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Sunday, September 24, 2023

Sobre Rick Davies e o Supertramp

Eu sou fã do Supertramp desde garoto. Fiquei louco da vida quando não pude ver a banda no Hollywood Rock de 1988. Estava em meio ao vestibular, matar ou morrer. Passei, felizmente. 

O problema é que o Supertramp nunca mais voltou ao Rio, sequer ao Brasil. Nas últimas três décadas lançou apenas dois álbuns, "Some things never change" (1996) e "Slow motion" (2002). O grupo está recolhido, não faz shows, não lança álbuns e não dá qualquer indício em seu site oficial. 

Não vou entrar aqui na briga entre Roger Hodgson e Rick Davies. Eu gosto do Supertramp e ponto. Uma banda que não deixou herdeiros, ninguém se parece com ela. Hits eternos como "Give a little bit", "Goodbye stranger", "My kind of Lady", "Bloody well light", "From now on", "It's raining again" e tantos outros êxitos. Quando Roger deixou o grupo, é claro que muitos fãs lamentaram, mas a vida seguiu, ele fez sua carreira solo e o Supertramp funcionou bem ao vivo com os vocais de Mark Hart, cantor do Crowded House. Ok, os puristas e cri-cris odiaram, mas qual a exata importância destes? 

Há alguns anos, mais precisamente em 2015, prestes a iniciar uma turnê europeia, ela foi cancelada às vésperas porque Rick Davies foi diagnosticado com um mieloma múltiplo, aos 71 anos. 

O tempo passou, as notícias eram escassas e a única coisa que achei no Google para me dar esperanças foi uma foto de Rick, acompanhando uma partida de futebol americano. Só. 

Semana passada, pesquisando pelo YouTube me deparei com alguns vídeos de Rick Davies, tocando várias músicas do Supertramp com outros músicos, num local relativamente intimista. Achei glorioso: Rick, atualmente com 79 anos e depois de superar um câncer, voltou aos palcos. O som continua inconfundível e a voz é a mesma. O Supertramp estava lá, ao menos na memória e nas canções. 

Então fiz uma postagem no Facebook a respeito, e confesso que me decepcionei com a reação de alguns colegas. Houve quem dissesse algo como "Que coisa decadente! Tocando num palquinho, que triste fim de carreira!", bem como outras sentenças parecidas. 

Então me perguntei: de onde as pessoas tiraram que o artista consagrado só pode tocar em grandes arenas, sendo um ser inatingível? 

Desde quando se apresentar em palcos alternativos é exclusivamente sinal de fracasso ou ostracismo? 

Quantas vezes artistas mundialmente consagrados já tocaram em casas com público mínimo, por diversas razões? 

E mais: a qualidade artística de um músico é definida pelos palcos em que toca? Parece improvável. Quantos e quantos músicos espetaculares são completamente desconhecidos do grande público? Outros não tocam sequer em palcos pequenos, mas se limitam a estúdios. E isso não lhes tira o talento. 

É difícil dizer se o Supertramp voltará aos palcos um dia. Roger Hodgson continua fazendo turnês regulares. Ao que tudo indica, Rick Davies está recuperado. De tudo isso, certo mesmo é que um artista que já vendeu mais de 60 milhões de álbuns na carreira pode ser quase tudo, menos um fracassado. Procure nas rádios do mundo inteiro: sempre tem "The logical song" tocando em algum momento, só para lembrarmos que o Supertramp é eterno. 


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