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Tuesday, November 29, 2011

GOMES FREIRE



Perto do fim da rua, depois da entrada do Motel Sheik, enterraram mais um pedaço da minha adolescência.


Há pouco menos de trinta anos, tentei arrumar emprego numa banca de jornal quase na esquina da rua Gomes Freire.


Em frente, havia o legendário bar "A Paulistinha", com bloco de carnaval e que também pertenceu ao banqueiro do jogo-de-bicho Zinho. Um dia, Zinho sumiu; o bar continuou.

Há cinco anos, bebi um chope gelado por lá.


Na internet, alguém escreveu sobre as qualidades seculares da Paulistinha. Depois, comunicaram o fechamento. Ou seja, o lendário bar acabou. Faleceu. Não deixou herança.

"A Paulistinha é um dos mais tradicionais bares da cidade do Rio de Janeiro. Ponto de encontro desde 1925, o boteco se mantém fiel às caracteristicas dos antigos bares: atendimento no balcão e poucas mesas que dividem o espaço com as geladeiras.".

"Infelizmente A Paulistinha fechou. Outro dia passei lá e encontrei o bar fechado. Pensei que estivesse em reforma, mas não. Foi-se o único paulista gente boa do Rio. E pior: perdemos junto outra chopeira vertical de bronze. Agora são pouquíssimas em funcionamento na cidade, que aos poucos estão sendo substituídas por chopeiras elétricas. Acredito que é uma excelente oportunidade de marketing para a Brahma, produzir mais alguns exemplares e não deixar esse tipo de equipamento ser extinto."


A banca de jornais onde eu ia ter meu primeiro emprego - e que não deu certo - simplesmente desapareceu. Foi removida. Em seu lugar no chão, apenas sacos de lixo. Naquela esquina, quanta gente foi feliz ou afogou suas mágoas. Casais uniram-se e desfizeram-se, amizades se fortaleceram, risos e encantos proliferaram. Hoje, é uma esquina sem vida. Não bastasse matar os bares, agora deram para enterrar as bancas?


Há trinta anos eu era apenas um garoto em busca de um emprego numa banca de jornais para ajudar minha família.


Hoje, sou um transeunte a passar pelo cemitério das minhas lembranças.

Paulo-Roberto Andel

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