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Sunday, September 24, 2023

Copa do Brasil 2023

Antes de se apaixonar pelo Fluminense para sempre, meu pai torceu para o São Paulo quando era garoto. Vivendo em colégio interno e órfão, talvez o futebol fosse uma de suas únicas alegrias. Aos 18 anos veio para o Rio e nunca mais saiu. 

Uma hora antes do maior jogo entre os dois times da sua vida, um infarto o tirou de cena em 2008. E mudou a minha vida para sempre.

Cresci numa casa com paixão pelo futebol, sem ódios, sem rancores. Claro que tinha as rivalidades - aos 11 anos de idade eu já tinha visto jogos nas torcidas do America, Campo Grande, Goytacaz e Palmeiras. Claro que secar sempre foi divertido, claro, mas ódio, rancor, jamais. E cresci com muita simpatia pelo São Paulo, por conta da questão familiar. 

Portanto, a vitória de hoje me faz pensar que, onde quer que esteja, meu pai está feliz. E a felicidade dele é a minha. Agora penso nos jogos que vimos juntos, e foram bem menos do que eu gostaria - com 14 anos eu já ia sozinho para o Maracanã. Penso nesse gosto pelo futebol que ele foi me passando desde que eu era criança, a própria maneira como me tornei Fluminense e tantas outras coisas. 

Já adulto, com mais de 40 anos, eu sonhava em escrever um livro sobre o Fluminense para homenagear meu pai. Em certo momento, parecia impossível, mas certa conjunção astral mudou tudo, acabei conseguindo ser publicado e nunca mais parei. Tenho escrito muitas coisas sobre muitos assuntos, mas sei que os trabalhos que me projetaram para milhares de pessoas são os do Flu. Nenhum problema. 

Seria bom tê-lo aqui agora, comendo os sanduíches que ele sempre gostava (minha mãe imitando meu pai nessas horas é uma cena inesquecível). Falaríamos desse jogo, desse título, desse negócio chamado futebol que, mesmo contaminado, nos dá alegria e esperança, alivia as noites - ok, também as destrói - alimenta as conversas. 

Na ausência inevitável, resta pedir um sanduíche, lanchar, rir com as mensagens no WhatsApp, brincar com os rivais. Pequenos momentos divertidos desse estranho negócio chamado vida. 

@p.r.andel

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