Eles eram phoda. Ainda são. De alguma maneira as bandas nunca acabam - elas deixam de gravar, tocar, os integrantes se aposentam, outros morrem mas o som fica. Mais de trinta anos depois o Nirvana tem uma potência e uma energia supremas.
Demorei a entender a coisa. Quando surgiu a turma de Seattle, eu era muito mais Pearl Jam - é quase um time de coração. Você vê o primeiro álbum, tem "Black", "Alive", "Jeremy", "Evenflow", depois "Dissident" no segundo, aquilo era uma pancada n'alma. Segui com eles para sempre. O Nirvana, não. Demorou. Eu ouvia, achava legal mas acho que nos meus círculos da época não rolava tanto. A MTV estava com tudo - e eu quase trabalhei lá... snif... - mas era um tempo de juventude. Faculdade, calouras lindas, chopes, churrascos e, em certas hora, eu me enchi de ser o aluno mediano que jamais tinha sido, então encarei 28 disciplinas e passei direto em 26 delas. A TV ficou rara por falta de tempo e depois, pela pobreza mesmo, eu fiquei sem TV. Voltei a ter uma em 1994, voltei a ver tudo feito um louco mas aí o Nirvana é que tinha dado o fora, como bem sabemos.
Eu me toquei de vez do quanto a banda era phoda no Acústico MTV. Fenomenal. Ali deu pra captar todas as nuances incríveis da banda que juntava caos, porrada, lirismo e mensagem num pote cheio de açúcar e pimenta malagueta. Virei um fã tardio, mas me salvei. Grande admirador da banda. Fã, não: o Regis Tadeu tem razão, todo fã na acepção máxima da palavra é um idiota. Viva o som.
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Eu me lembro de onde estava quando soube da morte de Kurt Cobain: numa banca de jornais da Francisco Otaviano, a rua grã-fina de Copacabana e Ipanema. Era um sábado por volta de seis da tarde, quando já estavam entregando os jornais de domingo. O Sérgio leu e me disse com seu sarcasmo clássico, mas aí eu disse "Hã?" e voltei à banca, não acreditando. Ele riu, mas não muito, depois fomos lanchar em algum lugar - estávamos sempre lanchando, pouco importando o dinheiro. A morte de Kurt me comoveu porque eu realmente não sabia do cenário de seus últimos dias de vida - que apontavam para o fim -, e também porque era um jovem quase da minha idade e quando a gente tem vinte e poucos anos se acha invencível, eterno, uma bobagem que a maturidade apaga tudo com um paninho e água. Não sobra uma mancha. Tudo bem, a gente mantém solidariedade pelos nossos.
"Come as you are..."
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Trinta anos depois, a loja já fechou. Vou fazer uma live aqui e dar no pé, somente às nove da noite. Tirando os blocos, o Centro do Rio está vazio e triste. Triste. Aqui ouço "All apologies", em sua versão original do álbum "In utero" (1993). E tanta coisa vem à mente porque, mesmo sendo um admirador tardio, eu não deixei de associar as canções às épocas - e aquela, dos anos 1990 até +- 1995, foram da pesada. Depois sofri uns baques, fiquei fora do circuito e quando voltei o mundo já era outro. Não importa: o Nirvana foi uma porrada, foi um socão no queixo e mesmo sem a dedicação devida, posteriormente compensada, eu estava por lá. Faz muito tempo, mas não me esqueço de nada e isso me dá alegria - odeio gente hipócrita que finge ser esquecida para não falar de coisas que possam lhe trazer algum mínimo incômodo.
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