Acabou.
Acabou a grande festa tão esperada, tão importante para aliviar o nó na garganta de tanta gente.
Acabou a farra, a rua, a azaração, o da vida nada se leva, a paixão de ocasião, o tesão livre, a cantoria para espantar os males.
Ainda tem alguns biscuits no final da semana ou sexta-feira, mas acabou.
Tem, mas acabou.
Depois dos dias de fantasia, bons até para quem não é da folia e prefere o repouso recluso, a gente para, olha o dia ensolarado mas sabe que acabou. A realidade está de volta, e para 99,999999% das pessoas ela não é nada fácil, muito pelo contrário: é dura, injusta e perversa.
Para alguns, fica a lembrança de dias de alegria e sonho. Para outros, só o sentimento de felicidade sem maiores recordações. E torcer pela próxima, pela próxima, pela próxima felicidade porque no fim das contas a gente vive assim, adiando o viver para o próximo fim de semana, o próximo feriado, o próximo Carnaval. No mundo moderno, viver é postergar, é escavar Serra Pelada devastada sonhando com uma pepita impossível.
A gente vive adiando o sonho, as coisas, as realizações, contando muitas vezes só com a sorte que não virá. É uma equação injusta.
A festa acabou, o ano finalmente começou. E ele não tem o mundo perfeito dos comerciais de TV, a vida perfeita dos perfis nas redes sociais. Pelo contrário: o fim da festa é o infeliz anúncio de que estamos quase todos de volta à merda. Alguns fingem que não estão, mas chega a ser engraçado como tentam disfarçar o indisfarçável - e não é vergonha alguma ser pobre, anônimo e até fracassado profissionalmente porque é o que o grande irmão capital nos impõe, de cima pra baixo. Afortunado é quem consegue escapar dessa máquina de opressão e humilhação.
Vem aí o ano novo, duríssimo para muita gente, talvez o último para muita gente em pleno voo. A gente nunca sabe, mas é sempre amargo se despedir de quem deveria ficar por aqui mais tempo - e ele, tempo, escorre, voa longe, é implacável. Quando olhamos para a mesa, várias cadeiras ficaram vazias.
Ano tão novo que nem tem mais a velha apuração do Carnaval na Sapucaí. Foi-se o tempo.
Para quem puder, feliz ano novo. Todos sabemos que não é fácil, mas o jeito é sonhar porque sem sonho tudo fica difícil demais. Sonhar e seguir em frente até onde der. Com menos peso, menos gente falsa e procurando algum mínimo senso gregário, esse nobre elemento tão raro no cotidiano.
@p.r.andel
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