Translate

Wednesday, January 30, 2013

Outro chão



e eu me canto em chão
tanto chão tantos passos
em falso na contramão
tantos hiatos falhos fatos
para lavrar desilusão
mas não desisto não
pois é do chão que germino
erguendo a cabeça
e nenhuma sentença
maldita me atingirá - oh não!
chão de renascença
e o coração de um menino 
mendigo numa calçada 
de sonhos  - o céu, nem tão
tristonho, é uma alameda
para se esmolar felicidade
por entre as calçadas
das grandes corporações:
será mais sonho? 


@pauloandel 30 01 2013

Tuesday, January 29, 2013

A Epopeia da volta



Por Zeh Augusto Catalano

Peço desculpas pelo tema abordado fugir ao assunto central deste blog, mas acho necessário compartilhar essa historinha.

Ontem, 28/01/2013, vôo GLO 1590, marcado pras 21:35h no Santos Dumont, o aeroporto doméstico do Rio de Janeiro. Chegamos 20:15h no aeroporto, que estava, àquela altura, fechado por causa de uma bruma branca e baixa. Os prognósticos não eram os melhores. Na tela de info, o vôo apontava check-in aberto. Aproveitamos para trazer uma boa quantidade de livros, roupas e uma rede, o que nos fez trazer uma grande quantidade de peso. Três malas grandes, mais duas mochilas e três bolsas menores de bagagem de mão. Mais nossa bebê de três anos. Sim, à noite, com sono, uma criança de três anos vira um bebê de 15 quilos. As bolsas de mão levavam comida, livros, brinquedos, muda de roupa.

Sentamos e esperamos. Por volta de 21:15, vários vôos começaram a ser liberados e outros aparentemente cancelados. Dez da noite, o som pede que “compareçamos ao portão de embarque”… Começava a peregrinação.

O sujeito da gol nos comunica que nosso avião havia pousado no outro aeroporto, o Galeão, a meia hora de carro de distância, porque, segundo ele, o Santos Dumont fecha às 23h.

(A explicação aparece neste link abaixo. Depois volto a ela)


Entramos no portão de embarque, como se fôssemos realmente embarcar, para imediatamente pegarmos nossa bagagem. Você acha que a Gol (não sei se isso é padrão para todas as aéreas) se responsabilizou por nos transportar até o outro avião já com nossa bagagem? Nanão. A Manu de 15 quilos dormia profundamente no colo da mãe (graças a Deus) e eu precisei empilhar as 3 malas, cada uma com duas toneladas, e mais toda a bagagem de mão num carrinho que, por Murphy, puxava completamente para a direita e que me obrigou a equilibrar as coisas e fazer um esforço hercúleo (lindo isso…) pra empurrar a pirâmide desequilibrada por todo o aeroporto até o ônibus – parado do outro lado da pista, longe da rampa para descer o meio fio.

Enfim, despachados pela 2a vez os blocos de granito, entramos no ônibus para um city tour até o Galeão, aonde não pisávamos havia anos. Nada mudou. Acho que o tombaram… Meia hora depois, descer do ônibus, correr pra pegar um carrinho para receber novamente os ebós. As malas parecem pesar cada vez mais. Manu segue apagada. A mãe morta de cansaço. Os passageiros pegam as malas para levar ao balcão da gol, onde são simplesmente atiradas na esteira para ir para o outro avião.

Às cinco para o dia seguinte, enfim, decolamos. Chegamos em casa às 2:20 da madrugada. Seis horas de viagem e algumas conclusões:

- Informação é tudo. Não lembrava desse inacreditável horário de funcionamento do SDU. Mas mesmo que lembrasse dele, acreditava ser algo coerente. Uma coisa é você agendar vôos para meia-noite, uma da manhã, e fazer o aeroporto operar noite adentro de forma planejada. Outra coisa é fechar o aeroporto pontualmente às 23h e impedir um vôo que poderia decolar 23:15, por exemplo, de seguir adiante. Os responsáveis por estas maravilhosas normas de operação certamente não pegam vôos noturnos. Isso transforma o horário de 22:30 às 23h do Santos Dumont na embaixada americana em Saigon, com todos querendo se agarrar ao último helicóptero pra fugir dali. Conclusão: vôos tardios no Santos Dumont, nunca mais.

- Vou pesquisar acerca das responsabilidades das companhias aéreas sobre a bagagem embarcada pelos passageiros. Não sei se esse é o procedimento padrão, mas o fato é que ontem, por duas vezes, os passageiros prestaram serviço de carregadores para a Gol. Acho que a principal razão da coisa é se livrar da responsabilidade pelo sumiço de alguma bagagem neste périplo pelo Rio de Janeiro. Atira-se malas e responsabilidade na mão do passageiro. O fim.

- Não haviam pessoas de muita idade ou crianças viajando sozinhas, mas se houvesse alguma pessoa com dificuldade de locomoção ou algum gringo (coitados… sofrerão…) que não entendesse direito o que estava acontecendo, estaria entregue à própria sorte. Não houve nenhum acompanhamento por parte da Gol. O povo do ônibus era terceirizado. O portão de embarque indicado era o errado. Nós nos viramos.

O piloto fez um excelente vôo. O povo de bordo foi atencioso. Fizeram a parte deles.

Volto ao assunto outro dia. Abraços!


Saturday, January 26, 2013

Teto


teto

somos teto
subterrâneo concreto
embuste numa artéria
no coração de uma
grande capital
somos teto

sem casa e lixo
nenhuma parede moderna
errantes na idade da pedra
desfilando miséria

e passos apressados
ao lado mostram o
que valemos: uma cédula
de indiferença
teto e chão, terror ao léu
vizinhos de respeitáveis
corporações
nenhum brinquedo certo
nenhum sonho a cumprir
a morte nunca foi tão

desejo sincero - e o 
preconceito está nos 
olhos de quem respira
somos teto
sem eira nem beira
nenhum plano por perto
e nenhum catalano 
indignado será
capaz de resgatar
o que nunca tivemos 
ao certo.


vanessa

que tal a minha carne
virar carne crua na tua
saliva e a tua carne 
também virar carne
crua na saliva que me cabe?

eu faço uma promessa
eu compro uma roupa nova
e monto um kit completo:
casa, piscina, floresta,
recantos de um bastante
mais do que esperto.


0800

deixe seu recado depois do sinal pago.


@pauloandel



Friday, January 25, 2013

Nego Dito, não nego o escrito

Meu nome é 
Benedito João dos Santos Silva Beleléu 
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé 

Eu me invoco eu brigo 
Eu faço e aconteço 
Eu boto pra correr 
Eu mato a cobra e mostro o pau 
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar 
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu 
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé 

Tenho o sangue quente 
Não uso pente meu cabelo é ruim 
Fui nascido em Tietê 
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar 
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu 
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé 

Não gosto de gente 
Nem transo parente 
Eu fui parido assim 
Apaguei um no Paraná, pá, pá, pá, pá 
Meu nome é Benedito João dos Santos Silva Beleléu 
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé 

Quando tô de lua 
Me mando pra rua pra poder arrumar 
Destranco a porta a pontapé 
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar 
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu 
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé 

Se tô tiririca 
Tomos umas e outras pra baratinar 
Arranco o rabo do satã 
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar 
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu 
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé 

Se chamá polícia 
Eu viro uma onça 
Eu quero matar 
A boca espuma de ódio 
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar 
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu 
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé 

Se chamá polícia 
Eu vou cortar tua cara 
Vou retalhá-la com navalha 


Friday, January 18, 2013

Beck!

Um dos mais geniais artistas norte-americanos dos últimos 15 anos.






Wednesday, January 16, 2013

433



1

Satriani toca sua guitarra vigorosa no aparelho de som. Gosto dele. Tenho poucos discos, mas é inegável reconhecer seu talento continental. Comprei o disco há pouco, antes da tempestade que alagou o Rio mais uma vez. As chuvas somaram forças e mostraram que nossa cidade é refém permanente da natureza.

2

Shopping center não é minha praia, mas precisava comprar uma calça, uma bermuda titular para o ano que se inicia e, se possível, pescar a versão 2013 do Velvet underground, “disco da banana” (Andy Warhol, claro).

Rua do Riachuelo, belos retratos de lixo puro entupindo os ralos. Água de merda exalando e fazendo das tampas e bueiros uma putrefação admirável. O mesmo mendigo na porta da Pacheco pedindo uma janta, sempre sorrindo com se estivesse a desafiar a própria dor insuportável da alma ou esmiuçando a loucura necessária para viver no inferno capitalista sem um centavo que não seja de doação. – É um vagabundo! – Por que não vai trabalhar? – Quem lhe daria emprego? – E qual emprego, ora? À drogaria, uma fila enorme de pessoas esperando por medicamentos populares, que permita o prolongamento de suas vidas populares, ali eu era mais um, mas desisti: um só atendente para uma dezena de pessoas. Para que melhorar o atendimento? Os pobres precisam disso, ora! - sempre o mesmo discurso reacionário.

3

O motorista do 433 faz várias barbeiragens no caminho da Glória até o Rio Sul. E canta e ri. Acha graça. A vida dos outros e a própria em risco. Achei que alguém fosse dizer que isso era culpa do PT - ou de Lula - e sorri. Trata-se de um percurso rápido, sem trânsito, menos de dez minutos e desço feliz no ponto de ônibus em frente ao Glorioso. Quase ninguém nas ruas. A chuva espanta.

4

Até hoje não entendi se os banheiros do Rio Sul fedem a número 2 por excesso de usuários ou porque a limpeza não é ideal, mesmo que sempre tenha um funcionário por lá. Sempre, sempre o maldito odor 2.

5

Estamos em 2013 e eu achava que sempre teria um exemplar do DB (“disco da banana”0 disponível para compra na Saraiva. Primeiro, tinha um monte. Segundo: quem é que quer saber de Velvet Underground? Minha cara partida, minha cara lavada: todos os exemplares se esgotaram. Foi aí que surgiu o Satriani na minha vitrola eletrônica. Não tinha VU, vamos de JS. Não tenho com deixar de dizer que a atendente de caixa era muito gostosa, permito-me um momento machista como esse.

Depois, Taco para uma boa bermuda de gordo. São grandes, confortáveis, cheias de bolsos. Para o meu tamanhão, só tinha as de cores claras. Eu queria dark, chumbo, cinza, marrom, verdescuro. Não deu certo, trouxe apenas a calça. Ser gordo é difícil, mas eu gosto de ser quem sou.

Hora de voltar para casa, nada de táxi, momento de contenção.

6

Um, dois, três, 433. Meio cheio, meio vazio, disseram que tinha inundado alguma coisa no Maracanã. Aí, lembrei: será que a Lapa encheu? Dia desses, o drama da morte do artista plástico Selarón.

Bendita hora em que não tomei o táxi. Água nas duas calçadas da Mem de Sá, verdadeiro rio na rua do Lavradio, a parte sem obras da Inválidos virou Veneza sem gôndolas. Somando forças, subtraindo o social.

Outros mesmos mendigos que não o da Riachuelo vivem a morte em vida nas ruas e arredores da Cruz Vermelha. Há quem pense que tal castigo é sempre merecido. Abominável.

7

Foi um dia bom. Tive cansaço. Algumas coisas resolvidas, outras não. É janeiro. Segunda foi o aniversário de Fred e ele já não está aqui. Ontem foi mais um dia 15 e seguimos na labuta. Lá fora chove, a vida escorre nos alagamentos.

8

Desço para comprar um sanduiche, mais um suco para Ursula. Dois policiais do Core também lancham tranquilamente no balcão da Nimusa, esquina de Washington Luiz com Tadeu Kosciusko, o presidente do Brasil versus o herói da libertação da Hungria. Ali, tudo vira pizza, suco e cheeseburger. Os policiais falam pouco, devem ter tido mais um dia complicado, o trabalho que praticam não é nada fácil.

9

Banho tomado, Ursula dormindo, Jorge Nunes fazendo graça nos comentários de futebol da Tupi, aluguel pago, luz paga, certo aroma de paz, alguma saudade de quem deveria estar comigo, aflição pelos que estão sofrendo com a chuva e mais um dia se foi.

A vida é breve.

@pauloandel

16012013

Monday, January 14, 2013

Cinema da Romênia



Mostra reúne 19 filmes da produção cinematográfica da Romênia pós-2000

A CAIXA Cultural Rio de Janeiro apresenta, de 15 a 27 de janeiro, a mostra “Cinema Romeno Contemporâneo”, que vai exibir um panorama da produção cinematográfica romena dos últimos 10 anos. Além da exibição dos filmes, serão realizados dois debates, com os temas “O cinema romeno e o sucesso da crítica”, no dia 19, e “A crise política do Leste Europeu, seu reflexo no cinema e as possíveis relações com o cinema brasileiro”, no dia 26.

A programação inclui os mais importantes filmes da cinematografia romena pós-2000, selecionados pelos curadores Diogo Cavour e Ana Ribeiro. A mostra busca suscitar tanto um debate histórico sobre o país europeu, quanto um debate estético, revelando o cinema romeno contemporâneo como um fenômeno e não uma indústria ou um movimento. Destacam-se os dramas individuais de personagens, vivendo um cotidiano povoado por crises políticas, no momento imediatamente anterior à queda do comunismo ou no momento atual.

“O objetivo da mostra é apresentar um panorama da nova geração de cineastas romenos, que surge no final dos anos 1990, mas que só passa a ganhar destaque e atenção da crítica internacional no decorrer dos anos 2000. Mesmo sendo, em sua maioria, investidas individuais, jovens cineastas já conquistaram inúmeras premiações e fama internacional. Apesar da relutância em defini-los como um grupo, observa-se um conjunto de afinidades estéticas e temáticas”, explicam os curadores.

Entre os filmes em cartaz, na mostra, destacam-se: “Trem da vida”, do diretor Radu Mihaileanu, sucesso de público e crítica; “12:08, à Leste de Bucareste”, de Corneliu Porumboiu, que conquistou a Caméra d’Or para diretor estreante, em 2006; “4 meses, 3 semanas e 2 dias”, de Cristian Mungiu, Palma de Ouro em Cannes, em 2007; e “California dreaming”, de Cristian Nemescu, que venceu a Un Certain Regard, em 2007.

Serviço:
Mostra “Cinema Romeno Contemporâneo”
Data: de 15 a 27 de janeiro de 2013 (terça-feira a domingo)
Local: CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Cinema 1
Endereço: Av. Almirante Barroso, 25 – Centro (Metrô: Estação Carioca)
Telefone: (21) 3980-3815
Ingressos: R$ 4,00 (inteira) e R$ 2,00 (meia). Além dos casos previstos em lei, clientes CAIXA pagam meia
Bilheteria: de terça-feira a domingo, das 10h às 20h.
Lotação: 78 lugares (mais 3 para cadeirantes)



Monday, January 07, 2013

O dia da independência nacional




Macalé/ Capinam/ 1969

Aos 15 anos eu nasci em Gotham City
E era um céu alaranjado em Gotham City
Caçavam bruxas nos telhados de Gotham City
No dia da Independência Nacional
Cuidado! Há um morcego na porta pricipal
Cuidado! Há um abismo na porta principal

Eu fiz um quarto bem vermelho em Gotham City
Sobre os muros altos da tradição de Gotham City
No cinto de utilidades as verdades Deus ajuda
A quem cedo madruga em Gotham City
Cuidado! Há um morcego na porta pricipal
Cuidado! Há um abismo na porta pricipal
No céu de Gotham City há um sinal
Sistema elétrico e nervoso contra o mal
Meu amor não dorme, meu amor não sonha
Não se fala mais de amor em Gotham City
Cuidado! Há um morcego na porta pricipal
Cuidado! Há um abismo na porta pricipal

Os mortos vivos eles peranbulam em Gothan City
Agora eu vivo o que eu vivo em Gothan City
Chegou a hora da verdade em Gothan City
E a saída é a porta principal...
@pauloandel

Sensation


@pauloandel


Transeunte II

ninguém me pertence
ninguém 
há um ninguém na multidão 
então 
sem rancor ou desilusão 
um sorriso se acende: 
contravenção! 
é que ninguém me pertence
nem mesmo eu 
nem mesmo a dor que nos apavora 
não me pertence a mágoa 
o drama 
a lembrança 
e qualquer outro sentimento
já não pertenço à cor
ao cais 
a uma noite vulgar 
ou certas formalidades rasteiras 
ninguém me pertence 
nenhuma pessoa física 
jurídica 
repleta ou vazia 
nada é meu nem ninguém 
sou o nada e para ninguém
nenhum também tão bem
enquanto o mais estranho em tudo isso 
é que 
mesmo assim 
não percorro qualquer chão de 
liberdade sequer
num porém

 @pauloandel07012013

Friday, January 04, 2013

Meu velho camarada

Thursday, January 03, 2013

Down the road

Hoje faz seis anos do pior dia de toda a minha vida.

Minha mãe comeu um sanduíche de peito de frango com salada e deitou cedo.

Eu, também, como raríssimas vezes em toda a minha vida. Sete da noite estava dormindo, exausto.

Veio a madrugada, meu pai me chamou assustado. É que minha mãe tinha parado de respirar durante o sono. Faleceu.

Naquele dia, eu preferia ter morrido a ter que passar por aquilo. E foi algo que mudou minha vida para sempre. Eu também morri e virei outro, muito outro. Mas jamais traí os ensinamentos de minha mãe sobre bondade, atitude, respeito, amor ao próximo.

E quem disse que minha mãe morreu?

Todo dia está lá em casa, assim como meu pai, seja numa lembrança, uma piada, um objeto, uma foto.

Não poder abraçá-la e beijá-la é péssimo. Mas só de poder ter vivido com ela trinta e oito anos já valeu toda a minha vida.

Minha mãe é meu amor. E isso basta.

@pauloandel







Wednesday, January 02, 2013

Os subterrâneos

Metrô Arcoverde, Copacabana, 29/01/2012




@pauloandel

Wednesday, December 26, 2012

"Boas festas..."




O mundo gira, a Lusitana roda e demos mais uma volta em torno do Sol, o mesmo que um dia engolirá a Terra dentro de alguns bilhões de outros anos. 

E o mundo não se acabou? Não. 

Ou melhor, mais ou menos. 

Não fazia o menor sentido a Terra ser explodida num ratatá digno de conflito tráfico x polícia. 

Nem faz sentido deixarmos de perceber que o fim do mundo já está por aí há tempos. 

Quando uma garota bonita, mestranda, esforçada, segue para seu trabalho e morre com uma bala na cabeça em pleno ônibus no caminho, isso é o fim do mundo. 

Quando uma criança de dez anos abre sua boneca de presente de Natal e cai vitimada por uma bala na cabeça, isso porque jovens selvagens fabricados pelo Estado dão tiros para o alto à toa, isso é o fim do mundo. É, o fim do mundo pode ser ainda pior: levada para um dos maiores hospitais públicos do país, a criança leva oito horas para ser operada, dado que o neurocirurgião faltou ao plantão hospitalar – afinal, é só mais um dado estatístico, não é verdade? 

O Rio de Janeiro tem onze mil moradores de rua, e não são onze mil “vagabundos imprestáveis em vagabundagem voluntária”. Eis o fim do mundo. 

Não precisamos de grandes catástrofes. 

Na grande cidade, já vivemos uma permanente, quase silenciosa e quase não vista por todos aqueles que viram o rosto para o lado, evitam passar na mesma calçada e estão loucos para que o próximo shopping center tenha a prometida “área VIP”, livre de gordos, pobres, pretos, suburbanos e demais classificações fascistóides. 

Vamos vivendo por entre os destroços do mundo. 

Ano que vem tem mais. 

A você, que prestigiou este blog em 2012, o meu grande abraço. 

Em janeiro/13 eu volto.

@pauloandel 

 Em memória de Antonio Campos

Tuesday, December 18, 2012

Pavimentação!



Ninguém sabe como o plástico é feito 
Ninguém sabe 
Como o leite é feito ninguém sabe, 
Não se sabe 
A formula da Coca-Cola é segredo
A da Pepsi também
Foi feita por alguém 
Plástico foi feito por ninguém 
Sabe como o chão é feito, 
Do que é feito o chão?
Pé esquerdo, pé direito, 
Pavimentação. 
Mas do que é feito o chão? 
É feito de pedra, É feito de piche.
É feito de pedra e piche. 
Pá pá pá pavimentação, pavimenta, 
Menta, mentalização! 
Mas ninguém sabe como a gente é feita, 
Se a gente é feita ou não. 
Mão esquerda, mão direita, 
Bate palma então! 
Pá pá pá pavimentação, pavimenta, 
Menta, mentalização! 
Mas do que é feita a gente?
É feita de pé, 
É feita de mão. 
É feita de pé e mão. 
Ou não? 

 Titãs 1989 

 @pauloandel

Friday, December 14, 2012

O auge da incompetência


Monday, December 10, 2012

Eu, idiota





Agora somos o verão, o dezembro, o fim do ano, o fim de um ciclo imaginário. Ano que vem será tudo diferente e bom, o sol nascerá mais forte do que nunca. Paz e prosperidade serão fiéis vingadoras da sociedade. Por conta da lei dos homens, parece que o expediente termina mais cedo: ruas mais cheias debaixo de céu claro, filas e filas, gente correndo para os shopping centers porque perder as promoções é inaceitável. As contas-correntes vão bem; se não forem, o cheque especial não deixa mentir. Enquanto isso, na sala de jantar as pessoas estão ocupadas em nascer e morrer. Enquanto isso, anoitece em certas regiões. Enquanto isso, as manchetes de jornais e revistas vulgares apregoam práticas cada vez mais indesejáveis para uma conduta em vida social: dane-se o próximo, dane-se o pobre, só os fortes sobrevivem, a hipocrisia é essencial para o bem-viver. Sim, as coisas mudaram, é possível ver pobres com vários artigos nos carrinhos de supermercados, isso é bom, mas ainda falta muito. As pessoas que sofrem com a mendicância nas ruas, as pessoas que moram nas áreas de risco que certamente vão sofrer com as chuvas a caminho, as pessoas que fazem seus dias natimortos entre a fumaça de pedras de crack. Lembro-me de minha querida e amada mãe sempre a me dizer que o egoísmo era detestável e que eu deveria sempre estar longe dele; foi o que tentei fazer a vida inteira. E faço. Quando chega essa época de festas, sempre paro para pensar nas pessoas mais necessitadas, nas que mais sofrem. Não tenho interesse em grandes festas de Natal, gente comendo e bebendo até cair, gritos e música alta que nada tem a ver com o clima de reflexão e pensamento coletivo que deveria ser a tônica do dezembro. E não somente reflexão: deveria ser um tempo de atitude positiva para com o outro, não basta apenas sentir e lamentar pela bondade – fazer o bem está mais à frente, mais acima. Escrevo porque no tumulto de um shopping center lotado, ninguém há de me ouvir: alguém dirá que sou um idiota porque as pessoas ali presentes têm coisas mais importantes a fazer. Fazer o bem não tem a ver propriamente com a opção política, intelectual, religiosa ou social de cada um – ao menos, não deveria. O fato é que hoje somos tão próximos de um grande futuro, tão cheio de tecnologias, pequenos confortos e empolgantes modernidades que, por vezes, muitos se esquecem de valores essenciais: amizade, fraternidade, respeito, consideração, dignidade, tudo o que deveria ser tão comum e que é tão desprezado entre veículos e pedestres apressados, grandes liquidações em vitrines, camarotes VIP e outras futilidades que agora não sei dizer ao certo. Deveríamos praticar o bem e sermos mais fraternos porque isso condiz com a natureza humana, não o contrário. Sim, a realidade é cruel e bem diferente. Não me sinto confortável em poder jantar bem, com conforto, em minha quando penso que, debaixo da marquise de meu prédio, alguém passa fome, sede e tem dificuldades para tomar banho, ou mesmo ir ao banheiro. Para alguns, parece mais confortável dizer coisas como “são vagabundos irrecuperáveis” ou “eles querem ficar mesmo sem fazer nada”; ora, você que me lê por ora me daria a oportunidade de emprego se eu batesse em sua porta sujo, rasgado e com odor desagradável? É. Um dia todos seremos carne podre ou cinzas, todos iremos feder e desaparecer, todos seremos o nada diante do nada e há quem se julgue mais importante do que o outro. Escrevo porque é a melhor maneira de falar sozinho: eu, a tela e algum ruído por perto. Escrevo porque sou um idiota: é mais confortável do que parecer desumano a mim mesmo. Lá fora há um calor de verão. Pessoas contam nos dedos os segundos para correrem para suas casas confortáveis, onde não lerão nada de útil, não pensarão no próximo e sequer cogitarão idiotas como eu. Isso me conforta e alivia, ninguém sabe como. Chegaram as boas festas, todos sonham com um próspero ano novo e poucos sonham com o bem do outro.

pauloandel

Friday, December 07, 2012

As ruas rugem







@pauloandel

Thursday, December 06, 2012

Niemeyer x Reinaldo: gênio versus idiota




Neste momento, o corpo de Oscar Niemeyer está no Palácio do Planalto. 

Para a tristeza de milhões de pessoas, chegou a hora de velá-lo. 

Gênio da raça, o Doutor Oscar estava a dez dias de completar 105 anos. Viveu muito, felizmente. Deu muito ao mundo, como arquiteto, pensador e, principalmente, homem de caráter e dignidade inquestionáveis.

Hoje, as manchetes do mundo curvam-se à genialidade de um dos seus maiores criadores, referência perene da arquitetura contemporânea.

No entanto, o Brasil tem em sua pseudo-imprensa alguns dos mais deploráveis “formadores de opinião” que se possa imaginar. 

É o caso da ex-revista Veja e seu jagunço Reinaldo Azevedo, notório por seu exotismo e suas poses fotográficas de gosto bastante duvidoso. 

Hoje, não para surpresa, mas sim indignação de milhões de pessoas, Reinaldo foi mais Reinaldo do que nunca: disparou todas as ofensas ao recém-falecido Oscar Niemeyer, gesto típico de quem preza o mau-caratismo – neste caso, bastante natural. 

Capitão-do-mato entre os destroços de uma ex-publicação que hoje resume-se a ser a porta-voz de um partido em frangalhos – e porão de grupos econômicos desinteressados da sociedade brasileira em seu bojo - Reinaldo ganhou espaço na mídia brasileira às custas de calúnias, difamações e malversações – neste caso, superando tudo em matéria do ser escroque: ofendeu a um morto que não pode mais se defender na terra.

Não é de meu tom perder tempo de minhas ideias com um lacaio do fascismo econômico. Apenas o fiz porque excedeu quaisquer limites de ética e dignidade humanas – e se o encontrasse na rua agora, fatalmente eu seria preso por agressão. Não é novidade em se tratando de Veja: o “foragido enrustido” Mainardi já cometeu tamanha sandice ao agredir verbalmente outro recém-falecido à época: ninguém menos do que Carlos Drummond de Andrade. Como se vê, efeminados em total frenesi ofendendo a memória de ícones da cultura brasileira é regra comum na ex-revista. 

Hoje, na imprensa brasileira, Veja tem o mesmo significado editorial que o bunker de uma comunidade carente tem para os traficantes de drogas ilegais. E talvez isso faça sentido mesmo: no fim das contas, Reinaldo é mero olheiro do tráfico da informação. Investe seu tempo em material pernóstico que é chancelado editorialmente com o propósito de ser “formação de opinião” (leia-se propaganda eleitoral gratuita a favor de seus coronéis econômicos, perdida no tempo e no espaço) – favor não confundir um escritor com um fazedor de livros. Investe num recurso básico que faz babar os leitores e admiradores da ex-revista: a citação de autores e frases, num verdadeiro circo intelectualoide non-sense. Tudo isso bastante temperado com mediocridade de caráter e ausência de princípios éticos ou mesmo etiqueta – o oposto do que ele tenta oferecer em suas fotos afetadas. Ah, sim, quem não concorda com suas ideias é um idiota. Hitler começou assim, mas Reinaldo não tem sequer hombridade, quanto mais coragem para defender suas ideias frente a frente com os que destrata, ofende e agride verbalmente, amparado pela “liberdade de imprensa” que o imuniza para que possa ser cada vez mais dos que vai contra a defesa do Brasil como sociedade justa, igualitária e fraterna. Um inimigo do povo e de seus valores, travestido de intelectual (rasteiro, aliás) em defesa de uma liberdade que só encontra eco entre os mais poderosos economicamente e, claro, entre os ignorantes que aplaudem a exploração da própria mão-de-obra.

Ao atacar um falecido, Reinaldo oferece exatamente o que sua plateia quer. Ficaria melhor se vestisse trajes do Moulin Rouge; seu can-can verbal ao menos teria um figurino menos brega.

Ah, se ele fosse homem de verdade e flanasse feito uma mariposa aqui pela Rio Branco, Carioca, Praça Tiradentes. Como seria bom acertar-lhe um firme soco no nariz nesse momento. Parti-lo ao meio, retribuindo ao vivo toda a violência que tem oferecido a milhões de pessoas por conta de seu fascismo. Contra os serviçais da malignidade, a lei é pouca.

Eu responderia por este delito com a mais absoluta satisfação.

Quem sabe não consigo?

Pensando bem, impossível: Reinaldo não é homem de verdade. Não pela opção sexual, longe disso; falo na verdade de hombridade, dignidade, respeito, caráter - elementos que lhe soam como um ET em Ipanema.

Paulo-Roberto Andel
@pauloandel

A vida é um sopro

@pauloandel

Wednesday, December 05, 2012

Thanks, Dave!


Dave Brubeck (1920-2012)

Monday, December 03, 2012

Cabeça dinossauro cabeça!






Concreto eterno




Os clássicos são eternos.


Décio Pignatari

1927-2012

Saturday, December 01, 2012

Eis



eis meu tempo agora –
nefasto, sóbrio, carinhoso

ninguém há de molestar
nossas velhas esquinas
ninguém há de vociferar
pelo afeto que nos enterra:
somos afetuosos demais –
onde mora nossa atitude?
e a solidariedade? Amor? –
gostamos de certa hipocrisia
as festas são importantes
é preciso fazer filas e filas
tilintar cartões poderosos
e batucar moedas na mão
do primeiro pobre que venha
à tona que desonre a orla –
eis meu tempo agora -
tantas festas, tanto amor
e a sublime solidão sobrevoa
todos os pensamentos de
quem se diz mais feliz
oh, agora somos dezembro?
vamos aplaudir a grande árvore!
vamos ensaiar batucadas
que o carnaval não perde tempo
não é hora de perder tempo 
uns com os outros, um do outro
lá fora há uma grande promoção –
sim, agora somos dezembro!
parecemos tão amáveis e felizes
tão sinceros em nossa vã
falsidade estampada ao léu
Ho! Ho! Ho!
eis meu tempo agora
sou uma criatura abominável:
enxergo com exatidão
a irrefutável mazela do outro
que também é minha
tão minha, perdidamente
sozinha.

@pauloandel 01122012



Sontag!


A poesia - A poesia - A poesia

A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias
(do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.


Manoel de Barros, In Tratado geral das grandezas do ínfimo, 
Ed. Record, 2001