Translate

Wednesday, February 14, 2024

Tem, mas acabou

Acabou. 

Acabou a grande festa tão esperada, tão importante para aliviar o nó na garganta de tanta gente. 

Acabou a farra, a rua, a azaração, o da vida nada se leva, a paixão de ocasião, o tesão livre, a cantoria para espantar os males. 

Ainda tem alguns biscuits no final da semana ou sexta-feira, mas acabou. 

Tem, mas acabou. 

Depois dos dias de fantasia, bons até para quem não é da folia e prefere o repouso recluso, a gente para, olha o dia ensolarado mas sabe que acabou. A realidade está de volta, e para 99,999999% das pessoas ela não é nada fácil, muito pelo contrário: é dura, injusta e perversa. 

Para alguns, fica a lembrança de dias de alegria e sonho. Para outros, só o sentimento de felicidade sem maiores recordações. E torcer pela próxima, pela próxima, pela próxima felicidade porque no fim das contas a gente vive assim, adiando o viver para o próximo fim de semana, o próximo feriado, o próximo Carnaval. No mundo moderno, viver é postergar, é escavar Serra Pelada devastada sonhando com uma pepita impossível. 

A gente vive adiando o sonho, as coisas, as realizações, contando muitas vezes só com a sorte que não virá. É uma equação injusta. 

A festa acabou, o ano finalmente começou. E ele não tem o mundo perfeito dos comerciais de TV, a vida perfeita dos perfis nas redes sociais. Pelo contrário: o fim da festa é o infeliz anúncio de que estamos quase todos de volta à merda. Alguns fingem que não estão, mas chega a ser engraçado como tentam disfarçar o indisfarçável - e não é vergonha alguma ser pobre, anônimo e até fracassado profissionalmente porque é o que o grande irmão capital nos impõe, de cima pra baixo. Afortunado é quem consegue escapar dessa máquina de opressão e humilhação.

Vem aí o ano novo, duríssimo para muita gente, talvez o último para muita gente em pleno voo. A gente nunca sabe, mas é sempre amargo se despedir de quem deveria ficar por aqui mais tempo - e ele, tempo, escorre, voa longe, é implacável. Quando olhamos para a mesa, várias  cadeiras ficaram vazias.

Ano tão novo que nem tem mais a velha apuração do Carnaval na Sapucaí. Foi-se o tempo. 

Para quem puder, feliz ano novo. Todos sabemos que não é fácil, mas o jeito é sonhar porque sem sonho tudo fica difícil demais. Sonhar e seguir em frente até onde der. Com menos peso, menos gente falsa e procurando algum mínimo senso gregário, esse nobre elemento tão raro no cotidiano. 

@p.r.andel

No comments: