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Wednesday, June 19, 2013

Amor em quatro estações

I

queria te ter nas quatro estações
ainda mais nesse outono que se despe
e deita para dormir em prosa e sonho
então o inverno, edredom e chocolate
tua pele crua entre lençóis devassos
minha cruz e delícia em te tocar ligeiro
devassar qualquer intimidade tua
e te namorar, namorar, namorar aos poucos
ao bom-bocado com cerejas em cor viva
como se fosse a primeira e última vez
teu corpo quente, doce, tão saboroso
em flores e flores – oh, minha dália!
entregue ao impecável paladar de paixão
tocar, beijar, lambuzar, intumescer
trazer arrepio aos teus delicados seios
viver a saudade do que eu nunca senti
o futuro que me persegue noite e dia
há um inverno chegando tão manso
e cada passo do meu sexo te pertence
mas não apenas sexo – seria pouco
é todo colo, todo toque a te possuir
pensamento, palavra e desejo casados
pensar tua nudez no melhor madrigal
mergulhar para sempre nos teus lábios -
lindos, sedentos e convidativos ao meu ter:
- eu preciso de você agora, meu bem!
- ah, meu amor, eu preciso de você também!
dois corpos nus numa encruzilhada de cama
debruçados entre o tesão e o amor-perfeito
satisfeitos feito fosse o berço esplêndido
- a te sonhar pelos dias faço-me tão vivo
lânguido, teso, tão aceso e disponível
eis um sentimento que não traduz pecado
nem hiato - é muito longe de ser castigo

II

dê um passo à frente
e não esteja mais, não mais
no mesmo lugar
então chegue mais perto
do que parece comigo

dê-me tua mão
aconteça em nossos lábios
misture nossas vaidades
e sacuda muito bem:
seremos créme de la créme
navegue meu colo
e mergulhe tua vista
em meu olhar
apaixonado
duas baías de Guanabara
caras de cão
pedras na praia vermelha
dois namorados em paz
e desimporta
se não for nada além
de um romance fugaz

III

cada passo teu
me interessa
não importa a distância
ou qualquer predicado
eu quero teu bom-dia
e boa-noite e como-vai -
e rezo pela tua voz
juvenil e sincera à beça
quero fazer teus sonhos
com ou sem pressa -
mas nada, no fundo nada
de aguardar à toa
pelo dia de são sempre:
a vida nem sempre é doce
e seria mais fácil
com você aqui do meu lado -
nosso teto sem estrelas, alvo
“dá me tu amor, solo tu amor”
a perdoar os fracassos
e me permita tentar ao menos
te levar à lua cheia
e aí sim ver estrelas de tesão -
deixe eu ser a peça
que te encaixa e completa -
pensar você, mas tigar você
é o que tanto me interessa
meu louco amor nas tuas mãos
e alguma espera singela
por um mísero sinal verde:
- alta velocidade!
- acelera!

@pauloandel

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