Nunca gostei de festas. Não tenho nada contra elas, nem contra quem gosta, apenas eu nunca me senti bem. A coisa de estar obrigatoriamente feliz me incomoda. Sempre gostei de silêncios e momentos reservados. A maior saudade que trago do escotismo é das noites no campo, num enorme silêncio às vezes interrompido pela natureza - todos dormiam enquanto eu era o lobo insone. Engraçado que fui criado no Maracanã com 120 mil pessoas, mas ali eu não via como festa e sim como missão. Era a multidão, os corações em luta e eu com meus pequenos olhos e ouvidos atentos a tudo. Parecia uma festa, mas não era. Na faculdade não tive alternativas, tinha festa toda hora, as garotas estavam sempre lá, os colegas, mas eu meio que fazia missão protocolar. Festa para mim era ter um dia bom e fazer algo legal, fazer um bom lanche, dar uma volta, ver o mar, o verde. Ou mesmo ficar escutando boa música, lendo o encarte, mergulhando na obra. Depois de velho, larguei de vez e nunca mais fui. Meus pouquíssimos amigos devem compreender porque não vou. Eu não quero botar roupas para agradar, eu não quero bajular ninguém nem ser bajulado, eu só quero andar por aí com meu par humilde de chinelos pretos e meu bermudão. Eu não quero fingir que estou feliz para enganar alguém, eu não quero me enganar e honestamente acho ridículo quando alguém finge estar feliz mas é óbvio que não engana ninguém. Onde foi que aprendemos a fingir felicidade apenas para mostrar aos outros? Quero que todos se divirtam muito em festas, eu só prefiro curtir a minha infelicidade reservadamente, em goles, em pequenos silêncios, sem barulhos, com quase ninguém. É da natureza dos lobos insones, se é que alguém me entende.
@p.r.andel
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