Dia desses me deu de escutar bossa nova. Na verdade eu gostei desde sempre. É que eu gosto de escutar muita coisa, variando. Passo pelo rock, pelo jazz, pelo blues e até música de outros países, daqueles que nunca ninguém ouviu falar. Enfim, minha programação musical é um verdadeiro sarapatel.
Tava prestando atenção nas faixas e ouvido com calma toda aquela delicadeza, aquela riqueza que a bossa nova traz consigo, que é a música da celebração brasileira. A trilha sonora dos tempos de um país que parecia realmente dar certo, a caminho do verdadeiro progresso e da libertação do povo. Acabou que a ditadura não deixou e a Bossa Nova de certa forma ficou para trás. Mas na verdade, pensando bem, ela se espalhou pelo mundo com elegância. Os maiores craques do jazz tocaram bossa nova e se encantaram por ela. Os nossos artistas da bossa nova são reverenciados na Europa e em países como o Japão. Em todo o mundo a nossa música é aplaudida, exceto no Brasil, onde não apenas é subestimada mas às vezes agredida por pura ignorância. Os mais primitivos reduzem-na a “trilha sonora das novelas de Manoel Carlos”, com todo o ridículo contido nisso.
Bossa Nova é música de elite? Só se for intelectual. Quando explodiu nos anos 1950, Copacabana - seu palco principal - já misturava em suas ruas milionários e proletários. Naquele tempo até Ipanema ainda tinha pobres. Eu sempre escutei bossa nova sendo pobre - sou até hoje. Tom Jobim era duro, morava num colégio com a família e, quando se casou, tocava nos mafuás de Copa para sobreviver. Quando se tornou um monstro do piano brasileiro, já tinha mais horas de atuação em rendez-vous do que qualquer outro músico. João Gilberto dividia apartamentos com dois, três ou quatro amigos. Herdeira era Nara Leão e só. Vinícius tinha posses de família e carreira diplomática.
Bossa nova é música de branco? Ok, faltava diversidade no elenco de astros da época? Sim, mas a diversidade faltava em tudo. E não fosse o exílio voluntário de Johnny Alf, que nada teve a ver com racismo e sim sexualidade, o ponta de lança bossanovista seria um homem negro.
Passei pela internet e encontrei um podcast onde estava o Régis Tadeu, crítico musical bastante conhecido. O colega perguntou quem era o grande artista brasileiro. Régis falou - com justiça - de Guilherme Arantes e que Tom Jobim é um nome máximo.
O Brasil precisa respeitar o pessoal da bossa. Depois de anos com a mulher sendo tratada como destruidora de lares na música popular, é na bossa nova que ela vira a garota linda, em busca de carinhos e beijinhos, de abraços e amor. A bossa falava da beleza do mar, do namoro, do céu, da busca da felicidade.
Falamos de Tom Jobim e de João Gilberto. Celebremos Carlos Lyra, Roberto Menescal, João Donato e toda uma geração de músicos, das melhores que este país já teve.
Ninguém é obrigado a gostar da bossa. Basta respeitá-la e saber de seu passado, seu alcance mundial, sua força discreta e elegante que até hoje ecoa pelo Brasil.
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