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Wednesday, February 05, 2014

o amor

Caetano Veloso
(sobre um poema de Vladimir Maiakovski) 

Talvez quem sabe um dia 
Por uma alameda do zoológico 
Ela também chegará 
Ela que também amava os animais 
Entrará sorridente assim como está 
Na foto sobre a mesa 
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão 
O século trinta vencerá 
O coração destroçado já 
Pelas mesquinharias 
Agora vamos alcançar 
Tudo o que não podemos amar na vida 
Com o estelar das noites inumeráveis 
Ressuscita-me ainda que mais não seja 
Porque sou poeta 
E ansiava o futuro 
Ressuscita-me 
Lutando contra as misérias do cotidiano 
Ressuscita-me por isso 
Ressuscita-me 
Quero acabar de viver o que me cabe 
Minha vida para que não mais existam amores servis 
Ressuscita-me para que ninguém mais tenha de sacrificar-se 
por uma casa, um buraco 
Ressuscita-me 
Para que a partir de hoje 
A partir de hoje 
A família se transforme 
E o pai 
Seja pelo menos o Universo 
E a mãe 
Seja no mínimo a Terra 
A Terra 
A Terra 

@pauloandel

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