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Wednesday, May 26, 2021

UERJ

Entre maio de 1988 e março de 1996, vivi mais tempo na UERJ do que em minha casa e meus ambientes de trabalho. 

Foram anos incríveis, que mudaram minha vida para sempre. Não somente pela minha formação acadêmica - até hoje tento entender como consegui aprender aquilo -, mas pela formação de vida, de cidadão, de politização, de tudo. 

Na UERJ, você vive o conceito de universidade como nunca: está na Matemática, sobe uma rampa e lancha com os futuros advogados; desce outra e debate com os futuros engenheiros. Entra no elevador e encontra o camarada da História, a gata da Educação Física, a gataça da Psicologia, os caras maneiros da Física. É tudo junto e misturado. Nos tempos das Olimpíadas era um barato total. 

Num segundo, foi na UERJ que conheci direito David Lynch, Hector Babenco, Tunga, Hemingway, João Antônio, Gerald Thomas, Plínio Marcos, João do Rio, Alan Parker, Tom Waits, Nick Cave, Jack Kerouac, Neil Young, Leonard Cohen, Basquiat e todo o jazz. 

Sentado no banco da concha, vi Paulinho da Viola, Victor Biglione, Gilberto Gil, Ed Motta, a imortal Cássia Eller. Assisti "Veludo Azul" e "Ironweed". Dei beijos também, faz parte do jogo. 

No Teatrão, ainda inacabado, aplaudi a Cássia também (dois shows dela!), o Ney Matogrosso, a Leila Pinheiro (quase compramos um buquê de flores pra ela, mas as garotas do CA não se conformaram e desistimos), Fernanda Abreu, Vinícius Cantuária, Raphael Rabello e um certo Tom Jobim. 

No auditório, fiquei cara a cara com Luiz Carlos Prestes. Só. 

Eu já conhecia a Tijuca, mas a proximidade da UERJ me levou a seus cinemas, ao Café Palheta (onde celebrei minha colação de grau com a Diniz e a fantástica Conceição), às ruas e aquilo se multiplicou pelo Grajaú e Vila Isabel. Atravessei tardes e noites em suas calçadas. Virei freguês do Capelinha, outrora frequentado por um certo Noel Rosa. 

Meu amor morava ao lado: o Maracanã, aquele velho Maracanã de gente simples e jogos imortais. Descer o elevador com caderno e prancheta, atravessar a rua, comprar o ingresso e entrar no mundo dos sonhos.

A convivência e os amigos da UERJ me levaram a outros shows fora de lá, do Oingo Boingo a Bob Dylan! Senhor, eu tinha 21 anos e estava lá. 

Eu era um garoto pobre e desesperado, queria estudar e conseguir um emprego para ajudar minha família. O governo fazia de tudo para não passar os recursos para UERJ. Sabotavam tudo. Ficamos nervosos, fomos à Alerj e rolaram as pedras. Faz parte do jogo. Um dia eu vou fazer um lançamento de livro lá. 

Saí da UERJ como um profissional formado e um jovem homem muito melhor do que entrei. Nunca fui doutrinado por ninguém e nem precisava: a política eu aprendi em casa. É claro que a esquerda predominava: onde tem intelectualidade de verdade, ela está, queiram ou não. 

Tive professores maravilhosos. Outros, competentes. Outros, não. É universidade, é parte do processo. 

Quando me formei, me senti tão órfão que, depois de desistir do mestrado, passei para Matemática só para ter um vínculo, prolongar o bis de um lindo show que estava no final. Um dia tive que sair, mas a UERJ nunca mais saiu de mim e ela está nos meus atos, falas e textos. Ela vive. 

Conheci jovens homens e mulheres da pesada, que carrego comigo até hoje. Vivi situações hilárias e dramas. Aprendi coisas demais. Não saí apenas como um estatístico, mas também como um escritor que se consolidaria mais tarde. Talvez a UERJ seja o melhor livro que ainda não escrevi, mas estão rolando os dados. Sem ela, eu jamais teria conseguido melhorar o padrão de vida da minha saudosa família. 

A minha pequena história é a história de milhares e milhares e milhares de jovens que, um dia, perseguiram um sonho e conseguiram: o de estar numa das melhores escolas do país, dentro e fora de sala, intensamente. Isso, nenhum babaca fascista vai destruir. Tenho certeza de que, muitas décadas depois da minha morte, a UERJ seguirá firme, ajudando a combater a injustiça social por meio da Educação. 

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P. R. Andel, 52 anos, estatístico formado em 1994, autor de 31 livros, comerciante, editor, colaborador regular de jornais e sites. Brasileiro. Carioca. Passou pela UERJ e pela UFRJ.

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