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Friday, September 15, 2006

Noite de folguedo

Convidaram-me para uma festa que acontecerá na noite de hoje.

Logo eu, tão velho e já sem empolgação para os arroubos juvenis que toda festa, toda celebração, de alguma forma possui.

Convite feito, refleti.

Não é nas festas que eu escuto a minha trilha sonora. Longe de tristeza, mas o que me alivia é a calmaria, a conversa de bom e suave tom. A música, urbana ou não, em moderado volume. Também há outra questão, que é a de certa falta de humanidade que as festas provocam, uma vez que, nelas, o importante é gritar, pular e não necessariamente compartilhar, exercer fraternidade. Gosto de recolhimento; gostava menos na mocidade. Mesmo os grandes eventos musicais não tenho presenciado. Barulho mesmo, só o do Maracanã, onde tudo é diferente - não acontece exatamente uma festa, mas sim um ritual de exorcismo.

Entretanto, é claro que festas têm o seu valor.

É bom ver as pessoas alegres mesmo que tudo seja por poucos instantes, pontinhos na aquarela.
A vida na Terra, árida, cheia de responsabilidades e compromissos, pede uma folga, ainda que efêmera. Cantar, dançar, pular, verbos interessantes para descarregar as tensões d'alma. Sei que não vai ter Bob Dylan, Eric Clapton ou Antonio Jobim; atualmente, gostam muito daquelas coisas dos chamados anos oitenta, um verdadeiro endeusamento que, se de certa forma pode parecer exagerado, ganha relevância quando se descobre o que veio dali em frente.

A bebida, gelada, há de ser um contraponto socializador. Afinal, tudo indica que o calor que tem assolado a Guanabara prevalecerá. Noite quente, noche caliente, sem culpa nenhuma.

Alguém me disse de umas meninas bonitas que por lá estarão. Festa sempre tem mulher bonita; sucedendo o contrário, não é festa mas guerra. Sei de algumas. Vez ou outra, uma casada; várias, com seus namoros que não levam a mais de três milhas, distantes no pensamento feito certa canção de Vinicius, presentes de corpos mas ausentes de alma. Não se pode deixar de dizer daquelas que, furtivamente, aproveitarão para conquistar seus amores de ocasião, safadinhos, velozes.
Incrível mesmo é saber das solteiras.
Jovens, lindas e solteiras. Devem ser muito exigentes, creio. Sei de uma, encantadora, que deixa a vizinhança em polvorosa com seu olhar de ametista, suas melenas claras que emolduram o rosto de porcelana, divino, abençoado. Difícil imaginá-la sem cortejos, sem companhia, plenamente improvável.
Enfim, todas, cada uma a seu modo, admiráveis.

Outra canção povoa minhas lembranças, algo de Ben, onde vai ter batucada e missa de ação de graças.

Os jovens vão cair na folia, divertir-se, amar, viver o bom da vida que é cada um desses goles de relaxamento mais do que merecidos na jornada.

Deixarei reservado um cantinho, para ficar espiando a algazarra, de perto e, ao mesmo tempo, tão longe. Talvez portando um toca-discos eletrônico, com algo bem distante do que as festas pedem, a delícia de sentir-me completamente estrangeiro em minha própria terra.

Acariciando a vista, meia dúzia de belezas entrecortando os céus do Centro. Tudo misturado a Bob Dylan, de novo ele, no direction home.

Em mente, o beijo da mulher amada.

Numa das mãos, o chope dourado da felicidade.

Na outra, uma liberdade enorme para ir e vir.




Paulo Roberto Andel, 15/09/06

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