Em plena madrugada escuto músicas com as participações de Maurice White, Nicolette Larson e Scott Weiland. Cada um de um tempo, uma década.
Maurice White foi o rei negro do funk. Sua banda e criação, o EW&F, ainda toca pelo mundo afora. Seus arranjos de metais estão entre os mais intrincados de toda a black music.
Dependendo da foto, Nicolette Larson podia ser bonita ou linda demais. Sua voz está em tantos e tantos registros belos. Um deles é com Christopher Cross, em "Say you'll be mine".
Scott Weiland era A voz. Quando disparou seu raio de trovão em "Plush", o mundo inteiro parou para ouvir. Eu fiquei eletrizado. Ao mesmo tempo em que coisas ruins aconteciam comigo naquela época - e não foram poucas -, havia outras boas. A música era uma efervescência. Os Stone Temple Pilots fizeram dois excelentes álbuns e seguem tocando a vida, mas assim como a bela Nicolette, Scott se mandou cedo demais. Aprontou muito, um dia a conta veio.
A arte registrada precisa ser séria, comprometida, vibrante. Livros, discos, telas, instalações. É o caso dos três acima: são artistas mortos mas suas artes permanecem com muita força. Maurice e Nicolette tiveram grande força nos anos 1970, Scott nos 1990, e todos podem ser bem ouvidos no YouTube e outras plataformas com enorme qualidade.
Sinceramente, eu não sei quanto tempo vou aguentar dormindo duas horas por noite, mas pelo menos a música acalma, traz lembranças boas, ajuda a esquecer que a vida humana está marcada pela hipocrisia e o descaso. A arte eleva os corações, não resta dúvida.
Cinco da manhã, já está clarinho, o ano está acabando e parece que o mundo também. Hoje é sábado, não tem jogo, fica um certo vazio e vou tentar cochilar um pouquinho daqui a pouco.
II
Dez horas depois, resolvi fazer o que não fazia há anos: ouvir música no rádio.
Melhor dizendo, na TV. Há vários canais, cada um com um estilo diferente.
Comecei pelo jazz, mas achei que havia standarts e obviedades demais. Não que não fosse bom, mas é que já ouvi demais. Escutei uns seis temas e resolvi mudar.
Rock clássico. É, eu era tão garoto outro dia e agora ouço rock clássico, de 30, 40 ou 50 anos. Não me deixo abater por qualquer etarismo: foi e é bom demais.
Em pouco tempo, batem à porta sonora "This is not America" com David Bowie, "Afterglow" do Genesis, "Passion" com Rod Stewart e "Fake plastic trees" do Radiohead. Fui e voltei nos tempos. O de escoteiro, o do começo da faculdade, a adolescência. O tempo dos LPs na casa do saudoso Fredão com o também inesquecível Luiz Magno. As garotas no sofá da sala escutando música encostadas nos nossos ombros.
Então vem o Soul Asylum com "Runaway Train" e só de pensar nos anos 1990 me vem uma pequenina lágrima de alegria. Tudo aquilo está distante para sempre, mas basta tocar uma canção e logo você se lembra de toda uma época.
@p.r.andel
No comments:
Post a Comment