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Sunday, February 25, 2024

Lindoya

Nesta madrugada, descobri que a água mineral Lindoya passou a ser engarrafada em 1972. Curioso, porque eu me lembro muitas vezes de meu pai pedi-la em botequins quando parávamos para nos refrescar, justamente em volta de 1973, 74, então ela era uma novidade e eu não sabia. Isso era antes dele ter adoecido com álcool.

Gostei do nome desde que o ouvi pela primeira vez. 

No botequim, a garrafa era de vidro. Bebíamos em copos americanos. 

Naquela época havia poucas lanchonetes. Você ainda encontrava alguns armazéns e também lojas com animais prontos para abate. Coitados. E não há hipocrisia alguma nisso. Não é porque o peixe e o frango são gostosos que vou deixar de ter pena deles. Voltando, também tinha padarias e vários botequins, botecos estilo pé sujo. Hoje eles são cada vez mais raros, substituídos pelos bares gentrificados. 

Em Copacabana eu lanchava no Rick da Figueiredo Magalhães, cujo proprietário era Ricardo Amaral, o rei da noite. O misto quente deles era delicioso, crocante como deve ser. Também lanchava misto quente no Boni's, que continua intocado na esquina de Siqueira Campos com Avenida Copacabana. 

O que fez meu pai sucumbir ao alcoolismo? Fácil: derrocada financeira, desgosto pelo irmão exilado do Brasil, tristeza e problemas psicológicos vindos ainda da infância como órfão de pai e mãe. Agora é fácil entender isso, mas naquela época eu só sofria e ponto. Ainda lembro dele calmo e silencioso com uma garrafa de Lindoya em cima do balcão. Eu bebia também, além de uma Coca Cola que hoje chamam de KS. 

Tudo isso me veio à tona porque acabei de tomar um gole de água e descobri que a garrafa de casa era Lindoya. Cada dia tem uma marca na padaria. Agora as garrafas são recicláveis e quase estouram à toa, de tão fininhas. E fico assustado porque qualquer lembrança já tem quarenta ou cinquenta anos. Tudo bem, a vida é breve e precisamos aceitar o processo.

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