Translate

Friday, January 19, 2024

Olelha

Eu era pequenininho e aprendi a falar "orelha" do meu jeito. Ficou "olelha". Minha mãe adotou pra sempre, pra nunca mais se esquecer da minha infância. Só falávamos "olelha" e ríamos. Aliás, foi o que mais fizemos: beijos, abraços, ver desenhos animados e risos. 

Quando fiquei adolescente, sei lá como, inventei a brincadeira do orelhão: nada mais era do que fingir estar discando um número de telefone na orelha da minha mãe. Ela dava seu chorinho de três segundos e depois começava a rir. Entretanto, não gostava da ideia de ter um orelhão. 

Nos anos finais, ríamos de bobagens. Ela tinha medo de que suas orelhas crescessem conforme a idade, o que acontece com idosos. Eu vinha e falava "olelha", ela já respondia com o chorinho. As orelhas eram pequeninas, o nariz era pequenininho e lindo - ela zoava meu pai por ter um narigão maneiro. 

Não houve tempo de crescer nada. Ela morreu muito jovem, com 61 anos. Quanta coisa deixamos de viver... Mas pelo menos ficaram as lembranças maravilhosas de uma mãe amorosa, divertida e de uma tremenda inteligência, que nem o pouco estudo atrapalhou. Era uma brasileira que lutou muito, sofreu muito, mas nunca deixou de dar amor e humor ao filho. Foi o que ficou. 

Olelhinha, que nem o Cebolinha, cujo sorriso era igual ao dela. 

@pauloandel.

No comments: