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Sunday, March 26, 2023

Paralamas no Lollapalooza

Deitado em berço esplêndido no calor infernal do Rio de Janeiro, procuro alguma coisa na TV sem o futebol de domingo. Zap dali, zap de lá, e fico sabendo que está para começar o show dos Paralamas do Sucesso no festival Lollapalooza. Uma boa pedida. 

Boa, não: excelente. Escutando e olhando para a telinha, me dei conta que o Paralamas está comigo desde a meninice, quando fui vê-los lançar o compacto de "Vital e sua moto". Faz tempo, senhor: eu tinha catorze anos, debutava no segundo grau e a gente achava o máximo pegar o ônibus circular, de Copacabana até o Jardim Botânico via Leblon, para ir ao Parque Lage só para ver a banda. Menos de dois anos depois, eles explodiram de vez no Rock in Rio e estão aí até hoje. 

Conheço literalmente todo o setlist, uma faixa atrás da outra, e a competência da banda é permanente. Tocam juntos há muitos anos com músicos que nem podem ser chamados de apoio, mas parte da banda moralmente falando. João Fera (teclados), Bidu Cordeiro (trombone) e Monteiro Jr. (saxofone) acompanham os Paralamas nos palcos há décadas, sempre com ótimos resultados artísticos. Nota 10.

A cada sucesso, a garotada do Lollapalooza urra e dança. Quando a maioria nasceu, os Paralamas já eram consagrados, mas estão tocando sob o sol a pino como se fossem iniciantes, de tão entusiasmados. É visível na tela. Então me lembro de uma cena de 1988, no Festival Alternativa Nativa que rolou no Maracanãzinho: eu, Jorge, Henrique e mais alguém, a gente no show dos Paralamas. Herbert Vianna, todo de vermelho, fez embaixadinhas com uma lata ou algo parecido. 

Se os Titãs foram avassaladores com sua mistura de pop e peso na segunda metade dos anos 1980, o Barão Vermelho foi a grande banda de rock puro daquele tempo e a Legião Urbana arrebatou multidões, o papel dos Paralamas do Sucesso não foi menos do que espetacular: além de popularizar os metais latinos no Brasil, a banda continuou rock mas temperada com sabores latino-americanos, caribenhos, jamaicanos e brasileiríssimos, numa mistura que até hoje soa maravilhosamente bem, com frescor de novidade. 

No trio base, Herbert Vianna é um dos melhores guitarristas já surgidos no Brasil, e a cozinha do contrabaixo de Bi Ribeiro com a bateria de João Barone é uma verdadeira máquina de ritmo. Aliás, anos atrás entrevistei Barone em sua casa e ele foi tão simpático que sentei no chão para trabalhar. Foi um barato: falávamos do nosso Fluminense. Barone acabou de fazer sua turnê com o Call The Police, ao lado de Rodrigo Santos e Andy Summers. É um monstro.

Uma horinha de show, todo mundo cantou a valer no Lollapalooza e está na hora do final. Olho para aqueles caras e lembro de quantas vezes os vi no Canecão, no Circo Voador, no Maracanãzinho. Quantas vezes os ouvi, quantas vezes namorei seus LPs sem dinheiro para comprá-los - e quando tive uns trocados, compensei comprando todos os CDs. Quantas vezes não alimentaram meus romances fracassados mas inesquecíveis? 

Uma das grandes bandas do mundo é 100% brasileira, e tenho orgulho de acompanhá-la desde o começo. Os Paralamas tiram é onda! 

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