Ouço música diariamente, no trabalho e em casa. É assim há muitos anos. Geralmente faço minha programação particular onde o cast possui 360 graus de amplitude, indo de Cauby Peixoto a Sepultura, Tom Zé a Radiohead, Almir Guineto a United Future Organization, Fevers a Brand New Heavies.
Passei a sexta no trabalho ouvindo Ed Motta, neste domingo também. Eu o vi começando a carreira já monstruoso e seu trabalho só melhorou com o tempo, notadamente influenciado pelo Steely Dan, que é uma das instituições estadunidenses da música - embora Donald Fagen, o próprio SD com a morte de seu parceiro Walter Becker - já tenha dito que detesta bossa nova. Eu adoro e ponto. Viva São João Gilberto e São João Donato, que acabou de partir mas deixou uma carreira fantástica, repleta de álbuns sensacionais.
Volto ao Ed. Algumas falas deturpadas fizeram com que o cantor colecionasse haters nas redes sociais, fruto desse ódio delivery que vivemos. E, claro, a tradicional hipocrisia dos puristas que adoram apedrejar os outros. O mais importante de tudo deveria ser seu trabalho musical, que é riquíssimo com 35 anos de carreira e muita qualidade.
[pausa por motivo de força maior]
Domingo, perto da meia noite, o mundo em agonia plena porque lá vem a segunda-feira, passo pelo documentário sobre Sidney Magal na GloboNews. Algumas falas bem interessantes. Mas fico de olho porque vai começar o Canal Livre e eu sempre espio o entrevistado.
Meia noite em ponto e acontece a cena mais inesperada da TV brasileira em anos: anunciam o nome do entrevistado. Geraldo Vandré. O quê? É isso mesmo? É!
[volto em seguida depois desse natural Impacto]
Ed Motta me remete ao começo da faculdade em 1988. Vi um show dele por lá. Era também o tempo da estreia de Marisa Monte, os dois fizeram um belo dueto em "Ainda lembro", segundo álbum da cantora. Os Titãs voltavam à tona com o álbum "O blesq blom". Os Paralamas arrasavam com a sonoridade latina de "Bora Bora". A Legião Urbana lotava estádios. Ciente do fim, Cazuza acelerava novos trabalhos, que iam da bossa de "Faz parte do meu show" ao protesto vigoroso de "Burguesia". De 1987 a 1990, isso foi uma pequena amostra.
E de fora? Vieram ao Brasil The Cure, Metallica, Supertramp, Pretenders, Simply Red, Simple Minds, UB40, Tears for Fears, Terence Trent D'arby, Eurythmics, Bob Dylan, David Bowie, Eric Clapton, Paul McCartney, Oingo Boingo, muita gente importante. Com um verdadeiro furacão em fins dos anos 1980, a década de 1990 prometia muito. Musicalmente falando, um grande tempo.
[para não dizer que não falei da incrível aparição de Geraldo Vandré na TV]
Apesar dos experientes entrevistadores do Canal Livre, o programa não deve ter sido dos mais fáceis. Ao mesmo tempo em que muitas pessoas admiram Vandré, suas respostas são lacônicas, evasivas e dão a impressão de que alguma coisa está fora da ordem, para não dizer de omissões. Mesmo assim, alguns momentos são engraçados até. Pela primeira vez, vi o grande artista falar após 45 anos de espera. A reprise da entrevista me será útil para tirar várias dúvidas.
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