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Saturday, February 08, 2025

Boemia duranga

E a gente voltando a pé do Leblon até Copacabana de madrugada, enquanto passavam vários ônibus lotados porque as pessoas curtiam na Zona Sul, se divertiam por lá.

Às vezes queríamos ver as últimas gatonas da noite na Visconde de Pirajá, que naturalmente nem ligavam para nós. Na maioria dos casos, íamos pela orla. Era bom. A praia à noite tem um silêncio próprio. Descíamos até o Jazzmania e depois tomávamos o caminho de Copacabana. Ipanema e Leblon eram sempre mais desertas, bem vazias na madrugada - contrastando com os domingos. Copacabana, não: sempre tinha gente ou no calçadão ou até na areia, mas também tinha uma tranquilidade, um silêncio menor. 

Quando passávamos por estes lugares, nem sabíamos que eles foram desbravados pelos gigantes da arte brasileira: atores, diretores, músicos, poetas e artistas plásticos. Quanta gente boa do Brasil já tinha feito tantas vezes o mesmo caminho notívago a pé? Muita. Só queríamos nos divertir um pouco. Do Posto Seis até a Figueiredo Magalhães ainda havia dois quilômetros e muita contemplação do Atlântico Sul. Quando sobrava algum dinheiro, ainda rolava um lanche no Gordon, que ficava aberto por toda a madrugada. 

Chegava em casa na ponta dos pés: o apartamento era pequenininho, qualquer barulho na cozinha acordaria meus pais. Direto para um banho silencioso e veloz, cama. Como não havia WhatsApp, nossa resenha era só no dia seguinte, talvez na praia, no Maracanã ou em algum encontro na tarde de domingo. 

II

No Leblon ficava o pessoal de grana. Era tudo mais caro. Em Ipanema, quase isso. Às vezes a gente parava perto do Chaplin, quase na esquina da Farme de Amoedo, e ficava ali na calçada, conversando. Ainda éramos garotos, 17, 16 anos. Do outro lado da rua ficava o McDonald's abarrotado de gente. Tudo isso acabou. 

No Baixo Gávea ficava a turma do rock, mais especialmente os fãs de metal. Todo mundo de preto. Lembro de um rapaz que, dizem, tinha feito até cirurgias para ficar idêntico a Bruce Dickinson, o cantor do Iron Maiden, e realmente ele era muito parecido: todo mundo olhava quando passava. Mas o BG não era nos fins de semana e isso nos afastava, porque tinha escola e tal. Emprego era muito difícil, mas a gente tentava: nunca tinha vagas. 

III

No fim das contas, eu acho que o nosso grande barato era a volta perto do bar. A gente gostava muito daquilo: do silêncio, do ir e vir lento das ondas. Foram dezenas de vezes. 

Faltou falar das bandas. Culture Club. Smiths. Duran Duran. Ah, sim, Supertramp.

(Continua).

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