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Sunday, February 04, 2024

São dias de folia

Ê, folia. 

Bem-vinda. 


O mundo para, o Brasil dança, o Rio samba e a gente passa alguns dias felizes, sonhando com a felicidade eterna que sabemos ser ilusória. 


Muita gente viaja, muita gente se solta nas ruas e muita gente, não declarada, passa o carnaval curtindo dentro de casa. Foliões sem folia. Eu os reconheço e me identifico com eles, pois também sou assim. Durante muitos anos, quando era jovem, eu curtia viajar. Primeiro era a turma dos escoteiros, depois a turma da faculdade. Já faz tempo. Agora eu tenho meu Bloco do Eu Sozinho, onde desfilo tentando ler livros, ouvindo discos mas também atento a tudo que tem Carnaval na TV - quero saber tudo de todas as escolas e ao contrário do futebol, onde minha paixão é o Fluminense, na FTSapucaí eu sou volúvel - posso trocar de escola numa mesma noite. Já fui Ilha, São Carlos (agora Estácio), Vila Isabel, Mocidade, Mangueira, Viradouro e Tuiuti. E Império Serrano. Gosto da Portela, mas não torci muito. Pro Salgueiro também não, embora “Peguei um Ita no Norte” seja um clássico eterno. Já fui Caprichosos também, no tempo de Andreia dos Anjos - será que confundi tudo? 


Acontece que o tempo me fez alérgico a multidões, logo eu que vi mil shows e Maracanãs de antigamente lotados. Quanto mais vazio, melhor. Então continuo apaixonado pelo caleidoscópio de cores da Apoteose, e fico com os olhos grudados na tela. Só nós, mais nada além de bons sanduíches ou refeições completas, tudo bem. Às vezes compro uma cerveja, geralmente é refresco mesmo. 


Durante muito tempo em que viajei no Carnaval, eu voltava na quarta-feira de Cinzas, ia ao escritório na quinta e viajava de novo para curtir até domingo. Sei lá, o pós-feriado tinha um sabor especial, de prorrogação da felicidade, acho. Aquele plus. 


Nos últimos vinte anos, os blocos retomaram as ruas do Rio e viraram uma febre de multidões, depois de um longo hiato. Pouca gente se lembra como foi o renascimento da folia de rua carioca, à época sustentada por grandes pilares como a Banda de Ipanema, Simpatia é Quase Amor e congêneres. A verdade verdadeira: no verão de 2003 o carioca estava literalmente durango. A cidade, acostumada a migrar muita gente para a Região dos Lagos e Serrana, registrou um recorde de cariocas que não viajaram. Começou então com o negócio de levar um isopor com latinhas de cerveja pra rua e curtir os pequenos movimentos. Um samba, uma marcha, um pequeno bloco e outro e outro. Três anos depois, já havia tantos que a cidade recuperou um de seus paradigmas carnavalescos, e é assim até hoje. Mas o que provocou o miserê dos cariocas em 2003? O pessoal não lembra, mas vamos resumir em três letras: FHC. 


Durante outro tempo, forçaram a barra para ter futebol no Sábado de Carnaval. Durou alguns anos, depois parou, será que tem agora em 2024? Bom, jogo na TV já tem todo dia. Tudo bem, o pessoal adora e estou nessa. 


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