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Friday, October 18, 2013

Vinicius de Moraes, 100 anos

Ele foi o gênio, o gigante e o desafiador dos costumes.

Deu de ombros às convenções durante toda sua vida.

Do colossal poeta de versos melancólicos ao ensolarado letrista de música.

Do diplomata ao boêmio brindando a vida a cada instante.

Do simpatizante (inicial, ressalte-se) do fascio italiano ao comunismo honesto no CPC da UNE e da postura libertária em defesa de um país mergulhado em ditadura e tortura, indo às ruas e sendo perseguido pelo regime, exonerado inclusive.

Do pensador de pequenas tristezas ao amante incomparável que sempre teve jovens mulheres a seu lado. As jovens, oh!

O que dizer de sua ruptura com o mundo “convencional”, entregando-se aos orixás e paixões da Bahia?

Quando já era um poeta completo e consagrado, estalou os dedos e fez a música popular brasileira do avesso. O que antes soava como a mulher fatal, a adúltera, dos ambientes enfumaçados, virou a garota dourada do sol à beira-mar, com abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim.

Um carioca típico? Uma estátua de Ipanema (embora não tenha morado mais do que cinco anos no bairro, somadas todas as passagens)? Uma legenda da poesia? O paradigma do intelectual brasileiro, transigindo entre o erudito e o mais do que popular?

Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes. 

Muito mais do que isso tudo.

Num Olimpo de gigantes da arte do Brasil, lá está o velho Vinicius brilhando no céu feito a estrela solitária do Botafogo de seu coração.

Ainda me lembro do dia em que morreu. Começou o jornal das sete, tudo falava do nome dele, eu descobri que tinha morrido um poeta. Meu pai mudo, paralisado. Meia-hora depois, desci ao supermercado em frente de casa para comprar pão. Ao lado, um botequim. Silêncios e silêncios. A morte do poeta calou a cidade. E foi assim que o conheci: pela morte. Era 1980, eu tinha doze anos.

Depois o estudei, pesquisei, admirei e nunca vi tanta vida nas letras que derramou.

“É melhor ser alegre que ser triste/ Alegria é a melhor coisa que existe/ É assim como a luz no coração/ Mas pra fazer um samba com beleza/ É preciso um bocado de tristeza/ É preciso um bocado de tristeza/ Senão, não se faz um samba não.”

Agora, cem anos de Vinícius de Moraes.

“Eu possa me dizer do amor (que tive):/ Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure.”

Em nenhuma das intermináveis noites regadas a drinques, risos e generosidades femininas, Vinicius deve ter imaginado que, trinta e três anos depois de sua morte - e no aniversário de cem anos -, seria tão vivo e presente, mesmo numa cidade e num país que, às vezes, parecem rumar ao individualismo e à indiferença maiores. Contudo, nem tudo está perdido.

Ainda não.

Vinicius nasceu em agosto de 1913. Rubem Braga no mesmo ano, em janeiro.

E ainda dizem que 13 é número de azar.

A sorte do Brasil ainda sorri.

“O amigo: um ser que a vida não explica/ Que só se vai ao ver outro nascer/ E o espelho de minha alma multiplica...”

Ave poeta! Saravá!


@pauloandel

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