está muito acima de qualquer partida de
futebol. Muito acima de qualquer coisa. O respeito à vida, ao próximo. Futebol
não é guerra: não sejamos imbecis.
Em
momentos como este, em assassinatos assim, causa-me uma enorme tristeza em ter
nascido humano. Melhor dizendo: vergonha.
Os
ditos animais irracionais têm instintos melhores.
Em memória de Kevin Douglas
Beltrán Espada, 14 anos, assassinado cruelmente ontem em Oruco, Bolívia.
@pauloandel
Thursday, February 14, 2013
A sede
"Na hora da sede você pensa em mim/ Lá, Laiá/ Pois eu sou seu copo d'água/ Sou eu quem mata a sua sede/ E dá alívio a sua mágoa"
Luiz Américo
Voltava para casa na quarta-feira
de Cinzas, o cheiro de rua triste, dejetos por coletar, o vazio de gente, o
asfalto sem carros e motores, um calor infernal.
E sentia dores nas costas, no
joelho, esse estranho e fascinante processo que é o envelhecimento.
Não ser mais como antigamente,
passar a administrar lesões, dores permanentes, nenhuma delas maior do que as
que se sente na alma por conta da ruindade inequívoca que o ser humano médio
exerce diariamente pela atmosfera.
Subia a rua Henrique Valadares,
nenhuma banca de jornais aberta, nenhum bar disponível. Rumo ao lar, tentar
descansar, esquecer as injustiças, a escrotidão e a falsidade que são,
infelizmente, marcas do nosso tempo moderno.
Então vi de longe um morador de
rua. Um sofrido. Um mendigo. Pouco me importa que seja o “vagabundo que não
quer nada”, tão decantado pelas respeitáveis pessoas que se travestem de
transeuntes bípedes. Sempre falo dos mendigos. Eles são a medida exata do
fracasso da nossa sociedade, que respira mil religiões e empurra esse legado de
miséria na conta-corrente de Deus (ou, para quem preferir, na modesta prestação
mensal do novo helicóptero do “homem de Deus”).
De longe, o mendigo se abaixava e
levantava. Parecia aflito. Seus gestos não denotavam o uso de entorpecentes
como crack, até naturais se pensarmos a dor que essas pessoas carregam 24 horas
em seus não-teto, não-casa, não-comida, não-roupa, tudo enquanto algum imbecil
engravatado sorrirá ao saber que “existe gente assim, pois não se preparou”.
De longe, sem poder correr com
dores e o suficiente para que algum grito fizesse efeito, andei mais
rapidamente para saber o que poderia fazer para ajudá-lo. Em vão: ele andava
mais rápido do que a minha saúde permite (atentado por minha ex-namorada que me
considera um velho inútil em suas palavras estupidificadas).
Persisti por cem, duzentos
metros. Ele era bem mais rápido: a dor das ruas exige-lhe agilidade que não
tenho mais, uma pena.
Abaixou-se uma, duas, três cinco
vezes, aflito. Não procurava comida. Mais à frente, ainda sob minha vista, voou
numa lata de lixo e pegou um pequeno copo azulado.
Um copo de água. Um gole. Um
resto.
A aflição do mendigo não era “pedir
para beber cachaça” ou para “vagabundear”.
Era sede.
Estava morrendo de
sede.
No coração de uma grande capital,
berço do mundo contemporâneo, somando forças diariamente para ganhar os
corações do mundo (e seus generosos investimentos), um sem-casa podia estar
simplesmente em desespero de sede. Morrendo de sede, agoniado, desesperado.
Quando percebi o que era,
apressei ainda mais meu passo limitado, inutilmente: o desespero dele era muito
maior do que a minha condição de ajudá-lo. E passou correndo pela Cruz
Vermelha, disparou, continuou se abaixando e esgueirando em busca de um reles
copo de água.
Ninguém tem tempo para prestar
atenção nisso.
É carnaval.
A culpa é da Dilma. Do Lula. Do
Obama. É mais fácil a sociedade apontar um ou mais culpados do que encarar a
própria escrotidão no espelho.
O mendigo correu na direção do
que pode ser o túnel do Catumbi.
Minutos mais tarde, banho tomado,
remédio na coluna, lembrei novamente como sou um privilegiado nesse mundo de
merda: tenho emprego, salário, alguma saúde, alguma instrução.
Pensei em minha mãe, chorei e fui
infeliz para sempre. Poucas coisas são piores do que ser adulto e, finalmente,
compreender o esplendor da indiferença humana. Uma pessoa pode estar morrendo
de sede no centro do Rio de janeiro.
Os imbecis têm a sentença pronta:
“E daí?”
Para Ivan Lessa,
@pauloandel
Wednesday, February 13, 2013
Friday, February 08, 2013
Somos um lixo?
Não pense que é um distrito de um desassistido município.
É Carnaval 2013 no Rio, a Cidade Olímpica.
Sexta-feira, dia 08 de fevereiro.
Todos juntos vamos, pra frente Brasil!
Esquina de rua do Senado com 20 de Abril, coração carioca, a menos de 800 da capital mundial do samba - o Sambódromo. A menos de 100 metros do Hospital Souza Aguiar, o maior plantão da América Latina. A menos do novíssimo prédio comercial que será utilizado pela Petrobras.
As pessoas não podem passar nesta calçada há mais de DEZ dias. E esse é um fato que acontece regularmente na região há anos.
Somos um lixo:?
Quem é que vai pagar por isso?
A folia já começou.
Tuesday, February 05, 2013
A camisa
ah, se você
soubesse
quando meu amor te fita
nenhum teto nos bastaria
depois do céu e das
estrelas a servir de pérolas
do colar que te ofereci
ah, deusa da ribalta às
esmeraldas, musa à dança
em cem passos fugazes
colombina de mil
fantasias, pétala desfolhada
ao redor do meu
coração – a tua cor
de sangue nobre
e vivo sem vermelho
é o meu grito na multidão –
dois, somos muitos – eu e você
a terra lá fora
duas mil léguas submarinas
e toda a via láctea, densa
carinhosa
ah, se você soubesse
da minha prosa
veria que nada é bastante
quando te cogito ao amor -
a tua pele é a minha pele
num suor somente – em ti
navego até gritarmos
incontidos com razão:
houve um dever cumprido
ah, imensidão
quando você se faz
longe de mim
todo abstrato é lamento:
nem linhas retas ou
tortas -
é que não sei desenhar
a
saudade
Poema escrito durante a audição de “The Bends”, Radiohead, 1995, EMI-Parlophone, 04/01/2013
nenhum teto nos bastaria
depois do céu e das
estrelas a servir de pérolas
do colar que te ofereci
ah, deusa da ribalta às
esmeraldas, musa à dança
em cem passos fugazes
colombina de mil
fantasias, pétala desfolhada
ao redor do meu
coração – a tua cor
de sangue nobre
e vivo sem vermelho
é o meu grito na multidão –
dois, somos muitos – eu e você
a terra lá fora
duas mil léguas submarinas
e toda a via láctea, densa
carinhosa
ah, se você soubesse
da minha prosa
veria que nada é bastante
quando te cogito ao amor -
a tua pele é a minha pele
num suor somente – em ti
navego até gritarmos
incontidos com razão:
houve um dever cumprido
ah, imensidão
quando você se faz
longe de mim
todo abstrato é lamento:
nem linhas retas ou
tortas -
é que não sei desenhar
a
saudade
Poema escrito durante a audição de “The Bends”, Radiohead, 1995, EMI-Parlophone, 04/01/2013
@pauloandel
Monday, February 04, 2013
Vovó da Cruz Vermelha (marchinha)
VOVÓ DA CRUZ VERMELHA
Vovó/ Vovó/ da Cruz Vermelha é uma só/ vovó é malandra/ e vai pro pagode/ confunde a gatinha/ com rapaz de bigode/ vovó apressada/ passa rapidinho/ ao lado vem o neto/ o afilhado e o sobrinho.
Wednesday, January 30, 2013
Outro chão
e eu me canto em chão
tanto chão tantos passos
em falso na contramão
tantos hiatos falhos fatos
para lavrar desilusão
mas não desisto não
pois é do chão que germino
erguendo a cabeça
e nenhuma sentença
maldita me atingirá - oh não!
chão de renascença
e o coração de um menino
mendigo numa calçada
de sonhos - o céu, nem tão
tristonho, é uma alameda
para se esmolar felicidade
por entre as calçadas
das grandes corporações:
será mais sonho?
será mais sonho?
@pauloandel 30 01 2013
Tuesday, January 29, 2013
A Epopeia da volta
Por Zeh Augusto Catalano
Peço desculpas pelo tema abordado
fugir ao assunto central deste blog, mas acho necessário compartilhar essa
historinha.
Ontem, 28/01/2013, vôo GLO 1590,
marcado pras 21:35h no Santos Dumont, o aeroporto doméstico do Rio de Janeiro.
Chegamos 20:15h no aeroporto, que estava, àquela altura, fechado por causa de
uma bruma branca e baixa. Os prognósticos não eram os melhores. Na tela de
info, o vôo apontava check-in aberto. Aproveitamos para trazer uma boa
quantidade de livros, roupas e uma rede, o que nos fez trazer uma grande
quantidade de peso. Três malas grandes, mais duas mochilas e três bolsas
menores de bagagem de mão. Mais nossa bebê de três anos. Sim, à noite, com
sono, uma criança de três anos vira um bebê de 15 quilos. As bolsas de mão
levavam comida, livros, brinquedos, muda de roupa.
Sentamos e esperamos. Por volta
de 21:15, vários vôos começaram a ser liberados e outros aparentemente
cancelados. Dez da noite, o som pede que “compareçamos ao portão de embarque”…
Começava a peregrinação.
O sujeito da gol nos comunica que
nosso avião havia pousado no outro aeroporto, o Galeão, a meia hora de carro de
distância, porque, segundo ele, o Santos Dumont fecha às 23h.
(A explicação aparece neste link
abaixo. Depois volto a ela)
Entramos no portão de embarque,
como se fôssemos realmente embarcar, para imediatamente pegarmos nossa bagagem.
Você acha que a Gol (não sei se isso é padrão para todas as aéreas) se
responsabilizou por nos transportar até o outro avião já com nossa bagagem?
Nanão. A Manu de 15 quilos dormia profundamente no colo da mãe (graças a Deus)
e eu precisei empilhar as 3 malas, cada uma com duas toneladas, e mais toda a
bagagem de mão num carrinho que, por Murphy, puxava completamente para a
direita e que me obrigou a equilibrar as coisas e fazer um esforço hercúleo
(lindo isso…) pra empurrar a pirâmide desequilibrada por todo o aeroporto até o
ônibus – parado do outro lado da pista, longe da rampa para descer o meio fio.
Enfim, despachados pela 2a vez os
blocos de granito, entramos no ônibus para um city tour até o Galeão, aonde não
pisávamos havia anos. Nada mudou. Acho que o tombaram… Meia hora depois, descer
do ônibus, correr pra pegar um carrinho para receber novamente os ebós. As
malas parecem pesar cada vez mais. Manu segue apagada. A mãe morta de cansaço.
Os passageiros pegam as malas para levar ao balcão da gol, onde são
simplesmente atiradas na esteira para ir para o outro avião.
Às cinco para o dia seguinte,
enfim, decolamos. Chegamos em casa às 2:20 da madrugada. Seis horas de viagem e
algumas conclusões:
- Informação é tudo. Não lembrava
desse inacreditável horário de funcionamento do SDU. Mas mesmo que lembrasse
dele, acreditava ser algo coerente. Uma coisa é você agendar vôos para
meia-noite, uma da manhã, e fazer o aeroporto operar noite adentro de forma
planejada. Outra coisa é fechar o aeroporto pontualmente às 23h e impedir um
vôo que poderia decolar 23:15, por exemplo, de seguir adiante. Os responsáveis
por estas maravilhosas normas de operação certamente não pegam vôos noturnos.
Isso transforma o horário de 22:30 às 23h do Santos Dumont na embaixada
americana em Saigon, com todos querendo se agarrar ao último helicóptero pra
fugir dali. Conclusão: vôos tardios no Santos Dumont, nunca mais.
- Vou pesquisar acerca das
responsabilidades das companhias aéreas sobre a bagagem embarcada pelos
passageiros. Não sei se esse é o procedimento padrão, mas o fato é que ontem,
por duas vezes, os passageiros prestaram serviço de carregadores para a Gol.
Acho que a principal razão da coisa é se livrar da responsabilidade pelo sumiço
de alguma bagagem neste périplo pelo Rio de Janeiro. Atira-se malas e
responsabilidade na mão do passageiro. O fim.
- Não haviam pessoas de muita
idade ou crianças viajando sozinhas, mas se houvesse alguma pessoa com
dificuldade de locomoção ou algum gringo (coitados… sofrerão…) que não
entendesse direito o que estava acontecendo, estaria entregue à própria sorte.
Não houve nenhum acompanhamento por parte da Gol. O povo do ônibus era
terceirizado. O portão de embarque indicado era o errado. Nós nos viramos.
O piloto fez um excelente vôo. O
povo de bordo foi atencioso. Fizeram a parte deles.
Volto ao assunto outro dia.
Abraços!
Saturday, January 26, 2013
Teto
teto
somos teto
subterrâneo concreto
embuste numa artéria
no coração de uma
grande capital
somos teto
sem casa e lixo
nenhuma parede moderna
errantes na idade da pedra
desfilando miséria
e passos apressados
ao lado mostram o
que valemos: uma cédula
de indiferença
teto e chão, terror ao léu
vizinhos de respeitáveis
corporações
nenhum brinquedo certo
nenhum sonho a cumprir
a morte nunca foi tão
desejo sincero - e o
preconceito está nos
olhos de quem respira
somos teto
sem eira nem beira
nenhum plano por perto
e nenhum catalano
indignado será
capaz de resgatar
o que nunca tivemos
ao certo.
vanessa
que tal a minha carne
virar carne crua na tua
saliva e a tua carne
também virar carne
crua na saliva que me cabe?
eu faço uma promessa
eu compro uma roupa nova
e monto um kit completo:
casa, piscina, floresta,
recantos de um bastante
mais do que esperto.
0800
deixe seu recado depois do sinal pago.
@pauloandel
Friday, January 25, 2013
Nego Dito, não nego o escrito
Meu nome é
Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Eu me invoco eu brigo
Eu faço e aconteço
Eu boto pra correr
Eu mato a cobra e mostro o pau
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Tenho o sangue quente
Não uso pente meu cabelo é ruim
Fui nascido em Tietê
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Não gosto de gente
Nem transo parente
Eu fui parido assim
Apaguei um no Paraná, pá, pá, pá, pá
Meu nome é Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Quando tô de lua
Me mando pra rua pra poder arrumar
Destranco a porta a pontapé
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Se tô tiririca
Tomos umas e outras pra baratinar
Arranco o rabo do satã
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Se chamá polícia
Eu viro uma onça
Eu quero matar
A boca espuma de ódio
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Se chamá polícia
Eu vou cortar tua cara
Vou retalhá-la com navalha
Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Eu me invoco eu brigo
Eu faço e aconteço
Eu boto pra correr
Eu mato a cobra e mostro o pau
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Tenho o sangue quente
Não uso pente meu cabelo é ruim
Fui nascido em Tietê
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Não gosto de gente
Nem transo parente
Eu fui parido assim
Apaguei um no Paraná, pá, pá, pá, pá
Meu nome é Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Quando tô de lua
Me mando pra rua pra poder arrumar
Destranco a porta a pontapé
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Se tô tiririca
Tomos umas e outras pra baratinar
Arranco o rabo do satã
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Se chamá polícia
Eu viro uma onça
Eu quero matar
A boca espuma de ódio
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Se chamá polícia
Eu vou cortar tua cara
Vou retalhá-la com navalha
Friday, January 18, 2013
Wednesday, January 16, 2013
433
1
Satriani toca sua guitarra vigorosa
no aparelho de som. Gosto dele. Tenho poucos discos, mas é inegável reconhecer
seu talento continental. Comprei o disco há pouco, antes da tempestade que
alagou o Rio mais uma vez. As chuvas somaram forças e mostraram que nossa
cidade é refém permanente da natureza.
2
Shopping center não é minha praia, mas precisava comprar uma calça,
uma bermuda titular para o ano que se inicia e, se possível, pescar a versão
2013 do Velvet underground, “disco da banana” (Andy Warhol, claro).
Rua do Riachuelo, belos retratos
de lixo puro entupindo os ralos. Água de merda exalando e fazendo das tampas e
bueiros uma putrefação admirável. O mesmo mendigo na porta da Pacheco pedindo
uma janta, sempre sorrindo com se estivesse a desafiar a própria dor
insuportável da alma ou esmiuçando a loucura necessária para viver no inferno
capitalista sem um centavo que não seja de doação. – É um vagabundo! – Por que
não vai trabalhar? – Quem lhe daria emprego? – E qual emprego, ora? À drogaria,
uma fila enorme de pessoas esperando por medicamentos populares, que permita o
prolongamento de suas vidas populares, ali eu era mais um, mas desisti: um só
atendente para uma dezena de pessoas. Para que melhorar o atendimento? Os pobres
precisam disso, ora! - sempre o mesmo discurso reacionário.
3
O motorista do 433 faz várias
barbeiragens no caminho da Glória até o Rio Sul. E canta e ri. Acha graça. A vida
dos outros e a própria em risco. Achei que alguém fosse dizer que isso era
culpa do PT - ou de Lula - e sorri. Trata-se de um percurso rápido, sem trânsito, menos de dez
minutos e desço feliz no ponto de ônibus em frente ao Glorioso. Quase ninguém
nas ruas. A chuva espanta.
4
Até hoje não entendi se os
banheiros do Rio Sul fedem a número 2 por excesso de usuários ou porque a
limpeza não é ideal, mesmo que sempre tenha um funcionário por lá. Sempre,
sempre o maldito odor 2.
5
Estamos em 2013 e eu achava que
sempre teria um exemplar do DB (“disco da banana”0 disponível para compra na
Saraiva. Primeiro, tinha um monte. Segundo: quem é que quer saber de Velvet
Underground? Minha cara partida, minha cara lavada: todos os exemplares se
esgotaram. Foi aí que surgiu o Satriani na minha vitrola eletrônica. Não tinha
VU, vamos de JS. Não tenho com deixar de dizer que a atendente de caixa era
muito gostosa, permito-me um momento machista como esse.
Depois, Taco para uma boa bermuda
de gordo. São grandes, confortáveis, cheias de bolsos. Para o meu tamanhão, só
tinha as de cores claras. Eu queria dark, chumbo, cinza, marrom, verdescuro. Não
deu certo, trouxe apenas a calça. Ser gordo é difícil, mas eu gosto de ser quem
sou.
Hora de voltar para casa, nada de
táxi, momento de contenção.
6
Um, dois, três, 433. Meio cheio,
meio vazio, disseram que tinha inundado alguma coisa no Maracanã. Aí, lembrei:
será que a Lapa encheu? Dia desses, o drama da morte do artista plástico Selarón.
Bendita hora em que não tomei o
táxi. Água nas duas calçadas da Mem de Sá, verdadeiro rio na rua do Lavradio, a
parte sem obras da Inválidos virou Veneza sem gôndolas. Somando forças,
subtraindo o social.
Outros mesmos mendigos que não o
da Riachuelo vivem a morte em vida nas ruas e arredores da Cruz Vermelha. Há
quem pense que tal castigo é sempre merecido. Abominável.
7
Foi um dia bom. Tive cansaço. Algumas
coisas resolvidas, outras não. É janeiro. Segunda foi o aniversário de Fred e
ele já não está aqui. Ontem foi mais um dia 15 e seguimos na labuta. Lá fora
chove, a vida escorre nos alagamentos.
8
Desço para comprar um sanduiche,
mais um suco para Ursula. Dois policiais do Core também lancham tranquilamente
no balcão da Nimusa, esquina de Washington Luiz com Tadeu Kosciusko, o
presidente do Brasil versus o herói da libertação da Hungria. Ali, tudo vira
pizza, suco e cheeseburger. Os policiais falam pouco, devem ter tido mais um
dia complicado, o trabalho que praticam não é nada fácil.
9
Banho tomado, Ursula dormindo,
Jorge Nunes fazendo graça nos comentários de futebol da Tupi, aluguel pago, luz
paga, certo aroma de paz, alguma saudade de quem deveria estar comigo, aflição
pelos que estão sofrendo com a chuva e mais um dia se foi.
A vida é breve.
@pauloandel
16012013
Monday, January 14, 2013
Cinema da Romênia
Mostra reúne 19 filmes da produção cinematográfica da Romênia pós-2000
A CAIXA Cultural Rio de Janeiro apresenta, de 15 a 27 de janeiro, a mostra “Cinema Romeno Contemporâneo”, que vai exibir um panorama da produção cinematográfica romena dos últimos 10 anos. Além da exibição dos filmes, serão realizados dois debates, com os temas “O cinema romeno e o sucesso da crítica”, no dia 19, e “A crise política do Leste Europeu, seu reflexo no cinema e as possíveis relações com o cinema brasileiro”, no dia 26.
A programação inclui os mais importantes filmes da cinematografia romena pós-2000, selecionados pelos curadores Diogo Cavour e Ana Ribeiro. A mostra busca suscitar tanto um debate histórico sobre o país europeu, quanto um debate estético, revelando o cinema romeno contemporâneo como um fenômeno e não uma indústria ou um movimento. Destacam-se os dramas individuais de personagens, vivendo um cotidiano povoado por crises políticas, no momento imediatamente anterior à queda do comunismo ou no momento atual.
“O objetivo da mostra é apresentar um panorama da nova geração de cineastas romenos, que surge no final dos anos 1990, mas que só passa a ganhar destaque e atenção da crítica internacional no decorrer dos anos 2000. Mesmo sendo, em sua maioria, investidas individuais, jovens cineastas já conquistaram inúmeras premiações e fama internacional. Apesar da relutância em defini-los como um grupo, observa-se um conjunto de afinidades estéticas e temáticas”, explicam os curadores.
Entre os filmes em cartaz, na mostra, destacam-se: “Trem da vida”, do diretor Radu Mihaileanu, sucesso de público e crítica; “12:08, à Leste de Bucareste”, de Corneliu Porumboiu, que conquistou a Caméra d’Or para diretor estreante, em 2006; “4 meses, 3 semanas e 2 dias”, de Cristian Mungiu, Palma de Ouro em Cannes, em 2007; e “California dreaming”, de Cristian Nemescu, que venceu a Un Certain Regard, em 2007.
Serviço:
Mostra “Cinema Romeno Contemporâneo”
Data: de 15 a 27 de janeiro de 2013 (terça-feira a domingo)
Local: CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Cinema 1
Endereço: Av. Almirante Barroso, 25 – Centro (Metrô: Estação Carioca)
Telefone: (21) 3980-3815
Ingressos: R$ 4,00 (inteira) e R$ 2,00 (meia). Além dos casos previstos em lei, clientes CAIXA pagam meia
Bilheteria: de terça-feira a domingo, das 10h às 20h.
Lotação: 78 lugares (mais 3 para cadeirantes)
Monday, January 07, 2013
O dia da independência nacional
Macalé/ Capinam/ 1969
Aos 15 anos eu nasci em Gotham City
E era um céu alaranjado em Gotham City
Caçavam bruxas nos telhados de Gotham City
No dia da Independência Nacional
E era um céu alaranjado em Gotham City
Caçavam bruxas nos telhados de Gotham City
No dia da Independência Nacional
Cuidado! Há um morcego na porta pricipal
Cuidado! Há um abismo na porta principal
Eu fiz um quarto bem vermelho em Gotham City
Sobre os muros altos da tradição de Gotham City
No cinto de utilidades as verdades Deus ajuda
A quem cedo madruga em Gotham City
Cuidado! Há um abismo na porta principal
Eu fiz um quarto bem vermelho em Gotham City
Sobre os muros altos da tradição de Gotham City
No cinto de utilidades as verdades Deus ajuda
A quem cedo madruga em Gotham City
Cuidado! Há um morcego na porta pricipal
Cuidado! Há um abismo na porta pricipal
Cuidado! Há um abismo na porta pricipal
No céu de Gotham City há um sinal
Sistema elétrico e nervoso contra o mal
Meu amor não dorme, meu amor não sonha
Não se fala mais de amor em Gotham City
Sistema elétrico e nervoso contra o mal
Meu amor não dorme, meu amor não sonha
Não se fala mais de amor em Gotham City
Cuidado! Há um morcego na porta pricipal
Cuidado! Há um abismo na porta pricipal
Os mortos vivos eles peranbulam em Gothan City
Agora eu vivo o que eu vivo em Gothan City
Chegou a hora da verdade em Gothan City
E a saída é a porta principal...
Cuidado! Há um abismo na porta pricipal
Os mortos vivos eles peranbulam em Gothan City
Agora eu vivo o que eu vivo em Gothan City
Chegou a hora da verdade em Gothan City
E a saída é a porta principal...
@pauloandel
Transeunte II
ninguém me pertence
ninguém
há um ninguém na multidão
então
sem rancor ou desilusão
um sorriso se acende:
contravenção!
é que ninguém me pertence
nem mesmo eu
nem mesmo a dor que nos apavora
não me pertence a mágoa
o drama
a lembrança
e qualquer outro sentimento
já não pertenço à cor
ao cais
a uma noite vulgar
ou certas formalidades rasteiras
ninguém me pertence
nenhuma pessoa física
jurídica
repleta ou vazia
nada é meu nem ninguém
sou o nada e para ninguém
nenhum também tão bem
enquanto o mais estranho em tudo isso
é que
mesmo assim
não percorro qualquer chão de
liberdade sequer
num porém
@pauloandel07012013
ninguém
há um ninguém na multidão
então
sem rancor ou desilusão
um sorriso se acende:
contravenção!
é que ninguém me pertence
nem mesmo eu
nem mesmo a dor que nos apavora
não me pertence a mágoa
o drama
a lembrança
e qualquer outro sentimento
já não pertenço à cor
ao cais
a uma noite vulgar
ou certas formalidades rasteiras
ninguém me pertence
nenhuma pessoa física
jurídica
repleta ou vazia
nada é meu nem ninguém
sou o nada e para ninguém
nenhum também tão bem
enquanto o mais estranho em tudo isso
é que
mesmo assim
não percorro qualquer chão de
liberdade sequer
num porém
@pauloandel07012013
Friday, January 04, 2013
Thursday, January 03, 2013
Down the road
Hoje faz seis anos do pior dia de toda a minha vida.
Minha mãe comeu um sanduíche de peito de frango com salada e deitou cedo.
Eu, também, como raríssimas vezes em toda a minha vida. Sete da noite estava dormindo, exausto.
Veio a madrugada, meu pai me chamou assustado. É que minha mãe tinha parado de respirar durante o sono. Faleceu.
Naquele dia, eu preferia ter morrido a ter que passar por aquilo. E foi algo que mudou minha vida para sempre. Eu também morri e virei outro, muito outro. Mas jamais traí os ensinamentos de minha mãe sobre bondade, atitude, respeito, amor ao próximo.
E quem disse que minha mãe morreu?
Todo dia está lá em casa, assim como meu pai, seja numa lembrança, uma piada, um objeto, uma foto.
Não poder abraçá-la e beijá-la é péssimo. Mas só de poder ter vivido com ela trinta e oito anos já valeu toda a minha vida.
Minha mãe é meu amor. E isso basta.
@pauloandel
Wednesday, January 02, 2013
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