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Friday, November 11, 2011

FERIADÓPOLIS



A

 
Nossa sociedade, no bojo, muitas vezes defende a "cadeia para estudantes maconheiros", mas também fuma; a "porrada nos camelôs" que enfeiam as cidades, mas também compra as mercadorias baratinhas; a punição de "todos" os politicos, porque "todos" são corruptos, mas gosta de sonegar impostos; é contra as "bolsas assistencialistas", mas não tem nenhuma atitude para ajudar a diminuir o desnível na concentração de renda. Finalmente, depois de dar de ombros para o próximo, ela não quer que aqueles que foram eternamente marginalizados e, em sua maioria, submetidos às piores humilhações e privações, sem o menor amparo social, queiram tomar o seu carro, a sua bolsa ou mesmo a sua vida.

O que nos assola propriamente? A indiferença? A ignorância? A estupidez? Ou a burrice?

Eles estão muito ocupados no feriadão.


B


Não se trata jamais de ser permissivo com o crime. Jamais.

Mas onde ele, crime, realmente nasce?

Da “má-índole” dos mais pobres ou do descaso dos mais ricos?


C


Prenderam mais um chefão do tráfico. Mas o consumo não vai parar. Parte da Zona Sul precisa de cocaína para dar algum sentido ao vazio da vida, mesmo que isso custe mortes, estupros, terror. As pessoas estão ocupadas na sala de jantar.

Retratos de uma guerra inútil e interminável.

É  bom saber que as mortes e a opressão vão diminuir. Mas ainda é pouco.


D

Certa vez, nos tempos de escola, conheci um sujeito. Era mirradinho, humilde, pobre, bom garoto. Estudava de graça, assim como eu – e quem precisou disso sabe muito bem o que significa: foi o que salvou a minha vida.

Os anos passaram. Eu também era pobre e humilde, não mudei muito.

Tempos depois, encontrei o sujeito. Virou um funcionário público bem-abonado – com méritos. Mas o discurso mudara. A pobreza e a humildade se dissiparam, dando lugar a um discurso extremamente reacionário e calcado na “livre iniciativa” que, se fosse tomada ao pé da letra, não teria lhe permitido deixar de ser pobre – quem é contra a escola pública não deveria tê-la como beneficiário. Só o capitalismo salva, só o capitalismo constrói. A retórica era bem-construída do ponto de vista da sofisticação, mas na verdade omitia o principal: nada pode ser pior do que dar as costas às origens. Ou dar de ombros. A ele dediquei um minuto de silêncio. Descansou em paz.

Nestas horas, tento entender a mim mesmo. O que é falácia, o que é escárnio.

Lá fora, as pessoas estão ocupadas com a novela.

Não me venham falar de ideologias. Eu falo de matemática. Tabuada, equações miseráveis. Simplicidade.

Que liberalismo servirá para pagar os 7 trilhões que os EUA colocaram na pendura pública sem que milhões de pessoas famintas no mundo continuem a sê-lo?



E


A perfeição é mera indelicadeza.


F


Ézio não foi somente meu artilheiro ou ídolo. Foi meu super-herói.

Como perder um super-herói impunemente?


G

Rap 1

agora caibo num punhado/ a palavra e um punho cerrado/ migalhinha sem açoite, pobre sem dote/ uma luzinha que pisca à noite no topo do morro/ mas o túnel passa tão longe/ e o caminho tira sarro/ beijo o asfalto feito um pedaço de papel picado/ atirado com vã fidalguia/ pela janela de um grande edifício na avenida central/ durante a passeata-carnaval/ irrisório, sou fulano-de-tal/ e não me acostumo com a hipocrisia/ que habita a eugenia das ruas/ preto chora na marquise/ branca esnobe na boutique/ oscar freire, vieira souto, tanto faz/ ele te fita testa abaixo/ relaxa sem rir/ se a morte me atordoa/ é um dar-de-ombros/ descanse em paz

Rap 2

rapte-me/ faça-me gozo de teu corpo tátil/ uma casa aprazível/ um naco de carne palpável/ eis meus seios em delírio/ cobiçando lábios nos bicos/ o que chamam tesão é indescritível/ namore meu colo/ meu ventre umedecido/ e venha preciso, decidido/ lá fora, o tom da morte/ aqui dentro, deleite no idílio.



 H

"Piririm, piririm, piririm: Jairo de Sou-Za!"

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