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Monday, March 13, 2023

segunda no rio

Meio de março, águas a caminho, as duas prorrogações do Carnaval com seus super blocos já se foram, o verão começa a dar adeus.

A proximidade do outono parece trazer uma espécie de volta à realidade.

Você liga o jornal e a violência é cada vez mais intensa, não apenas dos grupos criminosos de sempre, mas do delinquente ocasional - aquele que nunca roubou uma tampinha de caneta e, de repente, mata alguém. Uma mulher busca uma faca e mata o namorado por ciúmes. Um monstro enche um garotinho de porradas, porque teria maltratado seu cachorro pitbull.

No Riachuelo, tradicional e esquecido bairro carioca, falta água no verão. As pessoas pagam as contas mas são humilhadas e ficam impotentes. Riachuelo, Sampaio, Rocha, Quintino, Água Santa, cheios de gente e problemas, mas completamente desprezados pelos poderes públicos. Geralmente são visitados em época eleitoral, candidatos em busca de votos e só. No fim, as pessoas são muito humilhadas. 

Deve ter briga de torcidas. Clássico no Maracanã logo mais. Tem sido assim há muitos anos. Por que será que a polícia não consegue prender pessoas que matam outras, tendo o pobre futebol como desculpa? Por que será que é tão difícil quanto prender certos traficantes e milicianos? E o que adianta proibir o uso de camisas no Maracanã se as brigas mortais podem acontecer em Madureira, Anchieta, São João de Meriti, Caxias etc? Prevenção ou populismo barato, jogando pra galera sem realmente resolver o problema? 

Ao mesmo tempo, o coração da cidade agoniza em via pública. O Centro, o grande Centro de grandes personagens e histórias de importância nacional, se decompõe a olhos nus. Sem um público circulante de mais de 70 ou 80 mil pessoas, provocado pelos desastres político-econômicos, a pandemia e a especulação imobiliária, o que se vê é um ar de decadência, exceto por situações pontuais específicas - uma bela exposição no CCBB, por exemplos. A Rua da Carioca, símbolo do orgulho carioca, hoje é uma via de passagem de veículos, com 80% de suas lojas fechadas e deserta depois das 17 horas. A Praça Tiradentes está completamente abandonada. Em diversos pontos, dezenas e dezenas de prédios abandonados que jamais serão retrofitados, muitos com apenas um banheiro coletivo por andar. Enquanto isso, a gentrificacão corre solta no Porto Maravilha. "Ah, os pobres… que se danem!". É triste demais. 

Enquanto as zonas norte e oeste vivem o ocaso e o desprezo, a zona sul experimenta a miséria nas ruas como raras vezes se viu. Catete, Flamengo, Botafogo e Copacabana vivem a incoerência de prédios com PIB expressivo abrigando a indigência debaixo de suas marquises garbosas. Famílias inteiras choram e passam fome, mas o dar de ombros é a regra. Há quem lamente que a Covid-19 tenha matado "apenas" um ou dois milhões de pessoas. 


Hoje Antônio Pedro será enterrado e, com ele, vai-se muito do riso carioca que alegrou nossos cinemas, teatros e o imaginário dos velhos botequins. A boemia que, aos poucos, fomos trocando pelo comodismo dos áudios no WhatsApp - porque escrever cansa. 


Segunda no Rio, céu de gris, melancolia. 


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