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Monday, February 10, 2014

cães de aluguel, jards e cazuza

cães de aluguel

precisa-se de cães de aluguel
fortes, densos, mortíferos e vis
ideais para uma sociedade de fé
- não precisamos de leis - a lei é o caralho - leve o coitadinho para você
- isso tem mais que morrer
precisa-se de cães de aluguel
fiéis às desumanidades, sempre alertas para morder, ceifar, matar
o que fazer com nossa hipocrisia?
eis ipanema que precisa brilhar à noite e as manchetes do flamengo precisam ser reluzentes
foda-se a lei quando o dinheiro é poder - deixem-nos usar nossos smartphones em pax - glória a deus nas alturas - cada um por si e que o outro si foda-se 
- não fui eu quem fez o mundo assim
vamos prender nossos escravos nus - tragam o açoite - enfiem no rabo 
- eles têm que morrer sofrendo, há justiça
nossos cachorros mais agressivos
casa, comida e ódio nos peitos fortes
cores de mussolini, cenas de médici, risos debochados
tortura, pau-de-arara, choques elétricos, estupro e agonia
que tal aplaudir uma piranha fascista vociferando na televisão? 
o crime virou apenas exercício da liberdade de expressão
o aparelho mora numa calçada
o inimigo é negro e pobre, analfabeto
os punhos cerrados são ordem e progresso, tradição, família e propriedade
os foguetes têm religião e explodem sem dó a cabeça de inocentes
crianças das marquises já nasceram delinquentes
e a estupidez à vista é a revista do egoísmo ao caos
os comunistas são os imbecis
espertos liberais com sorrisos de luar, pasta de dólares, sonegação
e todo são domingo deus irá nos perdoar
a ironia do destino dá-nos nojo de dois ratos enquanto matamos por prazer, superioridade e empáfia num mundo com leis - só para os miseráveis

@pauloandel



só morto - jards macalé
Nessa manhã de louco/ O olho do morto/ Reflete o fogo/ Nessa manhã de louco/ Todo mistério é pouco/ Pedras rolam pro mar/ Nessa manhã de louco/ Todo mistério é pouco/ Nessa manhã de louco/ Todo mistério é pouco/ Espuma de sangue a brilhar/ Nessa manhã de louco/ Todo mistério é pouco

Esse sol tão forte/ É um sol de morte/ Esse sol tão forte/ De mil mortes/ Esse sol/ Há quanto tempo/ Eu não via/ Um dia.../ Um dia.../ Tão bonito, tão.../ Tão maldito, tão.../ Um dia.../ Um dia.../ Oh, see the city lights/ I never seen you so bright/ Let this burning/ Let this burning/ Burning night


burguesia - cazuza

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica 
Enquanto houver burguesia  não vai haver poesia
A burguesia não tem charme nem é discreta  com suas perucas de cabelos de boneca 
A burguesia quer ser sócia do Country 
A burguesia quer ir a New York fazer compras 
Pobre de mim que vim do seio da burguesia 
Sou rico mas não sou mesquinho 
Eu também cheiro mal 
Eu também cheiro mal 
A burguesia tá acabando com a Barra 
Afunda barcos cheios de crianças 
E dormem tranqüilos 
E dormem tranqüilos 
Os guardanapos estão sempre limpos 
As empregadas, uniformizadas 
São caboclos querendo ser ingleses 
São caboclos querendo ser ingleses 
A burguesia fede 
A burguesia quer ficar rica 
Enquanto houver burguesia  não vai haver poesia 
A burguesia não repara na dor  da vendedora de chicletes 
A burguesia só olha pra si  A burguesia só olha pra si 
A burguesia é a direita, é a guerra 
A burguesia fede 
A burguesia quer ficar rica 
Enquanto houver burguesia  não vai haver poesia 
As pessoas vão ver que estão sendo roubadas
Vai haver uma revolução  ao contrário da de 64 
O Brasil é medroso 
Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia 
Vamos pra rua  Vamos pra rua  Vamos pra rua  Vamos pra rua  Pra rua, pra rua 
Vamos acabar com a burguesia 
Vamos dinamitar a burguesia 
Vamos pôr a burguesia na cadeia numa fazenda de trabalhos forçados 
Eu sou burguês, mas eu sou artista - estou do lado do povo, do povo 
A burguesia fede - fede, fede, fede 
A burguesia quer ficar rica 
Enquanto houver burguesia 
Não vai haver poesia 
Porcos num chiqueiro 
São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês 
Que vive do seu trabalho honestamente 
Mas este quer construir um país  e não abandoná-lo com uma pasta de dólares 
O bom burguês é como o operário 
É o médico que cobra menos pra quem não tem  e se interessa por seu povo 
Em seres humanos vivendo como bichos 
Tentando te enforcar na janela do carro  No sinal, no sinal  No sinal, no sinal 
Enquanto houver burguesia  não vai haver poesia

1 comment:

Pedro Du Bois said...

Caro Andel, pertinentes textos sobre nosso Brasil (brasil?). Somos os mesmos, como nossos pais, já disse o Belchior. O que as pessoas não entendem - nem querem entender - é que o sistema é esse, abominável. O restante - como bem você, Jards e Cazuza disseram - é mera perfumaria (pra esconder o fedor dos de sempre).
Abraços,
Pedro.