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Monday, January 06, 2025

O verão também presta

Começou o ano novo. Mais um em nosso caminho inevitável para a morte. É janeiro, logo é verão, gatinhas, engarrafamento, assaltos, um calor do inferno, uma promessa de novidade que nem sempre é tão nova assim. 

A canção já dizia “É verão/ bom sinal/ já é tempo/ de abrir o coração e sonhar”. Versos bonitos com os maravilhosos vocais do Roupa Nova,que nem sempre se aplicam ao verdadeiro turbilhão de emoções que se vive no Rio de Janeiro. Tá tudo aí, para dar e vender, escapando de uma e outra bala perdida. 

No calor é mais difícil aturar os espíritos de porco, né? Por exemplo você, imagina a esquina da rua Sete de Setembro com a avenida Rio Branco, a gente fala do coração da cidade do Rio. Normalmente é um lugar que tem uma certa concentração de carros à medida que vai se aproximando no Largo da Carioca, onde o trânsito é fechado e você precisa desviar à esquerda para fazer a volta. Pois bem, quase sempre tem um desgraçado que, na hora em que o sinal vai fechar, mete o carro em cima da faixa de pedestres. 

Ele sabe que não vai dar tempo. Ele sabe que não tem como fazer, mas mete o carro assim mesmo só para sacanear as pessoas na hora de atravessar, então pacificamente elas desviam do maldito carro e atravessam fora da faixa contra a vontade, já que o cidadão está ocupando o espaço destinado ao povo a pé. Não tem um dia de segunda a sexta que isso não aconteça pelo menos dez vezes por dia: pode fazer as estatísticas, pode anotar e acompanhar. Toda vez é a mesma coisa, é um negócio realmente impressionante. 

Pra não dizerem que sou um chato, a parte marítima vai bem, obrigado. Solzão, calor mate no tanquinho, esportes, mulheres maravilhosas, todo mundo tentando literalmente o seu lugar ao Sol, os turistas se esbaldando a valer por toda parte. Mas acontece que a cidade não se limita a isso, né? E cada vez mais está ficando quente no Rio de Janeiro, um inferno. 

Muita gente trabalha e sem facilidade, né? Às vezes com ternos pesadíssimos, roupas, fardas e botas. Enfim, gente que passa mal com tanto calor, que não tem a menor facilidade na estação que muitos vibram por estarem nas férias, mas que outros sofrem de montão. Eu mesmo sofro imensamente com calor desde criança, sempre me fez mal, mas felizmente a minha situação de camelô sofisticado me permite trabalhar em minha própria loja com bermudas e chinelos. A maioria não tem essa sorte, e por eles sofro. 

Tudo bem. Ninguém aqui é contra a felicidade no verão nem contra os veranistas. É só para dizer que uma parte da turma sofre para viver nessa época. E que o Rio não é somente orla - o subúrbio tem uma longa e sofrida história. Mas é legal que as crianças, assim como os que podem viver o melhor do verão nessa vida, também se lembrem dos excluídos do bronze. Muita gente na luta, tentando sobreviver como dá. 

Para terminar, a frase da Fernanda Torres pós Bola de Ouro faz pensar: “A vida presta”. No calorão do verão ou mesmo quando o bom outono chegar. O verão também presta, ok. 

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