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Tuesday, March 14, 2023

Titãs, Raimundos, Canisso e Dorsal Atlântica

Eu sou fã dos Titãs, muito fã. Desde que começaram a tocar no rádio, quando isso era um sinal de sucesso à vista. Entre o fim dos anos 1980 e o começo dos 1990, os Titãs eram os reis do Canecão, vi muitos shows por lá. Uma casa histórica, o ingresso barato e a dez minutos da minha casa de ônibus. Logo, logo, você estava diante de Tim Maia, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e até o Jethro Tull.

Por isso, num domingo à noite em 1992, depois de um campeonato de botão na casa do Luiz, resolvi partir para o Canecão em busca do novo show dos Titãs. Joguei minhas partidas, me despedi do pessoal, desci a Figueiredo Magalhães, peguei o ônibus na Avenida Copacabana e, em minutos, estava na bilheteria comprando meu ingresso titânico, mais uma vez. Cheguei cedo e fiquei sabendo que teria uma banda de abertura, os Raimundos. Ainda com a casa quase vazia, os novatos subiram para o palco. E meia hora depois eu estava impactado por uma verdadeira porradaria sonora, misturando som pesado com ritmos nordestinos e triângulo, além de muitos palavrões. Um negócio sensacional. Pensei na hora: esses caras vão dar liga no rock. Depois vi meu maravilhoso show titânico numa boa, mas os Raimundos foram marcantes demais. 

Pouco tempo depois, deu no que deu: os Raimundos viraram ponta no rock brasileiro, tocaram loucamente, encararam uma legião de fãs e se consagraram. Os primeiros álbuns eram demolidores e deixaram suas marcas. Acompanhei tudo de pertinho. Os anos 1990 tinham bandas brasileiras poderosíssimas surgindo, além dos Raimundos: Planet Hemp, O Rappa, Chico Science e Nação Zumbi, Pato Fu, Skank, uma turma da pesada. 

Anos depois, por vários motivos, acabei me afastando do som dos Raimundos. Fui escutar outras coisas, muitas coisas, a banda mudou de formação etc, mas nunca esqueci daquele começo deles, até por serem apadrinhados pelos Titãs, com quem sempre caminhei. E aí surge o nome do baixista Canisso, porque era o cara mais simpático e articulado da banda, sempre falando na MTV num tempo em que a emissora dava as cartas na cultura nacional.

Lembrar de Canisso e dos Raimundos é automaticamente lembrar de tempos felizes na UERJ, de grandes almoços em restaurantes como o Capelinha em Vila Isabel e o La Monet, no Méier. Grandes amigas, gatas crush. De meus últimos anos como um feliz morador de Copacabana, apesar de tudo. Coisas de 30 anos atrás, quando você é jovem e acredita piamente nos versos da charmosíssima Marina Lima: "o mundo pode ser seu, todinho seu!". Mas aí surgem os versos implacáveis de outro poeta, Cazuza: "o tempo não para". 

Assim, o tempo escorreu e Canisso, ainda tão jovem, morreu na segunda passada aos 57 anos de idade. Mesmo dia do aniversário de Chico Science, se não me engano. A comoção provocada nos fãs e as inúmeras declarações dos colegas de profissão não deixam dúvidas sobre a falta que deixará. 

Há outras histórias, muitas, mas estas eu deixo para depois. Se meu espírito já não era mais próximo aos Raimundos nos dias mais atuais, ele continua se alimentando de rock - e, por isso, encerro estas linhas saudando meu amigo e ídolo Carlos Lopes, referência da música extrema brasileira: viva a Dorsal Atlântica!

Canisso, siga em paz e obrigado por tudo. 

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