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Friday, June 14, 2013

nunca

nunca
nunca aceitei esse mundo como ele é
as ruas com dores e mortes
enquanto a indiferença mora em sorrisos
nunca aceitei a hipocrisia
a ingratidão, o descaso
o ir e vir de quem pode pisando
em quem nada tem a perder
nunca aceitei ditaduras do dinheiro
a importância do poder
e sinto-me tão bem quando piso
respeitáveis espaços nobres
com meus chinelos humílimos
nunca aceitei o preconceito
o julgamento oco e ignorante -
até mesmo sobre amor
fiz questão de recusar o fácil
o evidente e que salta aos olhos
nunca aceitei a fome, a miséria
as pequenas esmolas dadas como anistia
das boas almas que vão para o céu
não aceitei e nem aceito
eu não mudo de opinião
e, por isso, seguirei o vale de lágrimas
o caminho das dificuldades
mas sem pestanejar em nenhum momento:
não me sentiria bem ao lado
dos infames e cretinos
dos bajuladores escrotos
dos interesseiros e mesquinhos
nunca, nunca aceitei -
ainda estou vivo e não dependo
da caridade de quem me detesta*


(*sobre “O tempo não para”, Cazuza e Arnaldo Brandão, 1988)

@pauloandel

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