eis meu tempo agora –
nefasto, sóbrio, carinhoso
ninguém há de molestar
nossas velhas esquinas
ninguém há de vociferar
pelo afeto que nos enterra:
somos afetuosos demais –
onde mora nossa atitude?
e a solidariedade? Amor? –
gostamos de certa hipocrisia
as festas são importantes
é preciso fazer filas e filas
tilintar cartões poderosos
e batucar moedas na mão
do primeiro pobre que venha
à tona que desonre a orla –
eis meu tempo agora -
tantas festas, tanto amor
e a sublime solidão sobrevoa
todos os pensamentos de
quem se diz mais feliz
oh, agora somos dezembro?
vamos aplaudir a grande árvore!
vamos ensaiar batucadas
que o carnaval não perde tempo
não é hora de perder tempo
uns com os outros, um do outro
lá fora há uma grande promoção –
sim, agora somos dezembro!
parecemos tão amáveis e felizes
tão sinceros em nossa vã
falsidade estampada ao léu
Ho! Ho! Ho!
eis meu tempo agora
sou uma criatura abominável:
enxergo com exatidão
a irrefutável mazela do outro
que também é minha
tão minha, perdidamente
sozinha.
@pauloandel 01122012
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