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Sunday, February 04, 2024

Ainda me lembro

Quem gosta de futebol sabe que as lembranças não são apenas as dos grandes títulos. Às vezes basta uma grande jogada, um drible estupendo ou mesmo uma vitória simples para guardar lugar na eternidade do coração. Foi o que me bateu dias atrás, ainda que não tenha sido exatamente o que se pode chamar de vitória simples. 


Fez trinta e cinco anos discretamente no começo de fevereiro. Vasco e Fluminense pela Copa União de 1988, disputada com atraso em 1989. Era mata mata: quem passasse, chegava às semifinais. O Vasco tinha um timaço, o melhor do Brasil, e o Flu lutava para remontar sua equipe outrora tricampeã carioca e campeã brasileira. Foram dois jogos. No primeiro, o Flu venceu por 1 a 0, gol contra do bom volante Zé do Carmo. Na volta do Maracanã, meu amigo Xuru sobe a Siqueira Campos, passa pela pizzaria Bella Blú e encontra quem? O próprio Zé, que comia uma pizza. Foi lá como vascaíno enfurecido e aporrinhou o pobre jogador, até que se entenderam e brindaram um chope. O Rio era assim. 


No segundo jogo, um Carnaval de emoções. Jogaço. Flu 3 a 2, depois de uma prorrogação alucinante. Uma das maiores partidas entre os dois times na história. Quem foi ao Maracanã ficou literalmente chapado. Vale a pena buscar o jogo no YouTube e revê-lo. Enfim, uma noite de gala no Maracanã, com o Flu indo para as semifinais do Brasileirão 1988. 


Mas aí está o grande lance do futebol: deixar a marca eterna de um grande jogo sem estar vinculada a um título. E mais ainda: a época. Como eu estava naquela época? Junto do jogo, todo o cenário vem à tona. Bem, o Brasil não era fácil nem o Rio de Janeiro vivia num mar de rodas, mas pessoalmente falando eu vivia um tremendo momento. Auge dos vinte anos, três a quatro corridas por semana, futebol na praia à tardinha. Começo da faculdade, grandes shows e filmes, garotas maravilhosas. Maracanã raiz, extremamente popular. Tardes na casa do Fred, com muito carteado e grandes LPs na vitrola. Copacabana ainda nos seus grandes lances de farta boemia e galera nas ruas. O dinheiro era quase nenhum e o sonhado emprego era impossível - sem vagas -, mas minha vida era muito boa. Simples demais, boa de montão. 


Pra fechar, ainda tinha um componente especial: eu vivia meus dois últimos anos como escoteiro regular, então tome grandes acampamentos fora do Rio em sua maioria. Outros não, como no esplêndido Forte Imbuhy em Niterói - ok, é outro município mas afetivamente é Rio (risos). 


Quantas coisas reunidas pela simples lembrança de um grande jogo de futebol, hein? Meu entorno, minha vida. Ser um jovem torcedor no final dos anos 1980 em Copacabana tinha um sabor todo especial. Ainda vou escrever um livro sobre isso. Será que dá? Acho que vale a pena! 


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