@p.r.andel*
O que mais gosto daqui é também o que me causa certo desconforto: a estranheza.
É o lugar onde tenho menos contatos e interações, onde conheço menos gente. Me parece até misterioso.
Por muitos anos, mais de vinte, tive um emprego estável, divertido e que me tirava um pouco daqui. Nos últimos cinco, virei micro empreendedor (com todas as agruras possíveis da modalidade) e, claro, a pandemia me deu um belo jab do qual não me recuperei ainda.
Troquei de profissão, sem jamais abandonar a vocação da antiga, mas completamente desmotivado pelo "novo" mundo que, dentre outros defeitos, ainda tem acentuado etarismo, flexibilidade relativa e, em inúmeras situações, um rol de exigências muito acima do que os cargos e funções precisariam.
Mas meu foco é falar de outra coisa. Nem sei se será um péssimo cartão de visitas ou não, e isso também não me causa qualquer preocupação. É apenas uma opinião e só.
Gosto de ler perfis originais. Coisas que meus colegas curtiram, especialmente aqueles que mais admiro. Procuro, leio, me deparo com artigos e matérias até interessantes, mas quase sempre com um viés evidente: a repetição da fórmula de falar/escrever, às vezes parecendo até mesmo um verdadeiro "colão" para se fazer uma prova.
Os mesmos termos, as mesmas palavras, as mesmas frases e até pequenos parágrafos inteiros repetidos, isso sem contar o manancial de neologismos e expressões em outros idiomas, que mais parece uma tentativa flácida de oferecer erudição. Seria algum sentido de unidade ou falta de originalidade? Adesão intelectual ou cópia de segurança?
Há quem diga que o mundo corporativo deve ser desassociado dos outros ambientes, mas será isso possível? (Ainda) somos humanos, estamos nas ruas, vemos a miséria e o sofrimento a céu aberto, sonhamos, pensamos, temos sentimentos, sentimos tesão...
Quantas vezes você conheceu alguém no seu ambiente profissional que era completamente diferente - e para melhor - no cenário pessoal, por exemplo? O contrário também, lógico.
Ok. Sede de conhecimento, foco, meta, time, resultados, vitórias, colaboradores. As empresas têm que lucrar e crescer. Os funcionários querem sucesso e remuneração. Nenhum problema. Mas será que só eu acho que muita gente repete as mesmas falas, às vezes sem sequer refletir a respeito, por mera busca de resultados?
Que ninguém se ofenda com esta fala. Não é meu objetivo censurar ninguém, mas sinto falta da verdadeira originalidade nos pontos que reuni aqui. O mundo já tem guerras demais. A violência é a regra. Não quero colaborar com isso. Apenas acho tudo muito estranho nessa repetição permanente dos textos.
Um pouquinho de diversidade no vocabulário faria bem ao LinkedIn. Acho. Apenas acho.
Não quero ter certeza de nada.
*Estatístico pela UERJ, 1994. Autor de mais de 30 livros. Durante duas décadas foi autor de artigos, matérias e releases econômicos. Cronista regular do Correio da Manhã, Museu da Pelada e Panorama Tricolor.
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