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Tuesday, July 01, 2025

Essa coisa da vitória tricolor

I

Foi bom demais nesta segunda-feira. O Fluminense fez seu papel mais apurado, o  de mosca na sopa, e venceu a poderosa Internazionale de Milano para a surpresa de muitos desavisados. Quando o jogo acabou, passei um bom tempo respondendo a mensagens de congratulações pela vitória. E aí veio gente a granel. Desde cedo, sou lembrado por muita gente como um exemplar tricolor, nos tempos da escola e do grupo escoteiro vindo até hoje. No WhatsApp apareceu gente de todos os lados: colegas tricolores que não vejo há tempos, pessoas admiráveis, crushs, amigos e colegas que torcem para outros times, teve até ex-namoradas. Será que também fui lembrado por quem não fala mais comigo ou que me esqueceu/despreza? É possível. Minha ligação sentimental com o Fluminense é muito forte, então até quem me detesta deve ter se lembrado de mim quando Hércules fechou o marcador. O futebol oferece uma fraternidade que não se vê em mais nenhum outro traço da vida brasileira. Por alguns instantes isso é bom e aquece a alma, dá um alívio para encarar o dia seguinte cheio de dúvidas e problemas, literalmente ajuda a viver. O futebol, ainda que com todos os seus problemas extracampo, é um dos traços mais bonitos da identidade brasileira. Mesmo que virtualmente, os abraços e parabéns mostram que ainda há uma gotinha de salvação. Bom, agora é o dia seguinte, uma terça-feira nublada, a rijeza do trabalho, os dissabores da vida adulta e lá vamos nós, tricolores, marcando um novo encontro para sexta-feira e tentando reviver por algumas horas o Reino do Nunca.


II

Eu estou contente. Meu Fluminense venceu. Só lamento não ser criança hoje, do jeito que eu era com 11 e 12 anos em 1980. Poder levar um botão da sorte para a escola, comemorar na hora do recreio, marcar uma pelada na vila depois do almoço, sonhar em jogar num campo oficial de grama, feito o do 18. Ficar espiando a revista Placar, a ficha dos jogos, as fotos e as matérias. Juntar o troco do lanche para comprar um escudo bordado do Fluzão. Se eu estivesse em Copacabana em 1980 ia comemorar com o Léo e o Rubinho, com os gêmeos, ia procurar o Fábio na esquina da Santa Clara para comemorar - ele tinha um timaço de galalite do Flu. Depois iria para a praia jogar bola e imitar Edinho ou Gilberto, ou Cláudio Adão - ele era infernal feito Arias e Cano.  

Agora também é bom, mas é ser diferente. O tempo, senhor implacável, escorreu com enorme velocidade. Quarenta e cinco anos escorreram feito filete d'água no ralo da pia. E você está inevitavelmente mais perto do fim do que do começo. Mas ainda pode e deve ser muito divertido. Nessa terra de tanto egoísmo e ruindade, o futebol ainda é uma benção. O Fluminense venceu e isso nos ajuda a respirar melhor. Nós, tricolores, estamos iguais aos personagens da letra de "Mais do mesmo", feita pelo ícone tricolor Renato Russo: "enquanto isso na enfermaria/ todos os doentes estão cantando/ sucessos populares". Ou ainda outro mestre das três cores, Tom Jobim: "os olhos já não podem ver/coisas que só o coração pode entender". 

Onde está minha lancheira do Fluminense?

@p.r.andel