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Friday, February 03, 2012

Para ver, ouvir, ler e respirar






Abujamra, sobre texto de Ruy Castro

 
A velha Hollywood nos ensinou que tudo nos EUA era maior, melhor, mais limpo, justo, ético, honesto, adulto, moderno, eficiente e perfeito do que nos outros países. Também pudera - os americanos eram o povo mais bonito, forte, corajoso, engenhoso e talentoso do mundo. Onde mais as pessoas saíam cantando e dançando pelas ruas com naturalidade e ao som de uma enorme orquestra invisível?
 
E quem cavalgava melhor e tinha os cavalos mais velozes? O cowboy americano. Não havia índio ou mexicano que o capturasse, exceto à traição, coisa que, aliás, eles viviam fazendo (e de que o cowboy americano era incapaz). O mesmo se aplicava ao soldado americano em relação aos alemães e japoneses -quem era o mais heroico, o mais desprendido, o mais inteligente? E a Marinha americana? Quem tinha porta-aviões mais imponentes? Quem usava camisas de manga curta mais brancas? E quem mais tinha milhares de marinheiros que sabiam sapatear?

Nos filmes, víamos maravilhas que faziam parte do dia a dia dos americanos e de ninguém mais: cerveja em lata, barbeadores elétricos, cortadores de grama, trevos rodoviários (filmados de avião), edifícios de 90 andares e naves que iam à Lua e voltavam. E quem seria mais poderoso que o governo dos EUA, capaz de movimentar estruturas gigantescas para plantar um exército inteiro em território inimigo a 15 mil km e resgatar um espião a minutos de ser descoberto?

Todas essas eram benesses do poder e da riqueza. De repente, fico sabendo que o dinheiro no caixa do Tesouro americano vai acabar na terça-feira e que a Casa Branca, com uma dívida de US$ 14,3 trilhões, ameaça dar o beiço no mundo.

Inacreditável. Como pode o governo americano quebrar? Se acontecer, quem vai pagar a conta da lavanderia que mantinha as camisas tão brancas?

2 comments:

Carlos Augusto Machado said...

É... O problema da velha Hollywood não foi ter sido pródiga em criar ficções - a literatura mundial está cheia delas; o problema da velha Hoolywodd foi fazer muitos acreditarem que tais ficções eram a mais pura verdade.

Pedro Du Bois said...

Caríssimo Andel, bom ter esse texto como reflexão. Pensando bem, sempre soubemos que tudo não passava de ficção, no entanto, nela fomos moldados. Por isso, até hoje - e até quando - acreditamos mais na ficção do que na realidade (que só percebemos quando bate à nossa porta, geralmente como notícia ruim). Abraços, Pedro.