Lá se foi a mãe do China, meu amigo há anos. Eu sei bem dessa dor, e toda vez que isso acontece eu sinto duas vezes: pela dor do amigo e pela minha, que volta à tona. Eu revejo meu pai e minha mãe ainda jovens, ainda tendo o que viver, delicadamente mortos e mergulho a 600 km/h num abismo. Quanto custa ter o pai ou a mãe mais seis meses ou dois anos por aqui? Eu não sei, apenas sofro, isso piora em dias como esses, perto do fim do ano, onde existe praticamente uma ditadura que te obriga a ser feliz. Eu não sou feliz, eu tenho momentos felizes. Quem pode ver o mundo como está e ser realmente feliz? A não ser que não pense em ninguém. É claro que pais e mães não são eternos, é claro que filhos enterrarem os pais é o natural, mas nem por isso a gente deixa de sentir dor, que pode durar muito tempo ou até para sempre. Só sei que sinto dor e sofro, sofro muito por mim mesmo e pelos outros, pelos próximos que às vezes sequer conheço. Eu queria falar muitas coisas agora mas não vou falar nada. Só quero dizer ao China que eu me solidarizo com ele. Lembro das vezes que ele foi tão bom anfitrião em sua casa alta. E quando me prestigiou em meus lançamentos. E quando bebemos chopes maneiros. Estou deitado, a TV fala algo que não escuto direito, é noite calorenta de sábado e não vou a lugar nenhum. Sinto dores. Converso no WhatsApp com colegas diversos, a Marina também. Penso em várias coisas que não sei dizer, em gente que perdi para sempre, em gente que ficou pelo caminho, penso nesse estranho mundo cheio de ruindade e solidão enrustida. Meu amigo China está triste e eu também estou, Mitya também está. Hoje foi um dia de ficar deitado. Eu senti dor, a gota atacou, fiquei recolhido. É duro não ser mais garoto e eu, que sempre tive vocação para ser menino, agora sigo outras palavras.
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