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Friday, June 07, 2013

Lascívia, dor e desejo


Cenas de um condomínio

I

Quando dei por mim, já estava há muitos minutos beijando Mônica em meu quarto, de modo que despi-la era fundamental. Num súbito, tirei suas roupas delicadamente. A camiseta. O soutien. Então eram dois seios espetaculares, enormes, saborosos, repousando em meu rosto como oferenda do Olimpo. Dias antes eu tinha visto belas fotos de Mônica num álbum de retratos e sequer poderia imaginar que ela estava ali nua, deliciosa, provocante, louca por carinhos enquanto senti-me um vagabundo iluminado. Ah, e o resto? Completamente nua, obrigou-me a beijá-la da cabeça aos pés como se quisesse ocupar cada pedaço de pele, cada poro, tudo o que estivesse disponível. Um corpo lindo para meu bel prazer. Esqueci de outros detalhes e pensamentos, deixei de lado tudo o que me atordoa e fiz da minha boca um descobridor dos sete mares, mais visível quando senti seu ventre tremer de tanto carinho. Ah, o prazer que nos liberta, higieniza a alma, liberta as tristezas e as manda passear do outro lado da Via Láctea. Seios, coxas e dorso só para mim, todas as brincadeiras permitidas, no suculento bronze da pele. E pensar que perdi tanto tempo oprimido com meus pensamentos idiotas que levam do nada ao lugar nenhum – a vida é hoje, a vida é agora, o sexo é abençoado pela leveza do estar – qual o sentido de perder seu tempo com a mulher da tua vida que nem te dá um oi direito? - ou que te olha como um zero à esquerda? Por que desperdiçar as melhores horas do mundo com formalidades inúteis que não atendem nenhum desejo bom? Depois gastamos mais uma hora, duas, três talvez e tudo passou tão rápido que queríamos a réplica, a tréplica e todas as retóricas plausíveis. Ela gemeu quando ganhou chantilly e cerejas para ser meu banquete predileto. Apertou minhas costas com força enquanto eu a lambia e depois deu uma unhada no lençol, o que foi bom. Depois fizemos vários barulhos e suspiros enquanto nos tornamos a melhor sobremesa um do outro e o sábado foi mais feliz do que nunca. Eu não sei de quem Mônica gosta e nem quero saber, mas é bom tê-la para mim por algumas horas, talvez muitas, tantas quantas forem possíveis, mas faço questão de lhe ser o melhor amante, o amigo mais carinhoso, o homem que lhe abraça com desejo e tesão, com jeito de “quero muito mais”. Houve um momento mais tarde em que vivenciamos as melhores palavras de Rubem Braga – o sentimento do prazer cumprido – e isso tem a ver com o lirismo e a poesia que temperam a putaria deliciosa que fizemos, pois. Ao lado, a vizinha nem dá importância ou desconfiança, o que parece melhor. Alvaro Doria diria que este é o cenário perfeito.

II

Dois homens bons e pobres, muito pobres, comem em caixas de leite doadas de alguma instituição de caridade debaixo de uma marquise no coração da grande cidade, a mesma do prédio onde estive com Mônica. Falam de Deus, das famílias que perderam, do sofrimento pela dependência de drogas, a fome, a dor, a inevitável presença da morte a cada dia desperdiçado nessa terra de ninguém onde a indiferença é o reino. Uma sociedade que joga seus pobres como se fosse lixo nas esquinas. Quem precisa se preocupar com isso?

III

Patricia dorme nua em seu quarto confortável numa casa da metrópole. Mil cavalheiros a desejam e a devoram com os olhos. Elá não dá importância ao fato: preferia ser feliz com o homem que tantas vezes a cortejou sem sucesso, até que ele desistiu, mudou-se para Paris e lá conheceu uma linda mulher parecida com Madeleine Peyroux – casou-se com ela. Patrícia dorme nua e não recebe o carinho que sempre mereceu. Mônica certamente é muito mais feliz, nem que seja por apenas um instante.

@pauloandel

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